Açúcar está diretamente ligado à obesidade, diz especialista

Capaz de provocar vício, alimento é entendido como um dos vilões à mesa do brasileiro

ÍCARO AMBRóSIO
29/05/2025 15h13 - Atualizado há 1 dia

Açúcar está diretamente ligado à obesidade, diz especialista
Crédito: arquivo pessoal
O prato do brasileiro é rico em sabores, mas, alguns desses sabores, ainda que agradem o paladar, não convencem muito o resto do organismo. Um exemplo clássico é o açúcar, presente em grande parte dos alimentos industrializados e ultraprocessados, que tem um impacto profundo e muitas vezes subestimado na saúde humana. Seu consumo excessivo está diretamente ligado ao avanço da obesidade, uma das maiores crises de saúde pública no mundo.

Um dos motivos para isso é o efeito que o açúcar exerce sobre o cérebro. Estudos indicam que ele ativa os centros de recompensa de maneira semelhante a substâncias como nicotina e cocaína, criando um ciclo de dependência que estimula o consumo cada vez maior. Um levantamento conduzido pela Universidade de Princeton demonstrou que ratos alimentados com açúcar apresentaram sintomas de abstinência, como ansiedade e tremores, sugerindo que o mesmo pode ocorrer com humanos.


“É um ciclo de dependência. Quanto mais você consome, mais o corpo pede. Isso leva ao aumento do apetite e à dificuldade de controlar a ingestão calórica. É por isso que podemos dizer que o açúcar é um dos principais vilões silenciosos da alimentação contemporânea. Ele não apenas contribui diretamente para o ganho de peso, mas também provoca alterações hormonais que dificultam o emagrecimento, mesmo quando a pessoa passa a ter hábitos mais saudáveis”, explica o médico gastroenterologista Mauro Lúcio Jácome.

Ainda que vilão, o consumo de açúcar no Brasil permanece elevado, com os brasileiros ingerindo, em média, cerca de 80 gramas por dia, o equivalente a aproximadamente 20 colheres de chá. Esse valor supera significativamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que orienta um limite de 25 a 50 gramas diárias para uma dieta de 2.000 calorias.

O problema se agrava quando o açúcar ingerido em excesso é convertido em gordura pelo corpo, principalmente na região abdominal. Quando a glicose no sangue não é utilizada como energia, ela é armazenada sob a forma de triglicerídeos, contribuindo diretamente para o aumento do peso. Além disso, uma vez que a obesidade se instala, a perda de peso se torna um desafio ainda maior. “O corpo cria uma espécie de ‘memória metabólica’. Uma vez obeso, o metabolismo desacelera e a resistência à insulina aumenta, o que dificulta a queima de gordura”, esclarece o médico.
Essa dificuldade para emagrecer foi comprovada por um estudo publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, em 2022. A pesquisa mostrou que, após uma década de obesidade, o corpo tende a manter a homeostase do peso em patamares mais altos, exigindo muito mais esforço para que o indivíduo consiga perder peso de forma sustentável.

Apesar dos riscos associados ao consumo elevado de açúcar, a solução não está necessariamente na sua eliminação total, mas sim na redução consciente e gradual. “O que proponho não é um corte radical, mas uma reeducação alimentar. Ler rótulos, evitar ultraprocessados e escolher frutas no lugar de sobremesas açucaradas já é um grande passo”, aconselha Jacome.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcares livres, aqueles adicionados a alimentos e bebidas, não ultrapasse 10% da ingestão calórica diária. Para um adulto, isso representa cerca de 50 gramas por dia. Diretrizes mais recentes sugerem reduzir esse valor pela metade, para que os efeitos positivos na saúde sejam mais evidentes.

Todavia, reduzir o açúcar traz benefícios que vão muito além da balança. Estudos comprovam que essa mudança de hábito diminui significativamente o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, esteatose hepática (gordura no fígado) e até certos tipos de câncer.
Nos últimos anos, o avanço da ciência médica também tem oferecido novas ferramentas no combate à obesidade. Um dos tratamentos que vem ganhando destaque é o uso da tirzepatida, uma medicação injetável que age de forma inovadora no controle do apetite e da glicemia. A tirzepatida atua em dois receptores hormonais (GLP-1 e GIP), promovendo maior saciedade, melhora no metabolismo da glicose e auxílio efetivo na perda de peso. Os estudos mais recentes mostram resultados impressionantes, com pacientes perdendo mais de 20% do peso corporal em tratamentos supervisionados.

Indicada para o tratamento de diabetes tipo 2 e, mais recentemente, aprovada para manejo da obesidade em diversos países, a tirzepatida já está disponível em farmácias especializadas e deve sempre ser prescrita por um médico, após avaliação individualizada.
E para quem já tentou de tudo e ainda encontra obstáculos na perda de peso, é importante saber que existem tratamentos mais avançados, incluindo procedimentos endoscópicos e cirúrgicos que podem representar uma nova chance de recomeçar com mais saúde e qualidade de vida. O caminho pode ser desafiador, mas não precisa ser solitário — procurar orientação médica é o primeiro passo para recuperar o controle sobre o próprio corpo.
 

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ICARO ALISSON ROSA AMBROSIO
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