“Mulheres na Educação”: desafios, conquistas e o impacto da representatividade feminina no ensino
Autora Andrea Aydar destaca a importância da mulher na Educação desde os primórdios, exercendo um papel essencial na construção da sociedade
RAFAELA MANZO - SOLUçõES EM COMUNICAçãO
07/03/2025 14h26 - Atualizado há 1 dia
Aprofem - Divulgação
A presença feminina na educação ainda é predominante, especialmente na Educação Básica. Mas será que as mulheres são devidamente valorizadas nesta profissão? Como a desigualdade de gênero ainda impacta essa carreira? Em uma entrevista exclusiva, a professora e coautora do livro “Mulheres na Educação” compartilha reflexões sobre o cenário atual, desafios enfrentados e as mudanças necessárias para fortalecer a atuação feminina na área. Andrea Aydar é Pedagoga com especialização em ‘Didática Geral’, ‘Educação Especial’ e ‘Educação, Arte e História da Cultura’. Professora de Educação Infantil e Fundamental I da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, Pedagoga Sistêmica pelo Instituto Hellen Vieira da Fonseca, Pós-graduada em Pedagogia Sistêmica pela Innovare, em parceria com a Universidade Multicultural CUDEC-México e Pós-graduanda em Constelação Familiar - Conceitos de Familienstellen. Também é Advogada e Diretora da APROFEM, o Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo. São destaques dessa entrevista a predominância feminina na Educação; os desafios de conciliar carreira, lar e filhos; baixos salários e a desvalorização da profissão que afastam os homens da docência; igualdade de gênero na Educação e seus avanços; a importância da escola na formação de valores de equidade e respeito; a necessidade de políticas públicas eficazes e permanentes para a igualdade de gênero e o papel fundamental das professoras na formação de todas as carreiras. A Professora também fala sobre a necessidade de melhores condições de trabalho, formação contínua e incentivos salariais, seus impactos na saúde mental, a sobrecarga profissional e a necessidade de múltiplos empregos, além do impacto da tecnologia e a falta de suporte especializado para inclusão. A respeito do livro ‘Mulheres na Educação’, Andrea faz um convite para novas autoras e conta como surgiu a ideia de registrar histórias inspiradoras da educação. Cita, ainda, experiências marcantes e lições que o livro traz. Por fim, a Professora deixa conselhos para futuras Educadoras, reflete sobre a importância da Educação como missão de vida e conta o que a motiva a seguir nessa carreira, apesar dos desafios. Contexto histórico e avanços No Brasil, as primeiras escolas para meninas surgiram no século XIX, em 1827, logo após a independência do Brasil, com a finalidade de prepará-las para cuidar de casa e da família. No início do século XX, a Educação Primária feminina ainda atendia às demandas domésticas. A Educação Secundária ficava restrita ao magistério- formação de professoras para os cursos primários. Ao protagonizar sua atuação profissional, acessando novos conhecimentos, tomando decisões, sua importância se evidencia e se amplia tanto na esfera social quanto institucional. Para além de sua capacidade intelectual e de liderança, a visão feminina, potencializada por sua sensibilidade e facilidade em realizar múltiplas competências, colocam-na em um patamar de reconhecimento tanto na formação e transformação de si própria como na do outro. Sua representatividade no mundo acadêmico tem se tornado exponencial. O meio corporativo também se beneficia pela excelência em sua atuação e liderança. Seja como mãe, como profissional, a mulher expressa sua imprescindibilidade em todas as áreas da vida da humanidade. Na Educação, berço de todas as outras profissões, é um vetor de transformação: a grande mestra que orienta o ser humano para a vida. ENTREVISTA: 1- Professora, qual o cenário atual das mulheres na educação? Esse gênero é a maioria nas salas de aula e equipamentos de educação atualmente? Por quê? As mulheres ainda detêm a maioria profissional no universo da Educação, especialmente na Educação Básica. São muitas as razões pelas quais esta realidade apresenta poucas mudanças no decorrer da linha do tempo. O olhar para a educação e cuidados com a criança/jovens é, culturalmente, destinado às mulheres que, apesar de buscarem sua inserção profissional, precisam estar presentes no cotidiano da vida do seu lar e filhos. A possibilidade de trabalhar em jornada menor é um atrativo para conciliar suas múltiplas tarefas. Também é a mulher, a meu ver, a detentora de uma sensibilidade ímpar para lidar não apenas com as situações de aprendizagem, como também com as questões de formação de princípios e valores baseadas no amor que advém de sua própria natureza. Por outro lado, considerando os baixos salários, pouco se torna atrativa a atividade docente aos homens. 