Brasil ainda enfrenta obstáculos para acelerar a mobilidade elétrica nos próximos anos

Apesar do crescimento do setor, desafios como infraestrutura e regulação travam adoção em larga escala; especialista aponta caminhos para o avanço sustentável

PEDRO SENGER
08/07/2025 22h11 - Atualizado há 13 horas

Brasil ainda enfrenta obstáculos para acelerar a mobilidade elétrica nos próximos anos
Divulgação

A mobilidade elétrica avança no Brasil, mas ainda enfrenta entraves que limitam sua expansão. Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que o país ultrapassou a marca de 300 mil veículos eletrificados em circulação no primeiro semestre de 2025, com crescimento de 91% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do ritmo promissor, o número ainda representa menos de 1% da frota total brasileira, o que revela um enorme espaço para desenvolvimento – e também os desafios que persistem.

Entre os principais obstáculos está a infraestrutura de recarga, ainda concentrada nas regiões Sudeste e Sul e com presença reduzida em rodovias. Isso compromete a segurança do usuário em viagens mais longas e reforça a percepção de que o carro elétrico é uma opção restrita aos centros urbanos. "A infraestrutura vem crescendo, mas de forma desigual. A ausência de pontos em rodovias ainda limita a confiança do consumidor e restringe o uso mais amplo do veículo", afirma Bernardo Durieux, CEO da VoltBras, empresa referência em soluções tecnológicas para a gestão de estações de recarga.

Além da infraestrutura, fatores culturais também pesam. Mitos como a baixa autonomia, necessidade de recarga diária ou o "vício" da bateria ainda são comuns entre consumidores. Segundo Durieux, a falta de informação confiável atrasa a adesão de novos usuários. "O brasileiro ainda tem dúvidas básicas sobre o carro elétrico. Mas quem testa o modelo dificilmente volta atrás. É uma barreira que pode ser superada com educação e experiência prática", diz.

Outro ponto sensível é o ambiente regulatório. Especialistas apontam que o Brasil carece de políticas públicas mais claras e coordenadas para fomentar a eletrificação da frota. Embora haja incentivos pontuais, como isenção de IPVA em alguns estados, ainda não existe uma estratégia nacional robusta. "É preciso ir além dos incentivos fiscais. A regulação precisa oferecer segurança jurídica, padronização técnica e metas claras, especialmente para frotas públicas e empresariais", defende Durieux.

Nesse cenário, o setor privado tem desempenhado um papel relevante na formação do ecossistema. A demanda crescente por soluções tecnológicas para operação de pontos de recarga, integração entre sistemas e modelos de negócio sustentáveis tem impulsionado startups, investidores e grandes empresas a atuar no segmento. "Existe capital disponível e interesse no setor, mas ainda falta clareza regulatória para destravar esse potencial", pontua o especialista.

A eletrificação da frota também pode trazer ganhos ambientais significativos, principalmente em áreas urbanas. Veículos elétricos são mais silenciosos e não emitem poluentes locais, o que contribui para a melhoria da qualidade do ar e da saúde pública. "Em um país com matriz elétrica predominantemente limpa, como o Brasil, o impacto positivo é ainda maior", destaca Durieux. Atualmente, mais de 80% da energia elétrica brasileira é gerada por fontes renováveis, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Embora ainda em estágio inicial, o interesse da população vem aumentando. De acordo com um levantamento da McKinsey & Company, mais de 60% dos brasileiros consideram adquirir um veículo elétrico nos próximos anos. Para que esse desejo se traduza em adoção efetiva, especialistas apontam que será necessário alinhar infraestrutura, incentivos e informação. "Estamos no caminho certo, mas com velocidade abaixo do necessário. A transição energética na mobilidade exige ação coordenada entre governo, empresas e sociedade", conclui Durieux.


 

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PEDRO GABRIEL SENGER BRAGA
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