Financiamento climático emperra para países em desenvolvimento, alertam especialistas

Burocracia, riscos cambiais e falta de vontade política travam recursos essenciais à transição verde; Brasil tem chance de liderar, mas precisa de planejamento

TATIANA FERRADOR
14/05/2025 09h57 - Atualizado há 11 horas

Financiamento climático emperra para países em desenvolvimento, alertam especialistas
Divulgação UOL
                             
         Entre os grandes desafios da agenda climática global, que acontecerá em Belém do Pará, em novembro de 2025, reunindo líderes mundiais (a COP30), o financiamento para países em desenvolvimento segue como um dos pontos mais frágeis e controversos.                   Apesar de um discurso internacional voltado à inclusão e apoio às nações mais vulneráveis, os recursos continuam escassos, mal distribuídos e muitas vezes guiados por critérios que não refletem as reais necessidades locais.
        “Todo mundo quer ser pai de um filho bonito. Fala-se muito em inclusão e oportunidade, mas os recursos continuam exíguos, mal repartidos e guiados por critérios que nem sempre priorizam quem mais precisa”, critica Julio Carepa, especialista em financiamento climático, que integrou a equipe da Ideia Sustentável, empresa especializada em soluções humanizadas de ESG para todos os segmentos do mercado, que desenvolveu o estudo Top Trends COP 30, que analisa as 22 tendências e desafios relacionados com os seus grandes temas que serão debatidos durante a COP 30.

         Segundo ele, grande parte dos instrumentos hoje disponíveis é tecnicamente complexa e desconectada da realidade dos países mais afetados. “Existem metodologias tão sofisticadas que inviabilizam a implementação prática, como ocorre com alguns modelos de crédito de carbono”, explica. Ele também alerta para a superficialidade crescente com que o tema vem sendo tratado: “Sem compromisso real, corremos o risco de transformar essa agenda em uma vitrine cosmética”.

Obstáculos estruturais e cambiais

        A moeda dos financiamentos aparece como outro entrave relevante, já que a maioria dos recursos é ofertada em dólar. “Como os projetos operam em moeda local, isso gera riscos cambiais significativos, encarecendo soluções e desincentivando a adoção”, afirma Carepa.
       Para Luzia Hirata, responsável pelas práticas de investimentos sustentáveis do Santander Asset Management, e que atua há mais de 20 anos na área de sustentabilidade, o cenário de indefinição política e lobby econômico também compromete os avanços. “O tema patina porque envolve muitos interesses e poucos acordos concretos. Reduzir emissões custa caro, impacta produtividade e mexe no retorno financeiro das empresas”, observa.
       Ela acrescenta que o apoio internacional é crucial, mas ainda insuficiente: “Temos instrumentos financeiros em bancos multilaterais e privados, mas em escala limitada. É preciso destravar esses mecanismos para que o dinheiro chegue a quem realmente precisa”.
       Apesar dos desafios, o Brasil desponta como protagonista em potencial na corrida por soluções sustentáveis. Fontes renováveis abundantes, biodiversidade única e setores estratégicos como a agricultura e o reflorestamento colocam o país em posição de destaque. Mas, segundo os especialistas, é necessário mais que vantagem natural: governança e visão de longo prazo são essenciais. “Precisamos considerar os impactos sociais e ambientais e garantir que as tecnologias adotadas sejam perenes”, defende Luzia.

Geopolítica e COP30: esperança ou vitrine?

       A tensão global também interfere nos rumos da agenda climática. “Enquanto vemos investimentos bilionários em armamentos, o financiamento para o clima fica em segundo plano. É uma disparidade gritante”, ressalta Luzia.
       Os especialistas apostam em uma oportunidade única para reposicionar o país e cobrar avanços concretos. “Além de mobilizar mais recursos, será preciso redesenhar instrumentos e garantir que o apoio internacional realmente transforme os territórios que mais precisam”, conclui Carepa.

O Brasil tem chances de se destacar no COP30, mas precisa:
  • aproveitar o potencial de energia renovável e liderar projetos sustentáveis com impacto global, desde que haja governança e planejamento de longo prazo.
 
  • adaptar modelos técnicos e mecanismos de financiamento ao contexto operacional do Brasil pode ampliar o acesso a recursos internacionais e viabilizar projetos transformadores.
 
  • conseguir estruturar projetos confiáveis e de longo prazo, já que com sua biodiversidade única e setores estratégicos como agricultura e reflorestamento, o Brasil pode atrair capital climático se conseguir estruturar projetos confiáveis e de longo prazo.

     O Top Trends COP 30 foi desenvolvido com a colaboração de 18 especialistas sob a coordenação de Ricardo Voltolini, CEO da Ideia Sustentável, autor de 12 livros, entre os quais se destaca, Conversas com Líderes Sustentáveis , Escolas de Líderes Sustentáveis, Sustentabilidade no Coração do Negócio (2015) e Vamos Falar de ESG? Além disso, é curador da Pós-Graduação ESG, Liderança e Inovação da FAAP/UOL Editech e diretor de Sustentabilidade da ABRH-Brasil e atua como curador e coordenador do Fórum de ESG para RH.
     O estudo tem entre os temas em destaque a Redução das emissões de GEE; a Adaptação às mudanças climáticas; o Financiamento climático; as Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono; a Preservação de florestas e biodiversidade; e a Justiça climática.

 

Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Tatiana Ferrador Neix de Brito
[email protected]


FONTE: Ideia Sustentável
Notícias Relacionadas »