Bando Editorial Favelofágico completa 10 anos com residência que lançará seis livros de autores periféricos

06/05/2025 08h57 - Atualizado há 2 meses

Com seis autores periféricos na atual residência literária, a quinta desde 2015, quando tudo começou, o Bando Editorial Favelofágico celebra dez anos de atividades com uma pilha de novos livros. Escritos por Adriana Kairos (“Maré”), Daniel de Abreu Brasil ("Porque as lágrimas não vertem”), Diogo Lyra (“A febre de Momo”), Isabel Marz (“Mímesis”), Mauro Siqueira (“Pequenas colisões”) e Steffany Dias (“Mormaço”), os títulos serão lançados na quinta, 8 de maio, a partir das 18h, na Livraria Folha Seca, no Centro do Rio, com roda animada do Samba de Benfica.

Haverá outros lançamentos em maio: no dia 17 será a vez de autografar exemplares no no célebre Bar do Papa, em Cascadura, dentro da programação do Rolé Literário; no dia 22 de maio, no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), em Bonsucesso; e no dia 27 de maio, na Casa Viva, em Manguinhos. Todos os eventos terão entrada franca e os livros estarão disponíveis por R$ 45 cada. Haverá ainda uma cota de distribuição gratuita de livros, por meio de formulário que será divulgado no Instagram @favelofagia.

Durante seis meses, os escritores selecionados para fazer a residência recebem acompanhamento editorial e remuneração mensal de R$ 4 mil para transformar os seus lampejos criativos em texto de ficção. Em uma década, um total de 34 autores - mulheres em sua maioria - viram as suas tramas ganharem o mundo através do selo nascido nas vielas de Manguinhos, complexo de favelas que detém um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do Rio de Janeiro e, como se vê, um celeiro de produção literária.

Autores convidados a publicar pela Cia. das Letras
“Ao longo dos anos desenvolvendo esse conceito em expansão, podemos dizer, com orgulho, que a literatura favelofágica se materializou na produção ficcional de muitos escritores suburbanos, moradores das favelas cariocas”, adianta o editor Felipe Eugênio. Ele criou o selo que também é uma produtora literária com cinco amigos, entre eles o também editor Rafael Maieiro, dono da Rubra Editora, responsável pela distribuição das obras. Recentemente, duas crias do projeto foram convidadas a publicar pela Companhia das Letras, das maiores editoras do país. Rafael Simeão, por exemplo, já está nas prateleiras com o livro de contos “Quando chega nossa vez acaba", que saiu pelo selo Alfaguara em 2024.

                        O editor Felipe Eugênio, um dos criadores da residência literária

Felipe Eugênio sinaliza que existe uma preocupação estética com as histórias que vêm sendo produzidas pelos autores residentes. “Os livros buscam corrigir desigualdades, fazem críticas sociais e passeiam por temas politizados, mas sempre investindo muito na forma”, diz. “Ousar na forma literária é o grande desafio do sujeito que tenha intentos de enfrentar, através da trincheira das letras, os ‘podres poderes’ desse nosso tempo". A ideia é evocar a Antropofagia Tupinambá, uma contra-violência que rompia o colonialismo, e o Manifesto Antropofágico, criado por Oswald de Andrade (1890-1954).

Não por acaso, a logomarca do selo do Bando remete ao Abaporu, a pintura mais célebre de Tarsila do Amaral (1886-1973), símbolo tanto do movimento antropófago quanto da arte modernista brasileira como um todo. Tarsila era casada com Oswald e o presenteou com a tela (pertencente ao acervo do Malba, em Buenos Aires) no seu aniversário de 1928, quando, empolgado com o presente, ele interpretou que a figura desenhada era um antropófago e, em seguida, escreveu o Manifesto, que também ganhou fama atemporal.

Para Eugênio, “o problema da classe trabalhadora é a economia do tempo, o que torna um grande desafio escrever e se manter escrevendo". Daí o valor dessa residência que garante recursos para os escritores se dedicarem ao ofício e se conclui no encontro das histórias com os leitores. Sem fins lucrativos, o Bando Editorial Favelofágico é realizado com patrocínio do Centro Universitário IBMR, Nova Rio, Rede Globo, Transegur Vigilância e Segurança e Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Cultura, com gestão cultural da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC-Fiocruz) e apoio da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.

LANÇAMENTOS DOS SEIS LIVROS DA QUINTA RESIDÊNCIA LITERÁRIA

Dia 8 de maio, às 18h - Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor, 37, no Centro do Rio), com Samba de Benfica;

Dia 17 de maio, às 15h - Bar do Papa (Rua Cândida Bastos, 164, em Cascadura), dentro do Rolé Literário;

Dia 22 de maio, às 18h - CEASM Maré (Rua dos Caetés, 7, em Bonsucesso);

Dia 27 de maio, às 18h - Casa Viva Manguinhos (Rua Capitão Bragança, 142, em Manguinhos).

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MONICA CRISTINA RAMALHO CUNHA
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