O Clube de Leitura “Mãe Leva Outra” se prepara para um mergulho no universo de “Soroca”, romance de estreia da escritora e jornalista Angela Marsiaj. Em seu encontro mensal, via Google Meet, no dia 30 de junho, às 19h, as participantes vão tratar do romance em si – seus personagens, a trama baseada na trajetória de mulheres de hoje e do passado, e a linguagem polifônica – além de tocar em questões que compõem o pano de fundo do livro, como a maternidade, a violência, a escravidão, a ancestralidade e o colapso ambiental.
Publicado pela Editora Urutau, "Soroca" é uma narrativa potente que atravessa tempos histórico-afetivos, convidando os leitores a um mergulho nas complexas camadas das relações humanas e do nosso passado coletivo. A obra foi finalista do Prêmio Alta Books, e a autora tem contos publicados em diversas antologias e na Revista Pessoa, além de ter sido finalista dos prêmios SESC São Paulo 2018 (romance) e Kindle 2015 (conto). Durante a pandemia, Angela Marsiaj também compartilhou seu conhecimento literário e entrevistou autores na Cultura FM-SP.
Os interessados em participar do encontro do Clube de Leitura “Mãe Leva Outra” podem preencher o fomulário e ter mais informações aqui: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeXOMmdBQYBkyiq4uxeLcYWKLcJ7k487e8TD0YTzEHjE34hzA/viewform
"Soroca": Metáfora da realidade brasileira?
O título do livro, "Soroca", tem origem na palavra tupi sorok e designa uma "fenda no solo em razão de infiltração de água. No romance, a protagonista Petra, uma mãe, é tragada por uma soroca durante uma tempestade na capital paulista. Esse evento a lança em um vórtice entre a vida e a morte, confrontando-a com um passado mais vívido que o presente. A obra tece com singularidade um denso relacionamento entre mãe e filha, questões de ancestralidade indígena, o colapso ambiental das cidades, a maternidade em suas múltiplas manifestações e a violência que, mesmo parecendo superada, ressurge com força.
Violência ancestral: na ficção e na atualidade
Na ficção de Angela Marsiaj as questões indígenas originárias se encontram com o tema atual, e de séculos, da violência feminina. As evidências estão num estudo da USP publicado na revista Science em maio deste ano: 13% dos brasileiros têm DNA indígena, muito mais do que é registrado no censo de 2022 do IBGE. Este DNA, diz o estudo, foi transmitido quase exclusivamente por linhagem materna. Isso indica uma alta probabilidade de uniões não consensuais de brancos com mulheres indígenas, consumadas, portanto, na violência.
De igual modo, a menção a um rio canalizado de São Paulo, o Rio Verde, remete ao problema do colapso ambiental das cidades. A capital paulista, por exemplo, convive com centenas de quilômetros de cursos d'água soterrados. Esse processo de urbanização, como apontam estudos de universidades e órgãos ambientais, agrava problemas como enchentes – onde fenômenos como as "sorocas" se tornam visíveis e perigosos – e a perda de ecossistemas vitais. O livro destaca o fato de que, em algum ponto do século XX, o Rio Verde foi "rasgado em dois e enterrado".
Um trecho da obra: "Talvez se o engenheiro não tivesse falado da água que mina a terra, Petra não teria dito soroca e nem caído numa. Os indígenas não conheciam o asfalto, então asfalto não podia ter nome tupi. Mas o que tinha engolido a mãe de Joana era uma soroca e das grandes. Sorocabuçu."
Clube "Mãe Leva Outra": Um espaço de diálogo e reflexão
O romance "Soroca" aborda questões relevantes para o Clube "Mãe Leva Outra", como os complexos e, por vezes, densos relacionamentos entre mães e filhas, a ancestralidade e a maternidade em suas diversas manifestações. O clube de leitura tem se consolidado como um espaço seguro e criativo para mães e mulheres compartilharem vivências a partir da literatura. Criado como desdobramento da coleção homônima da Editora Urutau, o projeto se dedica a discutir temas urgentes da maternidade real e da condição feminina, agora também por meio da ficção.
O projeto é realizado por um grupo de escritoras-mães que se revezam na mediação, organização e divulgação. A proposta inclui:
Fazem parte da iniciativa as escritoras:
SERVIÇO
Clube de Leitura Mãe Leva Outra – Maternidade e Literatura
Encontro on-line mensal
FICHA TÉCNICA
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ALEX YAN DA COSTA MENDES
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