Como surgiram os cemitérios?

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TV PE
10/06/2025 10h41 - Atualizado há 1 semana

Como surgiram os cemitérios?
Imagem divulgação

No crepúsculo de uma tarde de outono, as alamedas arborizadas do Cemitério da Consolação, em São Paulo, sussurram histórias. As lápides, algumas tortuosas pelo tempo, outras polidas como espelhos, guardam não apenas nomes, mas fragmentos de uma civilização que aprendeu a reverenciar seus mortos.

Aqui, entre esculturas de Victor Brecheret e o colossal mausoléu da família Matarazzo, a pergunta ecoa: como surgiram os cemitérios? Por que esses espaços, chamados de necrópoles ou campos-santos, são considerados sagrados? E quem, em algum ponto da história, decidiu nomeá-los assim?

A origem dos cemitérios remonta a tempos imemoriais, quando os primeiros humanos começaram a atribuir significado à morte. A caverna Taforalt, no Marrocos, datada de 15.100 a 14.000 anos atrás, é considerada o mais antigo campo de sepulturas conhecido, abrigando 34 indivíduos iberomaurusianos. Diferentemente de valas comuns, esses locais indicavam uma intenção: preservar a memória dos falecidos, um traço que marcou o início do sedentarismo. Povos nômades, ao fixarem-se, escolhiam solos específicos para sepultar seus entes, muitas vezes acompanhados de utensílios e oferendas, transformando essas áreas em espaços de reverência.

A palavra “cemitério” carrega em si uma poesia etimológica. Derivada do grego koimeterion, que significa “dormitório”, passou ao latim como coemeterium, evocando a ideia de um lugar de repouso eterno. Na Bíblia, a morte é frequentemente comparada ao sono, como na passagem em que Jesus diz sobre Lázaro: “Nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo” (João 11:11). Essa metáfora ressoa em tradições judaicas, que chamam esses locais de Beit Olam (casa da eternidade) ou Beit Chaim (casa da vida), sugerindo continuidade além da morte.

Na Roma Antiga, a proibição de sepultamentos dentro da cidade, estabelecida pela Lei das XII Tábuas em 303 a.C., forçou a criação de necrópoles às margens das estradas. Essas áreas, inicialmente desordenadas, tornaram-se parte do tecido urbano com o crescimento das cidades. Já no final do século II, os cristãos, perseguidos, começaram a usar catacumbas como locais de sepultamento e culto, transformando túmulos em altares de oração. Durante a Idade Média, os campos-santos migraram para o entorno das igrejas, considerados solos consagrados que prometiam proximidade com o divino.

Mas por que esses espaços são vistos como sagrados?

A resposta está na interseção entre crenças espirituais e práticas sociais. Para os gregos, o solo onde os antepassados repousavam era protegido pelos Lares, espíritos familiares que garantiam a santidade do lar. No cristianismo, a consagração do terreno pelos ritos eclesiásticos reforçava a ideia de que os mortos aguardavam o Juízo Final em um espaço abençoado. Mesmo em culturas não cristãs, como no cemitério Wadi-us-Salaam, no Iraque, com mais de 5 milhões de sepulturas, a sacralidade é mantida por peregrinações anuais que honram os falecidos.

O século XIX marcou uma virada. Com o crescimento urbano e surtos de doenças, como cólera, os sepultamentos em igrejas foram proibidos por questões sanitárias. O Cemitério Père-Lachaise, em Paris, inaugurado em 1804, tornou-se o modelo do cemitério-jardim, projetado como espaço esteticamente agradável e afastado das cidades. No Brasil, o Cemitério da Consolação, fundado em 1858, seguiu essa tendência, substituindo enterros eclesiásticos por necrópoles públicas que combinavam arte e memória. Hoje, esses locais são museus a céu aberto, com esculturas e epitáfios que narram a história social.

Estatística em foco e o impacto ambiental dos cemitérios

Um aspecto menos romantizado, mas igualmente relevante, é o impacto ambiental dos campos-santos. Segundo a OMS, desde 1998, os cemitérios são reconhecidos como fontes potenciais de poluição devido ao necrochorume, um líquido gerado pela decomposição de corpos, que pode contaminar lençóis freáticos. No Brasil, o CONAMA (Resoluções 335/2003 e 368/2006) estabeleceu normas para mitigar esses riscos, exigindo impermeabilização de sepulturas. Estima-se que cada quilo de massa corporal gere 0,6 litro de necrochorume, o que, em um cemitério com 10.000 sepulturas, pode resultar em milhares de litros de resíduos potencialmente perigosos.

Tipo de cemitério

Características

Exemplos no Brasil

Horizontal

Sepulturas subterrâneas, túmulos ornamentados, valor histórico

Cemitério da Consolação (SP), São João Batista (RJ)

Vertical

Gavetas empilhadas, otimização de espaço

Cemitério Vertical de Curitiba

Jardim/Parque

Áreas verdes, jazigos subterrâneos com placas discretas

Cemitério do Morumbi (SP), Jardim da Saudade (BA)

A modernidade trouxe novos formatos. Cemitérios-parque, como o Jardim da Saudade, em Salvador, priorizam a integração com a natureza, enquanto cemitérios verticais, como o de Curitiba, atendem à escassez de espaço urbano. A cremação, por sua vez, ganha força como alternativa sustentável, reduzindo o impacto ambiental e refletindo preocupações contemporâneas.

Para o visitante de primeira viagem, os cemitérios oferecem uma janela para a história e a arte, como no roteiro Arte Tumular do Cemitério da Consolação, que atrai curiosos e estudantes. Para quem busca compreender, esses espaços revelam a evolução das crenças e práticas sociais, da sacralidade grega aos desafios sanitários modernos. Para os que planejam o futuro, serviços como os da Central Santa Casa ou Coroas Para Velório oferecem soluções práticas, de cremações a homenagens personalizadas, conectando memória e sustentabilidade.


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Claudio gomes da silva leite
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