A Geração Beta e as desigualdades socioeconômicas do mundo real
Por Chris Santos*
CHRIS SANTOS NOTíCIAS
03/06/2025 14h50 - Atualizado há 1 dia
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Nos últimos anos, tem sido comum ouvir sobre as diferentes gerações e suas características, definidas por estudos de tendências e comportamentos: Baby Boomers, Geração X, Millennials, Geração Z. Agora, com a chegada de 2025, surgiu um novo foco: a Geração Beta, composta por aqueles que nascerão entre 2025 e 2039. Este termo foi cunhado em maio de 2024 pelo pesquisador australiano Mark McCrindle. Segundo ele, "a Geração Beta provavelmente será a primeira geração a experimentar transporte autônomo em larga escala, tecnologias de saúde vestíveis e ambientes virtuais imersivas como aspectos padrão da vida diária". Em uma entrevista para a Forbes, McCrindle destacou que, para essa geração, "a casa da família será integrada com IA, desde eletrodomésticos inteligentes até comunicações familiares e monitoramento. A IA guiará as decisões dos pais em todas as áreas, desde a escola e o aprendizado até diagnósticos de saúde e suporte, gerenciamento de inventário de mantimentos e compras e pedidos". Essa visão reflete um futuro em que a tecnologia desempenha um papel central e constante no cotidiano. Mas, considero que esse pesquisador não avaliou o fato de que o metaverso flopou faz algum tempo. Conforme apontado por uma matéria do site Brasil Escola, "embora ainda em formação, prevê-se que a Geração Beta seja marcada pela hiperconectividade e por uma consciência ambiental mais aguda, fruto de um contexto global preocupado com as mudanças climáticas e a sustentabilidade". No entanto, essa geração enfrentará o grande desafio de "equilibrar o uso ético da tecnologia com a necessidade de reverter os erros ambientais e sociais do passado." Apesar das promessas tecnológicas, é fundamental lembrar que definições de gerações são especulações baseadas em futurologia, cujas previsões permanecem incertas em face de um mundo cada vez mais dominado por conservadorismo e negacionismo climático. Vivemos em uma realidade onde as ameaças de guerras persistem e pouco tem sido feito para reduzir a pobreza e as desigualdades. Conforme relatado pelo Banco Mundial, 8,5% da população global vive em extrema pobreza, totalizando cerca de 692 milhões de pessoas, e a redução desse percentual estagnou nos últimos cinco anos. A pergunta que se coloca é: alguém vê a possibilidade dessa redução avançar nos próximos anos? Diante desse panorama, frequentemente encontramos matérias que repercutem tais conceitos geracionais sem refletir criticamente sobre sua acurácia e suas fraquezas frente ao mundo real, marcado pelas desigualdades socioeconômicas e as instabilidades geopolítica. Para mim, essas previsões evocam "um vislumbre do mundo dos Jetsons", apresentando uma visão futurista encantadora, mas talvez distante da nossa realidade atual. Sempre olhei com ceticismo para essas tentativas de categorizar seres humanos em grupos geracionais, como se fosse viável rotular de forma precisa e unificada uma população complexa e diversificada. O conceito de geração Beta, introduzido antes mesmo de seus membros virem ao mundo, parece mais uma demonstração da nossa tendência a adivinhar o futuro sem enfrentar os desafios substanciais do presente. Em um planeta com aproximadamente 8 bilhões de habitantes, é difícil enxergar como uma geração pode emergir como um nicho homogêneo. Assim, enquanto a Geração Beta se desenha no horizonte, continua a ser essencial equilibrar nossas expectativas tecnológicas com uma compreensão sóbria das realidades sociais e econômicas que nos cercam. O autor e os que começaram tanto a falar no advento da geração Beta como um fato concreto também subestimam a exclusão digital que ainda existe no mundo. Chris Santos é profissional com mais de 30 anos de experiência em agências de comunicação, relações públicas, assessoria de imprensa, eventos e marketing digital. Clientes atendidos: Unilever, Avon, Lojas Renner, entre outras. Graduada em Relações Públicas (1990) e em Ciências Sociais (1997) pela USP, com especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP), MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi, e mestre em Comunicação e Política pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação e produção audiovisual.
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CHRISTIANE SOUZA DOS SANTOS
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