2- Você acredita que houve avanços significativos na igualdade de gênero na educação nos últimos anos? As políticas públicas são favoráveis nesse sentido? Igualdade de gênero é uma questão social que deve ser respeitada em qualquer âmbito das relações humanas. Obviamente que a escola vem a ser um local imprescindível no desenvolvimento dos valores de igualdade e equidade, de respeito e tolerância, de inclusão física, emocional, social..., porém não cabe a ela a responsabilização deste sucesso ou fracasso. Há toda uma questão ideológica por trás destas questões, que muitas vezes causam mais dissensões do que promovem caminhos. Políticas públicas devem igualar cada cidadão como ser único e diverso, reforçando que o que é necessário deve ser pauta de agenda responsável, permanente e séria. 3- A senhora acha que as mulheres são valorizadas nesta profissão? Quais são os pontos de melhoria que devem ser considerados? Toda e qualquer carreira tem por estrutura a Educação Básica, preponderantemente ocupada por mulheres. Ainda engatinhamos na valorização e reconhecimento da capacidade intelectual, social e cultural, da potência feminina na transformação pela Educação. Há uma cultura tácita de não se legitimar como imprescindível o seu papel. Observo, ao longo dos anos, total desvalorização na carreira, profissionais carentes de evolução/atualização na formação inicial e continuada, condições e ambientes de trabalho inadequados e obsoletos, sistema de ensino que não acompanha a velocidade tecnológica e social, salários nada convidativos... Com isso, verificamos total desestímulo e falta de interesse por graduações ligadas à Educação Básica, o que alerta para uma carreira vacante e em declínio quantitativo e qualitativo. Urge formação qualificada, condições efetivas para realização de um bom trabalho, incentivo na carreira, melhores salários, menos alunos por sala de aula, atendimentos especializados para gerenciar casos de inclusão etc. 4- Quais são os principais problemas enfrentados pelas mulheres na Educação do País, atualmente? As circunstâncias em que a Educação vem acontecendo geram problemas de várias ordens. Financeira, em razão dos baixos salários, o que leva a profissional a trabalhar em dois ou três turnos; Emocional/mental, em razão das condições de trabalho, do não reconhecimento social, do desrespeito e enfrentamento por parte de alunos e, por vezes, equipe gestora e famílias; Estresse, do número de alunos por sala, do aumento de crianças de inclusão, da jornada longa de trabalho; Social/cultural, em razão da limitação dos gastos; formação e aprimoramento profissional, limitada pela falta de tempo e recursos escassos. 5- Que ações as instituições de ensino podem adotar para apoiar mais mulheres na Educação? Penso que, por serem a maioria atuando, falta o reconhecimento, por elas mesmas, da importância do papel de cada uma no dia a dia do contexto escolar. Atividades internas de formação, dinâmicas, reuniões motivacionais. Uma nova conduta e postura podem ser benéficas, elevando-se a autoestima, minimizando-se os efeitos eventualmente nocivos. Encontros contínuos com o corpo discente, conscientizando sobre a importância da escola, do ensino no preparo para a vida, para o mercado de trabalho. Atividades atrativas, aproximação com os alunos, diálogo franco e acolhedor e envolvimento da família em atividades na escola podem trazer bons resultados. 6- Conte como surgiu a ideia de publicar um livro destacando as mulheres na Educação? Recebi o convite para coordenar o vol I do livro ‘Mulheres na Educação’, iniciativa da Andréia Roma, CEO da Editora Leader. A editora fundou o Selo Editorial Série Mulheres, registrado em mais de 170 países, que deu origem a uma série de publicações, nos mais variados segmentos de atuação em que elas atuam, com o propósito de dar reconhecimento e notoriedade de sua importância no mundo. Além de coordenar, sou coautora nesta edição. E estamos em fase de organização e elaboração do volume II - e aproveito para fazer um convite às mulheres que se sentirem tocadas a participar da próxima edição. 7- Você poderia compartilhar uma história ou dado do livro que mais te impactou? No volume I contamos com variadas experiências e registros do quanto a educação impacta a vida das pessoas, pois consegue penetrar em aspectos da essência humana, transformando o status inicial em possibilidades que elevam o entendimento, a percepção de mundo, ampliando visões, horizontes de possibilidades. O meu capítulo traz uma situação de êxito a partir de uma nova postura na Educação, a Pedagogia Sistêmica: um aluno com questões de aprendizagem, falta de motivação, demonstrando sempre muita tristeza, apatia. Para não focar individualmente, passei a propor rodas de conversa inserindo algumas dinâmicas sistêmicas de pertencimento, a partir da escuta das histórias de vida verbalizadas pelas crianças. Adotamos uma nova rotina a partir desta postura que trabalha o fazer parte, mas também o equilíbrio do dar e receber e o respeito nas relações. Os resultados vieram e foi incrível a transformação desta criança, em especial, cuja família esteve na escola para compreender o trabalho que estava sendo realizado e que tanto motivou a criança. 