Por Adriana Ramalho
No campo de terra batida de uma comunidade da periferia de São Paulo, o apito soa e o jogo começa. Mas ali, mais do que gols, o que se marca são oportunidades. O esporte tem sido uma poderosa ferramenta de transformação social, especialmente para pessoas em situação de vulnerabilidade. Jovens negros, meninas da periferia, pessoas com deficiência e em situação de rua têm encontrado nas quadras, nos tatames e nas pistas um caminho possível para a cidadania e a dignidade.
O esporte é previsto como direito constitucional no Brasil, mas sua presença efetiva nas políticas públicas ainda é desigual. Programas como o Segundo Tempo, do Governo Federal, e o Virando o Jogo, em algumas capitais, buscam integrar o esporte à vida de crianças e adolescentes em risco social, oferecendo estrutura, acompanhamento e atividades regulares. Quando bem aplicadas, essas ações são capazes de reduzir índices de evasão escolar, violência e uso de drogas.
“O esporte ensina disciplina, respeito, cooperação e persistência. Para quem vive em contextos de vulnerabilidade, essas lições ganham ainda mais valor”, afirma Luciana Almeida, assistente social e coordenadora de um projeto esportivo para jovens em situação de acolhimento institucional.
Iniciativas que mudam vidas
No bairro do Capão Redondo, o projeto Lutando pela Vida oferece aulas gratuitas de jiu- jitsu para crianças e adolescentes. Genival Ivo, faixa preta e presidente da Federação Paulista de MMA, é o responsável pela iniciativa. Ele mesmo saiu da vulnerabilidade graças ao esporte. “Comecei por causa da timidez. O tatame me deu confiança, e agora posso retribuir oferecendo isso a outros jovens.”
Outro exemplo inspirador vem do esporte paralímpico. Programas municipais que garantem transporte, materiais e acompanhamento técnico têm revelado talentos e promovido a inclusão de pessoas com deficiência, que encontram no esporte um espaço de reconhecimento, superação e pertencimento.
Desafios e avanços
Apesar dos avanços, especialistas alertam: ainda há muito a ser feito. A falta de infraestrutura, de profissionais capacitados e de continuidade nos programas é um entrave constante. “O problema é que muitas iniciativas são descontinuadas com a troca de governo, sem planejamento de longo prazo”, explica o professor e pesquisador em políticas públicas Marcos Diniz.
A integração entre esporte, educação, saúde e assistência social é apontada como caminho estratégico. Quando articuladas, essas áreas formam uma rede de proteção real para quem mais precisa.
Investir em esporte não é apenas incentivar campeões. É promover inclusão, saúde mental, autoestima e cidadania. É construir pontes para uma sociedade mais justa. Como afirma a ONU, o esporte tem o poder de promover o desenvolvimento sustentável, a paz e os direitos humanos. Nas mãos certas — e com políticas públicas consistentes — a bola pode, sim, mudar o jogo da vida de milhares de brasileiros.
Adriana Ramalho é bacharel em Direito, é Política (vereadora em SP 2016/2020), ativista social e palestrante sobre combate a violência doméstica, alienação parental, empreendedorismo feminino, e saúde mental.
Fonte: AL9 Comunicação
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
ANA MARIA DE SOUZA LOPES
[email protected]