Detran-RJ possui sala sensorial para atendimento de pessoas autistas

Espaço adaptado oferece ambiente acolhedor e inclusivo para emissão de documentos e serviços de habilitação

JúLIA BOZZETTO
26/05/2025 10h39 - Atualizado há 1 dia

Detran-RJ possui sala sensorial para atendimento de pessoas autistas
Divulgação

Em 2024, o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ) inaugurou uma sala sensorial especialmente projetada para atender pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Localizado na unidade da Avenida Francisco Bicalho, em São Cristóvão, o espaço foi desenvolvido com o objetivo de proporcionar um ambiente mais confortável e menos estressante durante o atendimento para emissão de documentos como identidade e Carteira Nacional de Habilitação (CNH), além da realização de exames teóricos de direção.

A iniciativa contou com a colaboração da cientista e neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, especialista em desenvolvimento infantil e autismo e CEO e fundadora da Potência - Clínica de Desenvolvimento Infantil, que auxiliou na elaboração do projeto. “A sala sensorial inclui recursos como iluminação controlada, sons calmantes, elementos táteis, piso emborrachado, tapetes sensoriais, almofadas e fones protetores de ruído individuais, visando atender às necessidades sensoriais específicas das pessoas com TEA”, conta Silvia.

A criação deste espaço faz parte do Pacto Estadual pela Inclusão das Pessoas com Deficiência (PcD), lançado pelo Governo do Rio de Janeiro, e representa um passo significativo na promoção da inclusão e acessibilidade nos serviços públicos. “A expectativa é que projetos semelhantes sejam implementados em outras unidades do Detran-RJ e órgãos públicos do estado e país”, ressalta Silvia.

A importância da sala sensorial para pessoas com TEA

Segundo a neuropsicopedagoga, as salas sensoriais são ambientes planejados para promover a autorregulação emocional e reduzir estímulos que podem causar estresse ou crises em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Pessoas com TEA frequentemente têm uma hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais. A sala sensorial funciona como um espaço de acolhimento, onde sons, luzes, texturas e até odores são cuidadosamente controlados para oferecer conforto, segurança e estabilidade emocional durante situações que, para elas, podem ser extremamente desafiadoras, como um atendimento público”, explica Silvia.

A importância de iniciativas como essa se torna ainda mais evidente diante dos dados do Censo do TEA 2022, divulgados recentemente: o Brasil tem hoje cerca de 2,4 milhões de pessoas com autismo, com predominância do sexo masculino — dois a cada três diagnósticos são em homens. O levantamento, coordenado pelo Instituto de Pesquisa e Gestão de Políticas Públicas (IPG) em parceria com o Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), reforça o aumento significativo de diagnósticos no país.

Para Silvia, esse crescimento está diretamente ligado ao avanço da especialização dos profissionais de saúde e ao uso de ferramentas mais precisas para a identificação do transtorno. “Com profissionais mais capacitados e maior acesso a métodos de avaliação, conseguimos identificar precocemente o autismo, o que é fundamental para oferecer suporte adequado e garantir o direito ao atendimento inclusivo”, destaca.

Para montar uma sala sensorial eficaz, Silvia recomenda alguns elementos essenciais:

  • Iluminação suave: evitar luzes fluorescentes e apostar em luzes indiretas ou dimerizáveis, com cores neutras ou quentes;
  • Isolamento acústico: uso de fones abafadores ou materiais que reduzam ruídos externos;
  • Texturas variadas: almofadas, tapetes e brinquedos com diferentes texturas para estimular o tato;
  • Mobiliário acolhedor: cadeiras confortáveis, pufes e áreas para relaxamento com proteção tátil;
  • Recursos visuais e auditivos controlados: bolhas de luz, sons da natureza ou músicas calmas;
  • Materiais de organização emocional: cartazes com expressões faciais, jogos de encaixe, objetos de manipulação repetitiva (como “fidget toys”).

“A presença desse tipo de ambiente no setor público é um avanço para a inclusão. Mais do que um espaço físico, é um sinal de respeito às diferenças neurológicas e ao direito ao atendimento digno e acessível para todos”, conclui Silvia.


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