Exposição em SP discute território, arte e pertencimento a partir do olhar periférico
Mostra Traços Periféricos destaca a força estética e social do graffiti produzido por artistas das periferias de São Paulo
MARIANA MASCARENHAS
24/06/2025 20h33 - Atualizado há 2 dias
Obra de Snamps
A arte tem o poder de transformar o olhar. É com esse convite que a exposição Traços Periféricos chega à Casa Vitrola, em Pinheiros (SP), para fazer o público atravessar os limites simbólicos e geográficos da cidade. Com abertura marcada para o dia 25 de junho, às 18h, a mostra reúne obras de oito artistas oriundos de diferentes periferias: Kari, Mota, Caio, Quel, Simo, Dumeen, Snamps e Fany. A curadoria de Ceres Macedo e Nego Todd propõe um percurso que pulsa o cotidiano da quebrada: o ônibus lotado, o improviso, a luta por moradia, a beleza nos detalhes, o baile de rua. É arte que não apenas representa, mas nasce da vivência, atravessa as ruas e rompe com os limites impostos pelo centro. É o que se vê nos traços e cores do graffiti, linguagem que ocupa um papel central nesta exposição. “Mais do que arte pela arte, cada traço carrega histórias, resistências e afetos”, afirmam os curadores. “Aqui, a periferia não é observada de fora, mas se apresenta com voz própria — um olhar de dentro pra fora.” Esse sentimento ecoa com força no depoimento da artista Raquel Vieira Sanchez, a Quel, que reflete sobre o sentido de pertencimento provocado pelo graffiti. Para ela, a exposição toca em um lugar profundo de pertencimento e também de denúncia silenciosa sobre os limites invisíveis que segregam a cidade. “Apesar de vivermos aqui, ocupando diversos espaços, a gente não se sente pertencente em alguns bairros por uma questão de classe social, de racialidade, de território. E o graffiti, quando ocupa esses espaços, nos acolhe”, diz Quel. Ela destaca que o impacto visual do graffiti, em regiões onde ele não é esperado, quebra o conforto e provoca reflexão: “A arte floresce do impacto. Quando vejo um graffiti em um bairro que aparentemente me afasta, isso me remete à minha história, ao meu bairro. Isso gera um choque estético, social e até mental em quem vive em lugares de privilégio, porque a presença do nosso traço está ali, e não pode ser ignorada”. Para Quel, a exposição tem ainda um sentido coletivo: “Claro que me sinto feliz por estar ali como artista, mas a real força está no coletivo. É um movimento de ocupação, de presença, que gera um encontro de dois mundos. A arte periférica tem muito a dizer, e aqui, ela está dizendo — com força e beleza.” Quem também sente essa potência é Jefferson Lima Andrade, o Snamps, artista que não esperava estar em uma galeria nesse momento, mas reconhece o significado da oportunidade: “A gente, como é do gueto, da favela, nem sempre tem essas chances. Quando chega, a gente tem que abraçar. Não só por nós, mas por quem está vindo. A favela tem muito conceito, muito talento. A gente pode ocupar esses espaços não só como mão de obra, mas como artista, como referência.” A mostra fica em cartaz na Casa Vitrola até o dia 26 de julho. SERVIÇO
Exposição Traços Periféricos
Abertura: 25 de junho (quarta-feira), às 18h
Casa Vitrola – Rua Artur de Azevedo, 1902 – Pinheiros – São Paulo/SP
Visitação: 26 de junho a 26 de julho
Segunda a sábado, das 11h30 às 15h e das 17h às 22h
Artistas: Kari, Mota, Caio, Quel, Simo, Dumeen, Snamps e Fany
Curadoria: Ceres Macedo e Nego Todd
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MARIANA DA CRUZ MASCARENHAS
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