“Lições da Pedra”, exposição da mineira Naira Pennacchi com curadoria de Mario Gioia chega ao Museu Fama neste sábado (12/7)

A exposição traz telas, vídeos e instalações. Na sexta-feira, 11/7, a partir das 19h, haverá visita guiada gratuita com a artista e o curador. Na quinta-feira (17/7) acontece a noite de autógrafos do livro homônimo com bate-papo na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo, com Bianca Dias e Ana Avelar

LAILA ABOU MAHMOUD
10/07/2025 01h04 - Atualizado há 5 dias

“Lições da Pedra”, exposição da mineira Naira Pennacchi com curadoria de Mario Gioia chega ao Museu Fama
Divulgação

A artista mineira Naira Pennacchi, hoje residente entre Ribeirão Preto e Lisboa, realiza a primeira itinerância de sua exposição Lições da Pedra, com curadoria de Mario Gioia. Ela chega agora ao Museu Fama, em Itu, a partir de sábado, 12/7, a partir das 11h. Na mostra, mais de 30 trabalhos da artista, muitos deles inéditos, apresentam olhares de Naira sobre as realidades interioranas e a pesquisa sobre a ancestralidade em diversos suportes e trabalhos, em sua maior parte inéditos. Na quinta-feira, 17 de julho, acontece na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo, o lançamento do livro homônimo organizado por Mario Gioia que reúne toda sua produção até o momento, com textos de Ana Avelar e Bianca Coutinho Dias, pela editora WMF Martins Fontes. Haverá bate-papo da artista o os críticos e a entrada é franca. 

Naira é natural de Jacutinga e navega por diversas cidades do interior, como Jaú e sua cidade natal, onde possui parentes. “Sou do interior de Minas Gerais e hoje moro na cidade grande, entre Ribeirão Preto e Lisboa, mas retorno para esses lugares pois eles são faíscas que viram chamas para minha criatividade e minha produção artística”, afirma a artista. 

Entre a produção em pinturas presentes na exposição, estão as características telas nas quais Naira deposita pigmentos endurecidos, próximos a sua validade, sobre chassis montados com teleiros (elemento muito presente em diversos contextos da vida rural) de modo a quase realizar um ponto-cruz de tinta sobre esses vazios, criando uma tecitura de cores e paisagens que agregam elementos pictóricos e abstratos às paisagens que compõe. 

A série que dá nome à exposição, “Lições da Pedra”, é inédita e conta com vídeos, objetos, instalações escultóricas e sonoras. O limiar do ritual e da performance, os limites das moradias, todos esses conceitos vão sendo borrados e reconhecidos no trabalho de Naira. “Tudo começou com João Cabral de Melo Neto e a ‘Educação Pela Pedra’. O livro era muito incompreensível para mim, mas eu queria muito ler. E nesse momento eu li o livro em 15 dias três vezes. Muitos dos títulos dos trabalhos são trechos ou versos do livro. O Sertão, seja ele de Minas Gerais, do Piauí, ou de Portugal, esse sertão no sentido mais amplo de um interior, é um só”, pondera Pennacchi. Naira segue com a pesquisa sobre os saberes ancestrais no próximo ano e tem projetos para realizar esse levantamento também do lado de lá do oceano.

O interesse pelo futuro ancestral vem desde criança. “Tinha sede em participar e rever as tradições e saberes populares que já não se encontram mais no interior de Minas Gerais, mais precisamente em minha cidade natal, Jacutinga. A cartografia desse meu interesse foi despertada pela convivência com meus pais, avós e comunidade local, rural e urbana de onde nasci e cresci”, diz. Naira é neta de bordadeira, de onde herda as artes têxteis que integram elementos de seus trabalhos, e teve contato com as obras do pintor, o desenhista, pintor, muralista e ceramista ítalo-brasileiro Fulvio Pennacchi, que foi integrante do Grupo Santa Helena, juntamente com Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, ainda na infância, como o sobrenome pode atestar. 
 

