Maio Vermelho: os desafios e avanços da medicina para a vida pós-AVC

No mês de conscientização sobre o Acidente Vascular Cerebral, especialistas falam sobre a dolorosa e lenta reconstrução do bem-estar do paciente. Um processo que exige paciência, tecnologia e apoio qualificado.

RENATA DE OLIVEIRA | VCRP
21/05/2025 11h17 - Atualizado há 7 horas

Maio Vermelho: os desafios e avanços da medicina para a vida pós-AVC
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"Meu pai voltou, mas não voltou igual." Essa frase se repete, silenciosamente, em muitas famílias brasileiras que enfrentam a rotina de cuidados após um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Mesmo quando o susto passa e o paciente sobrevive, o tempo que vem depois costuma ser o mais desafiador: o de reaprender a viver.

Casos públicos como os do cantor Arlindo Cruz, que sofreu um AVC hemorrágico em 2017, e do ator Milton Gonçalves, vítima de um AVC isquêmico em 2020, escancararam a complexidade dessa jornada. Fala, movimento, memória e autonomia podem ser comprometidos. E, apesar do empenho da medicina tradicional, a recuperação é lenta, desgastante e, muitas vezes, emocionalmente exaustiva.

Embora o "Maio Vermelho" ainda não seja oficialmente instituído por lei federal, o mês de maio tem sido amplamente adotado por instituições de saúde e entidades civis como período de conscientização sobre o AVC. Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 1.327/2024, de autoria da deputada Tabata Amaral, que propõe a oficialização dessa campanha em âmbito nacional. 

O cenário nacional reforça essa preocupação. Segundo a Sociedade Brasileira de AVC, aproximadamente 70% dos sobreviventes não conseguem retornar ao trabalho devido às sequelas, e cerca de 50% tornam-se dependentes de outras pessoas para atividades cotidianas. Esses números evidenciam a necessidade urgente de estratégias eficazes de reabilitação que promovam a autonomia e a qualidade de vida dos pacientes.

“A reabilitação pós-AVC exige mais do que técnica. Ela exige tempo, suporte e, acima de tudo, caminhos que façam sentido para cada paciente”, afirma a neurologista dra. Soraya Cecilio, da Bright Brains, healthtech brasileira especializada em protocolos personalizados de neuromodulação. "A dor não é só física. Muitas vezes, o maior sofrimento está na perda da identidade e da funcionalidade social", explica a médica.

É nesse contexto que técnicas como a neuromodulação não invasiva vêm ganhando espaço. Aprovada pela Anvisa e praticada no Brasil há 15 anos, a tecnologia utiliza campos magnéticos ou impulsos elétricos para estimular regiões específicas do cérebro. Já usada com sucesso em casos de depressão resistente e transtornos de ansiedade, é também uma aliada na recuperação neurológica de pacientes que sofreram AVC.

Segundo a dra. Soraya, associar a neuromodulação a uma rede de apoio bem preparada pode acelerar os ganhos cognitivos e motores. “A tecnologia é importante, mas precisa estar conectada a um ecossistema de cuidado: fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição e, principalmente, acolhimento familiar. Quando o ambiente colabora, o cérebro responde melhor”, explica.

A eficácia da neuromodulação não invasiva é respaldada por evidências científicas consistentes. A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), uma das principais técnicas utilizadas, possui nível A de evidência para a reabilitação de funções motoras e cognitivas quando aplicada nos primeiros meses após o AVC. Reconhecendo esse potencial, o Hospital Israelita Albert Einstein incorporou recentemente a neuromodulação ao seu centro de reabilitação, onde é utilizada como estratégia complementar no tratamento de pacientes com sequelas motoras, reforçando sua aplicabilidade em protocolos multidisciplinares que visam à autonomia e à qualidade de vida.

Dr. Daniel Yankelevich, neurologista do dr.consulta, reforça que o sucesso da recuperação depende da continuidade do cuidado e terapia multiprofissional. “O tratamento eficaz do AVC vai muito além do hospital. Ele exige uma rede de cuidado coordenada. A recuperação envolve, sobretudo, a prevenção de um novo evento - o que requer investigação detalhada da causa do AVC e terapias específicas para cada caso -, além de reabilitação com fisioterapia para a função motora, fonoaudiologia para a fala, entre outros profissionais. Esse protocolo multidisciplinar é essencial para promover o bem-estar integral do paciente e restaurar sua autonomia e qualidade de vida”, finaliza.

Recém-inaugurada no Brasil, a Bright Brains utiliza inteligência artificial para ajustar protocolos de tratamento por neuromodulação não invasiva de forma personalizada. Ricardo Galhardoni, um dos sócios da empresa e cientista referência na América Latina em neuromodulação não invasiva, explica que a técnica é altamente eficaz nesse tipo de tratamento, pois estimula o processo natural de neuroplasticidade do cérebro, acelerando a reorganização das conexões neurais durante a recuperação.

“O uso da IA permite que o tratamento avance com ainda mais velocidade, já que possibilita a criação de protocolos específicos que consideram todas as particularidades do paciente. Associada aos tratamentos tradicionais de reabilitação, a tecnologia potencializa o que o cérebro tem de mais brilhante: a capacidade de se reestruturar”, finaliza Galhardoni.


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