8- Como os leitores podem usar o conhecimento do seu livro para promover mudanças? Toda mudança parte de nós, de nossas escolhas. Quando, por alguma razão mais forte do que possamos compreender, decidimos por um caminho, por uma missão, ali já desenhamos muito da nossa trajetória. A paixão pela escolha também deve nos mover a buscar cada vez mais o que nos acrescenta e amplia. No caso da Educação, acompanhar novas possibilidades, sair da rotina e da zona de conforto que o meio promove, permite alcançar novos conhecimentos, linhas de trabalho, novas descobertas, conhecimentos e possibilidades. Deste modo, tudo o que nos move internamente, transforma-nos e contribuirá para uma expansão de consciência das mudanças que podemos promover no próximo, a partir de nós mesmas. Ler, estudar, pesquisar, conhecer novas histórias podem promover mudanças significativas. No livro há contextos muito diversos e interessantes de visitar. 9- Você tem planos para novos projetos ou publicações sobre esse tema? Simmmm! O volume II do livro ‘Mulheres na Educação’, da Editora Leader, está em fase de convite e análise de novas coautoras. Quem estiver lendo esta matéria e se sentir parte, está convidadíssima! Será incrível! 10- O que a motivou, pessoalmente, a seguir a carreira da Educação? Como você se sente hoje exercendo essa profissão? ‘Criança vê, criança faz’! Sempre tive o exemplo em casa. Minha mãe foi da Educação, uma profissional dedicada e apaixonada. A energia que transmitia, seu ideal pela transformação de vidas transbordava e era sentido por mim. Talvez minha alma já estivesse captando esta mensagem. Meu pai também, muito estudioso, sempre lendo e inteligentíssimo. Era minha referência de quem tudo sabia responder. Tinha muito orgulho!!! Aos 12 anos de idade já ‘dava aula’ ´para os colegas de classe, aula particular em casa, onde meus pais deixavam-me à vontade para usar a parede como lousa... Enfim..., só tenho a agradecer pelo incentivo do meio que me motivou. Fui com esta paixão e inquietação para a Educação, em 1988. Desde então, nunca deixei de estudar, de fazer cursos, formações, especializações. Sempre em busca de algo motivador que traga magia e encantamento para o universo do conhecimento e das possibilidades, não apenas em sala de aula, mas para a vida que é a eterna escola. 11- Que conselho ou dica você daria a meninas e mulheres que, hoje, querem seguir na carreira da Educação? Que conselhos você daria à Andrea de antigamente, a respeito desse caminho? Primeiramente à Andrea, ainda menina, eu aconselharia que seguisse o seu coração, atentando ao que lhe tocava o sentimento com alegria e motivação. (Brincar de escolinha era uma grande paixão!). Às meninas e mulheres de hoje, diria o mesmo, porém com a devida atenção das necessidades dos tempos modernos e dos desafios que a carreira/profissão oferecem. É importante que seja uma escolha consciente para que a mudança seja um caminho por meio de cada profissional, instrumento de luz para a vida! Sobre a APROFEM Com uma história lastreada pelos princípios de independência e apartidarismo, a APROFEM representa atualmente cerca de 60 mil filiados dentre servidores da ativa, aposentados e pensionistas. Cerca de 95% desse quadro é formado por Profissionais da Educação. Fundada em 1981 na Zona Leste de São Paulo, hoje a APROFEM tem uma sede própria na região da Bela Vista e oferece aos seus filiados prestação de serviços e atendimento profissional de reconhecida qualidade. Presidida pelo Professor Ismael Nery Palhares Junior, a APROFEM coordena o Fórum das Entidades Sindicais e participa do Sistema de Negociação Permanente com o Governo Municipal (SINP), Fórum Municipal de Educação (FME) e uma gama de outras instâncias que atuam para melhorar a realidade e futuro dos servidores da educação. Para conhecer melhor o trabalho da APROFEM basta acessar o website https://www.aprofem.com.br ou seguir o perfil do Instagram https://www.instagram.com/aprofem Mais informações, pautas e porta-vozes para entrevistas: Rafaela Manzo [email protected] (11) 97300-8559 Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Magno Santos Costa
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