O 1º de maio nos permite refletir sobre como a definição de "trabalhador" tem se transformado com o passar dos anos. Hoje, uma parcela considerável dos trabalhadores brasileiros engloba quem criou seu próprio caminho por meio do empreendedorismo e da geração de renda, longe do mercado de trabalho formal.
Dados do IBGE mostram que o País tinha, em 2024, cerca de 25 milhões de pessoas trabalhando por conta própria, o que é o maior contingente já registrado na série histórica. Só esse número representa mais de um quarto da força de trabalho brasileira. E entre os empregadores e os microempreendedores individuais (MEIs), esse número cresce exponencialmente, o que reforça o papel de destaque do empreendedorismo na nossa economia.
Essa transformação é, além do papel revolucionário da tecnologia como fonte de oportunidades, uma resposta à escassez de empregos formais. A informalidade, que já atinge cerca de 40% da população ocupada, também segundo o IBGE. É uma saída para milhões de brasileiros que não conseguem – ou não querem – se encaixar no modelo tradicional de emprego com carteira assinada. Mas o que poderia ser apenas uma medida de sobrevivência está se consolidando como uma nova lógica produtiva, com redes de apoio, plataformas digitais e até mesmo políticas públicas que buscam acompanhar essa mudança.
É aí que entra o protagonismo do empreendedorismo na inclusão produtiva. Quando o mercado formal não absorve a mão de obra disponível, empreender vira uma alternativa viável para gerar renda, conquistar autonomia e, em muitos casos, transformar vidas. E o brasileiro tem dado provas de sua capacidade de se reinventar: o País registra mais de 15 milhões de MEIs ativos, segundo dados de 2024 do Portal do Empreendedor.
Mas é preciso ir além do mito do “empreendedor nato”. O sucesso de um negócio, seja ele uma venda de quentinhas, um brechó online ou um serviço de manicure em domicílio, por exemplo, depende de capacitação, acesso à tecnologia, crédito e redes de apoio. Sem orientação e suporte, os novos empreendedores e profissionais liberais podem acabar presos a um ciclo de baixa produtividade e rendimentos limitados.
A tecnologia, aliás, tem sido uma grande aliada. Com um computador ou celular na mão, muitos brasileiros passaram a aprimorar a capacitação. O digital democratiza o acesso a oportunidades. O que também escancara a urgência de políticas públicas que garantam educação digital, qualidade no acesso à internet e formação empreendedora desde a base.
No fundo, o que estamos vivendo é uma reorganização da lógica do trabalho. A autonomia, em muitos casos, é um desafio necessário. E o empreendedorismo, muitas vezes informal, é hoje a principal forma de inclusão produtiva para milhões de brasileiros. Porém, não podemos romantizar esse movimento: empreender sem rede de apoio, sem acesso a crédito ou capacitação, é um voo cego. É preciso que o Estado, as empresas e a sociedade reconheçam essa realidade e invistam em políticas que ampliem o potencial transformador do empreendedorismo.
Meios não faltam para que essa rede de apoio seja construída onde necessário, ampliada onde já existe e incentivada onde é possível. Hoje temos formas de democratizar o conhecimento por meio de soluções online, por exemplo, que podem ser oferecidas tanto por iniciativas privadas quanto pelo poder público para proporcionar um norte nos campos técnico e socioemocional aos empreendedores. Pensar e executar iniciativas que possibilitem que eles deem o primeiro passo em seus negócios e tenham possibilidades de consolidá-los e ampliá-los deve estar no cerne das iniciativas de inclusão produtiva e social.
Neste 1º de maio, precisamos celebrar não apenas os trabalhadores formais, protegidos por direitos e CLT, mas também a diarista que virou MEI, o entregador que criou sua própria logística, a cozinheira que transformou a cozinha de casa num restaurante de delivery, a artesã que abriu sua própria loja. Ou seja, todos os trabalhadores que não esperam mais o emprego chegar: eles vão à luta, criam seu sustento, com coragem, criatividade e resiliência. Porque o futuro do trabalho já começou. E ele é, cada vez mais, feito por pessoas decididas a empreender.
*Ivan Pereira é Co-CEO da Mind Lab, plataforma de transformação social, responsável pela eduK, socialtech que ajuda as pessoas no desenvolvimento técnico e sociocomportamental para empreender ou entrar no mercado de trabalho.
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ALAN OLIVEIRA DA SILVA
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