Cidadão do mundo: como jovens pretos ampliaram suas oportunidades profissionais com o ensino de inglês gratuito

Com mais de 50% de alunos pretos e pardos, a ONG Cidadão Pró-Mundo oferece inglês gratuito para jovens da rede pública e bolsistas, abrindo portas para universidades, empregos qualificados e empoderamento profissional

JéSSICA AMARAL
06/03/2025 16h07 - Atualizado há 2 dias
Cidadão do mundo: como jovens pretos ampliaram suas oportunidades profissionais com o ensino de inglês gratuito
Divulgação

A busca por oportunidades de mudança de vida é um dos maiores desafios enfrentados por jovens de comunidades periféricas, especialmente para a população preta. O domínio do inglês, requisito fundamental em muitas áreas, é uma das barreiras que limitam o acesso a oportunidades profissionais. Com 57% de seus alunos sendo pretos e pardos, a ONG Cidadão Pró-Mundo (CPM), que oferece há mais de 25 anos cursos gratuitos de inglês para estudantes de escolas públicas e bolsistas, tem transformado a trajetória desses jovens, buscando promover a igualdade de oportunidades e a integração social no Brasil.  

Milena Cristina Leite de Abreu, mulher preta e moradora da zona leste de São Paulo (SP), é uma das histórias que a CPM ajudou a mudar. Ela conheceu a organização por meio de um grupo de WhatsApp. Na época, ela trabalhava no setor de eventos, mas sempre teve o sonho de conquistar uma oportunidade de trabalho em uma grande empresa. “Com o inglês, pude conhecer pessoas de diferentes nacionalidades e culturas, e isso me abriu portas para a chance de trabalhar na área que eu sempre quis”, conta. No entanto, sua trajetória não foi fácil. “Quando você aprende sozinho, nunca tem certeza se está no caminho certo. E, durante o curso na CPM, eu passava a noite trabalhando e chegava em casa às 5h da manhã, tomava banho, cochilava uma hora e seguia para as aulas. A persistência foi tudo”, lembra.

Formada em Administração de Empresas, após a conclusão do curso, ela enfrentou muitos anos de dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho, realizando “bicos” para sustentar sua família. Ao ver uma oportunidade de estudar inglês gratuitamente, ela não pensou duas vezes e se inscreveu, pois até então estudava inglês apenas por aplicativos. “A faculdade despertou meu interesse pelo inglês, mas os cursos eram caros, sempre estudei por aplicativos. Tentei estudar sozinha, mas faltava direção. Foi quando encontrei a CPM”, comenta.

Apesar dos desafios, incluindo uma crise financeira em sua casa e a perda de um ente querido, Milena persistiu em seu aprendizado. "Eu me inscrevi, fiz o curso e, alguns meses depois de concluir, fui chamada para uma vaga de marketing digital em uma empresa global de redes sociais, onde o inglês era fundamental", conta. Trabalhando há mais de um ano na multinacional, recentemente, Milena foi promovida para moderadora de conteúdo, em crimes virtuais, onde sua função é 100% executada no idioma inglês, demonstrando como o domínio de um segundo idioma em sua carreira abriu portas antes inimagináveis. 

Ferramenta de expansão global

Desde a infância, Dione Assis, fundadora da Black Sisters in Law - uma rede dedicada à conexão, troca de experiências e ao crescimento profissional de advogadas negras, atuantes nas mais diversas áreas do Direito, tanto no Brasil quanto no exterior -, sempre teve uma paixão pelo inglês, mas as dificuldades financeiras impediam um aprendizado formal. "Como estudei em escola pública, a gramática era superficial e eu não tinha condições de pagar um curso. Então, fui autodidata, utilizando músicas para ampliar meu vocabulário e melhorar a pronúncia", afirma.

Ao se tornar advogada e poder financiar seus estudos, incluindo sua formação em inglês, Dione percebeu a importância do idioma para expandir sua atuação profissional. "O domínio da língua foi importante para o crescimento da rede, pois nos conectou com advogadas negras ao redor do mundo e possibilitou parcerias internacionais", explica. Atualmente, a Black Sisters in Law conta com advogadas de diversos países e promove intercâmbios e oportunidades de desenvolvimento para suas integrantes.

"O próprio nome da iniciativa, quando começou, a gente chamava de Advogadas Negras, e assim que algumas americanas conheceram e passaram a fazer parte da iniciativa, nós decidimos então colocar o nome em inglês exatamente para que fosse uma iniciativa global e que mulheres advogadas negras do mundo todo pudessem se identificar e fazer parte. E por isso, a gente começou então a se aproximar de instituições internacionais que passaram a melhorar a iniciativa e construir grandes oportunidades", destaca Dione. 

A parceria entre a Cidadão Pró-Mundo e as empresas permite que mais profissionais estejam preparados para o mercado de trabalho e outras oportunidades que possam surgir. Um exemplo dessa parceria é com o Instituto Trench Rossi Watanabe, que apadrinhou 75 estudantes com o  curso completo de inglês, com duração de cinco anos. Dentro desse grupo, o Instituto destinou 20 bolsas especificamente para integrantes da Black Sisters in Law, reforçando seu compromisso com a inclusão e o fortalecimento da diversidade no mercado jurídico. 

“Independentemente da área em que a pessoa trabalha, saber falar inglês será decisivo para o seu sucesso. Isso é ainda mais impactante para pessoas pretas, que historicamente enfrentam muito mais barreiras para acessar o mercado de trabalho e ter salários maiores. Nós queremos trabalhar ativamente para mudar esse cenário e reduzir desigualdades por meio da educação”, complementa Ludmilla Fregonesi, diretora-executiva da Cidadão Pró-Mundo.

Inglês como ferramenta de inclusão social e profissional

A Cidadão Pró-Mundo é uma organização sem fins lucrativos que oferece cursos de inglês gratuitos, com unidades em diversas localidades, incluindo Rio de Janeiro (RJ), Campinas (SP), Diadema – Bloomberg (SP),  Mauá – Cabot (SP), na cidade de São Paulo nos bairros Jabaquara – Pinheiro Neto Advogados, Capão Redondo, Tatuapé – Citi + Esperança, Vila Sônia – Instituto Ana Rosa e cursos virtuais.

Em números gerais, em 2024 a organização atendeu mais de 2.300 estudantes, entre eles alunos matriculados em escolas públicas ou como bolsistas em escolas particulares,  com o apoio de mais de 1.300 voluntários e 21 empresas parceiras. O programa permite que os alunos aprendam inglês em 10 módulos semestrais (5 anos), alcançando o nível B1 de proficiência. Para aqueles que buscam mais, o CPM Qualify oferece a preparação para a certificação internacional de Cambridge.

Além disso, a ONG oferece um programa de voluntariado, no qual profissionais qualificados, chamados de "volunteachers", atuam como professores do curso de inglês, garantindo a qualidade do ensino e ampliando o alcance do programa. As inscrições são abertas duas vezes ao ano, nos meses de maio e outubro, para novos voluntários e alunos, incentivando aqueles que buscam novas oportunidades de aprendizado ou de ensinar. Para mais informações, acesse www.cidadaopromundo.org.br. 


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JESSICA HENRIQUES DE MELLO PEIXOTO AMARAL CORDEIRO
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