O setor da construção civil é responsável por cerca de 37% das emissões globais de carbono. Diante do avanço urbano e das crescentes pressões ambientais, políticas que incentivem o uso de materiais regenerativos são imperativas para reduzir esses impactos e impulsionar uma transformação sustentável. Nos últimos anos, o foco recaiu sobre a diminuição do "carbono operacional" das edificações — relacionado ao consumo de energia para aquecimento, resfriamento e iluminação. A expectativa é que essas emissões caiam de 75% para 50% até 2050. Contudo, o "carbono incorporado" nos materiais de construção, uma fonte significativa de emissões, ainda carece de uma abordagem urgente e efetiva.
Alternativas viáveis para reduzir o carbono incorporado já existem, particularmente por meio de materiais de base florestal e inovações na engenharia de materiais. Os materiais tradicionais, como o cimento e o aço, são intensivos em energia e recursos, respondendo juntos por mais de 11% das emissões globais de CO₂. Além do impacto no clima, a produção desses materiais provoca perda de biodiversidade, poluição hídrica e elevado consumo de água. Esse cenário evidencia a necessidade de soluções que conciliam desenvolvimento urbano com conservação ambiental.
A madeira engenheirada tem se mostrado uma alternativa de baixo carbono promissora, capaz de substituir estruturas de aço e concreto. Além de sua sustentabilidade, a madeira laminada cruzada (CLT) se destaca como um material que também armazena carbono. Diversos países já possuem regulamentações que incentivam o uso de sistemas de construção em madeira, inclusive em edificações de grande altura. Outra matéria-prima que vem ganhando relevância é o bambu, que, com o auxílio de novas tecnologias de laminação, surge como uma solução ainda mais viável e sustentável para o setor.
Embora a extração de madeira natural continue a ultrapassar o crescimento das florestas, o bambu oferece uma alternativa sustentável com características técnicas surpreendentes. Com resistência à tração semelhante ao aço e resistência à compressão duas vezes maior que a do concreto, o bambu pode ser utilizado em uma vasta gama de aplicações, incluindo colunas, vigas e paredes. Além disso, o bambu engenheirado alcança desempenho mecânico comparável ao da madeira tradicional.
O rápido crescimento do bambu é um de seus principais atrativos: ele atinge a maturidade em menos de cinco anos e sequestra uma quantidade significativa de carbono por hectare, tornando-se uma opção valiosa no reflorestamento e no combate às mudanças climáticas. Estudos indicam que o bambu sequestra entre 5 e 24 toneladas de carbono por hectare anualmente, superando as florestas de vináceas e tropicais. A colheita seletiva do bambu também minimiza os impactos ecológicos, e a produção sustentável desse material pode render até 296 toneladas por hectare.
Embora a produção de bambu envolva emissões de carbono, principalmente devido ao uso de produtos químicos, ele ainda representa uma vantagem estratégica frente a materiais convencionais, como o aço e o cimento, por sua capacidade superior de armazenamento de carbono. Em um momento em que a construção civil busca alinhamento com metas climáticas e práticas sustentáveis, o bambu e outros materiais regenerativos surgem como alternativas essenciais para construir um futuro mais equilibrado e ecologicamente responsável.
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Katiane Fátima Gouvêa, Presidente da Cebis, organização não governamental sem fins lucrativos, reconhecida como Organização Social Civil de Interesse Público (OSCIP).
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CAROLINA PALHARES
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