Rituais como benzimento praticado por Dona Merô, anfitriã de Naira e uma das poucas benzedeiras vivas e muito solicitada na região; ceramistas de barro que transformam matéria bruta em obras de arte enquanto contam histórias e preservam memórias; casas de farinha nas quais a mandioca vira farinha. É no trabalho repetitivo e conectado ao ancestral que a artista constata que moram também percursos que guardam estratégias de preservação ambiental - e que reverberam nos vídeos que integram a exposição, todos eles feitos no Piaui. “Foi no Piauí que tive o privilégio de encontrar tudo aquilo que procurava, prestes a desaparecer em alguns anos, uma vez que a nova geração não se interessa mais em dar continuidade a muitas destas práticas, como mulheres raizeiras do cerrado, que provocam o repensar de ideias convencionais de território, já que coletam e manejam as paisagens repletas de plantas medicinais para a cura de doenças do corpo e da alma”, afirma. 

Naira participou de muitos destes trabalhos-rituais, como o de benzimento, minutos a fio recebendo orações por sua poderosa palavra através de gestos e instrumentos e os transformou em sua arte. “O corpo enquanto território das experiências cotidianas tece nas culturas das sociedades um repertório em constante construção”, aponta a artista. “Todas estas atividades são praticadas por mulheres, mestras detentoras de sabedorias ancestrais geradas em ventres, terras, águas, fogos e céus”, conclui. Das inúmeras obras produzidas, estarão presentes na exposição que passou por Botucatu e segue depois para Ribeirão Preto, os vídeos Faca Amolada, Mulher Vestida de Gaiola e Basalto.


Livro traz retrospectiva de 10 anos de seu trabalho

Celebrando seus dez anos de carreira, Naira Pennacchi realiza na quinta-feira, 17 de julho, o lançamento do livro homônimo organizado por Mario Gioia que reúne toda sua produção até o momento, com textos de Ana Avelar e Bianca Coutinho Dias, pela editora WMF Martins Fontes. Na ocasião acontece um bate-papo entre Gioia, Avelar e Dias a partir das 19h. 

A obra reúne sua produção até o atual momento, composta por esculturas, instalações e pinturas. Diversos suportes e diversas fases de um trabalho que segue se expandindo em novas pesquisas, agora em itinerância pelo estado de São Paulo ao longo do ano com a individual “Lições da Pedra”, que passou pela cidades de Botucatu, estará em cartaz em Itu a partir de 12/6 e em dezembro segue para Ribeirão Preto.

Nas palavras de Ana Avelar no texto que integra a edição, o trabalho de Naira une “figurações barroca, rural mineira e desejo de abstração”, numa linguagem e uso da cor que evocam as gramáticas de Matisse e Cristina Canale, só para citar duas das influências mais evidentes. 

Para Bianca Coutinho Dias, que assina um texto com um olhar que passa pela psicanálise, “são paisagens internas, de um interior que pode ser de casa, da cultura caipira, ou paisagens de uma instância afetiva, psicológica e subjetiva”, delineia. “A aparição acontece não como representação, mas como enigma”, completa. Psicanalista, a crítica de arte também chama a atenção para sua “paleta carregada de pulsação própria, como se sua cor convoasse outras, numa atmosfera imersiva de sonho e delírio”.

Ainda na perspectiva da crítica em texto presente no livro, nas obras presentes em seu trabalho, seja em telas, objetos ou vídeos, “há um fricção entre a figuração barroca rural e mineira”, presente nas imagens recorrentes de sua infância em Jacutinga, cenário rural, como galos e teleiros que servem de base para os pigmentos densos que criam quase relevos nas composições, “um jogo entre interior e exterior, memória e transmissão”.

Serviço:
Exposição Lições da Pedra
Abertura: 12 de junho, sábado
Horário da abertura: a partir das 11h
Local: Museu FAMA - r. Padre Bartolomeu Tadei, 09 - Alto, Itu - SP
Estacionamento: Rua Doutor Graciano Geribello, 133 – Bairro Alto – Itu/SP
Telefone: (11) 97694-8470
Horário de Funcionamento: Quarta a domingo, das 11h às 17h
Ingressos: R$ 50 (inteira) - até o dia 30 de julho, todos os visitantes pagam meia
Entrada grátis às quartas-feiras
Crianças até 10 anos, idosos acima de 60 anos, pessoas com deficiência (PCD) e museólogos (mediante apresentação do COREM) têm entrada gratuita.

Bate-papo de lançamento do livro Naira Pennacchi
Data: 17/7, quinta-feira
Horário: 19h
Local: Livraria da Vila - Rua Fradique Coutinho, 915 - Vila Madalena, São Paulo, SP
Telefone: 3814-5811
Entrada franca


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