Nos últimos anos, o movimento sem telas nas escolas tem crescido em todo o mundo, impulsionado por preocupações sobre os efeitos do uso excessivo de dispositivos digitais na saúde mental e no desempenho acadêmico dos estudantes. O uso excessivo de telas está ligado a uma piora da saúde mental de seus usuários, independentemente da idade, segundo mostra tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o uso excessivo de tecnologia está relacionado a altos níveis de ansiedade e depressão entre os jovens.
Um exemplo notável dessa iniciativa ocorreu na Catalunya, onde uma escola decidiu proibir o uso de celulares durante o horário escolar. A medida, embora buscasse criar um ambiente de aprendizado mais produtivo, gerou uma onda de revolta entre alguns alunos, que sentem que os dispositivos são essenciais para sua comunicação e acesso à informação.
Terezinha Fogaça de Almeida, diretora e fundadora da Escola Ágora, localizada em Cotia, São Paulo, adota uma postura firme em relação ao movimento sem telas. “A tecnologia deve ser uma aliada, não um obstáculo ao aprendizado. Na Escola Ágora, estamos focados em desenvolver a atenção e a interação pessoal dos alunos. As crianças precisam de alfabetização social, que envolve a comunicação com os outros, a prática da empatia, o trabalho em equipe, a resolução de problemas e a interação com diferentes pessoas. O não uso dos celulares tem mostrado resultados positivos, pois estimula a curiosidade e criatividade de nossos alunos. E essa é uma bandeira que levanto há quase 40 anos”, afirma Terê.
E é verdade. Terezinha chegou a perder muitos alunos quando a informática chegou com força nas escolas, em São Paulo, na década de 90. A dona da Escola Ágora foi muito pressionada para ter laboratórios com telas, adotar tablets, etc. Como educadora e estudiosa de outros educadores, ao redor do mundo, Terezinha acredita que os alunos têm que ter espaços vazios dentro de si para conseguirem projetar o futuro, crescer com o outro, e aprender sobre a própria personalidade. As telas não trazem isso. Ao contrário, isolam e preenchem de conteúdos superficiais e efêmeros
Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Educacional da Catalunya revelam que, após a implementação da política de proibição dos celulares, a concentração dos alunos aumentou em 30% e o índice de aproveitamento escolar subiu 25% em um semestre. Essa evidência corrobora a ideia de que a eliminação de distrações digitais pode ser benéfica para o aprendizado.
Em um movimento semelhante, escolas na França também têm implementado restrições ao uso de celulares, com 54% dos professores relatando melhorias significativas no desempenho dos alunos após a adoção de políticas sem telas, segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard.
“Sem telas, nossos alunos constroem cabanas, espadas para brincar, confeccionam peças diversas . Criaram até uma moeda que é válida na escola. A moeda mais valiosa é uma semente de uma árvore chamada olho-de-cabra. Os estudantes criaram todo um ecossistema de cooperação em que necessitam conviver com o diferente, negociar espaços e regras. Afinal, os projetos pedagógico-escolares da Ágora envolvem alunos desde o nono ano até o primeiro ano. Para trabalharem juntos. A sala tem no máximo 15 crianças e não tem parede. O mundo não tem paredes e nossos alunos aprendem a se concentrar com o ruído e a paz da natureza”, finaliza Beta Costa , Coordenadora pedagógica da Ágora.
A Ágora está num terreno de 26 mil metros quadrados em uma área remanescente de mata atlântica. As crianças crescem em volta de animais, plantas e árvores. Elas aprendem a plantar, quais são os tipos de árvores nativas que temos no país, e todos os dias eles fazem um diário relatando o que viveram, que sentiram e fizeram na escola. Isso ajuda no desenvolvimento da escrita e em olhar para as próprias emoções. A Escola Ágora se destaca como exemplos de como repensar o ambiente escolar pode beneficiar o desenvolvimento integral dos alunos.
SOBRE ÁGORA
Fundada em 1985 por Terezinha Fogaça de Almeida, a Ágora é uma Escola de Ensino Fundamental que promove a formação integral de crianças e jovens do 1º ao 9º ano. Os objetivos da escola priorizam o encontro humano e humanizador, o estudo acadêmico, a convivência e a alfabetização social, estimulados pela pesquisa, pela curiosidade e pela produção intelectual. Além disso, a Ágora valoriza o brincar livre e criativo, oferecendo aos seus alunos o que considera faltar ao mundo contemporâneo. Assim, a escola se dedica a formar futuros homens e mulheres preparados para uma vida bem sucedida articulada ao bem comum. Saiba mais, aqui!
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