04/07/2024 às 14h19min - Atualizada em 06/07/2024 às 00h04min

Homem-porco: órgãos suínos transplantados em humanos 

Anderson Roberto Benedetti* 

VALQUIRIA MARCHIORI
Rodrigo Leal

Em um passado bastante recente, o mundo das ciências entrou em uma estimulante discussão sobre o futuro do transplante de órgãos. Um dos grupos de pesquisa havia finalmente realizado um transplante de um órgão suíno para um humano de forma duradoura e estável.  

Embora já tenhamos visto algumas notícias sobre xenotransplante (transplante de órgãos entre espécies distintas), essa se tornara a primeira em que o paciente, Richard Slayman, de 62 anos, transplantado no dia 21 de março de 2024, continua com sua vida normal, com o órgão recém transplantado. Ele se encontra vivo e com o rim funcional, sem rejeições graves. Em outros transplantes já realizados sem esta tecnologia, o órgão transplantado precisou ou ser removido ou ocasionou a morte do paciente.  

Sabendo disso, a dúvida é: esta tecnologia será utilizada para os demais órgãos? Por qual motivo o porco é o escolhido e não outros animais? Como o Brasil fará parte desta história? 

Para responder a todos estes questionamentos complexos, precisamos entender como essa tecnologia funciona e como foi “idealizada” para a saúde humana. 

O primeiro xenotransplante documentado na história foi em 1667, em que 340 gramas de sangue de ovelha foram transferidas para o um menino de 15 anos que sofria de febre contínua incontrolável. O garoto, após transplante, melhorou no dia seguinte enão há relatos de sua morte. Sequencialmente, em 1838, o cirurgião norte-americano Richard S. Lissam, extraiu uma córnea de um porco e transplantou em um homem de 35 anos, o homem recuperou sua visão por algumas semanas e a córnea foi absorvida pelo organismo. Um fato mais recente aconteceu em 1993, quando o cirurgião sueco, Carl Gustav Groth realizou um transplante de ilhotas de pâncreas em pacientes com quadros de diabetes do tipo 1. Muitos destes pacientes não precisaram receber insulina por alguns meses.  

Voltando para a atualidade, considerando a falta de órgãos para suprir e demanda por transplantes, a comunidade científica passou a desenvolver pesquisas que apresentem resultados duradouros após xenotransplante. A espécie suína foi escolhida por apresentar órgãos, como coração e rim, com tamanhos equivalentes aos da espécie humana. Desta forma, os órgãos suínos se tornam os mais viáveis para o desenvolvimento desses transplantes. 

Um problema bastante relevante a ser pensado neste tipo de transplante é a compatibilidade do órgão, mas entendendo bem estes mecanismos de identificação e defesa do nosso corpo, os pesquisadores pensaram em uma solução óbvia: identificar quais os diferentes pontos desta digital celular desencadeam a reação inflamatória e excluí-la da célula. Este, basicamente, é o pensamento dos cientistas que pesquisam xenotransplantes: “tirar da célula os pontos que estimulam as inflamações”.  

 

Pesquisas equivalentes no Brasil 

Para as pessoas que, equivocadamente, dizem que o Brasil não produz boa ciência, trago-lhe más notícias. Há no Brasil, um projeto com a responsabilidade de desenvolver nacionalmente porcos geneticamente modificados para obtenção de órgãos para xenotransplante. Financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela farmacêutica sem, a pesquisa é coordenado pela geneticista Maryana Zatz, do CECH-CEL, e pelo cirurgião Silvano Raia, da Faculdade de Medicina da USP.  

Segundo reportagem descrita pela Revista FAPESP, em maio 2024, os cientistas já avançaram no desenvolvimento de porcos com os genes necessários para um transplante adequado, precisando somente ultrapassar a barreira de reprodução para a clonagem destes porcos modificados. 

Estes esforços estão direcionados para que em breve esta tecnologia possa atuar na manutenção do maior sistema de transplantes de órgãos do mundo disponibilizado pelo SUS em todo o Brasil. 

(*) Anderson Roberto Benedetti é biólogo e Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter. 

 

 

 

 


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
[email protected]


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://itaqueraemnoticias.com.br/.