O Brasil alcançou uma conquista histórica: já se passaram 10 anos desde o último caso documentado de raiva humana transmitida por cães (variantes caninas AgV1/AgV2).
Esse feito é fruto de um conjunto de ações interligadas do Sistema Único de Saúde (SUS), que envolvem vacinação massiva de cães e gatos, disponibilização gratuita de vacinas antirrábicas, soros humanos quando necessários, além de vigilância epidemiológica reforçada.
Aqui estão os principais pilares que sustentam essa vitória:
Campanhas regulares de vacinação animal: cães e gatos domésticos continuamente vacinados, com coberturas altas em muitos municípios.
Resposta rápida a focos: quando há suspeita ou detecção de doença em animais ou circulação viral, equipes de zoonoses e saúde pública agem prontamente.
Profilaxia pós-exposição humana: acesso ao tratamento adequado, soros e vacinas disponíveis para pessoas que sofreram mordida ou contato com animal suspeito.
Integração das políticas públicas com vigilância ativa: monitoramento constante dos casos silvestres, principalmente de morcegos e saguis, que permanecem como reservatórios potenciais.
O último caso confirmado de raiva humana transmitida por cão ocorreu em 2015, no Mato Grosso do Sul.
Antes disso, havia registro em 2013 no Maranhão.
Desde então, todos os casos humanos de raiva notificados foram causados por variantes silvestres ou animais não domésticos (morcegos, primatas ou outros) — não por cães ou gatos.
Mesmo com esse marco, há desafios que não podem ser ignorados:
A raiva silvestre continua ativo risco, especialmente com morcegos (quirópteros) que têm contato com áreas urbanas.
A cobertura vacinal animal precisa se manter alta. Qualquer falha nas campanhas ou queda na adesão pode abrir brechas.
A conscientização dos tutores sobre a necessidade de vacinar seus pets, mesmo em locais sem casos recentes, é chave para manter o controle da doença.
Vigilância epidemiológica precisa ser mantida e fortalecida nas regiões remotas ou de acesso difícil, para detectar potenciais focos.
Como veterinário que trabalho com atendimento domiciliar, vejo o quanto esse tipo de marco reforça a responsabilidade compartilhada:
Vacinar cães e gatos é um ato de proteção que beneficia toda a comunidade, não apenas o animal individual.
Tutoria consciente: manter as vacinas em dia, observar comportamento suspeito e evitar contato desnecessário com animais silvestres.
Profissionais veterinários estão no centro: diagnóstico precoce, educação de tutores e atuação preventiva.
Celebrar 10 anos sem casos de raiva humana transmitida por cães no Brasil é mais do que motivo de orgulho: é um alerta para manutenção constante das práticas que nos trouxeram até aqui.
Essa conquista demonstra que a união entre política pública eficaz, participação da população e vigilância ativa funciona — mas não podemos nos acomodar. A raiva pode voltar se esquecermos de vacinar, de monitorar e de educar.
Dr. Marcelo Müller é Médico-Veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, bem-estar animal e atendimento veterinário domiciliar. Atua na promoção de saúde preventiva e integrativa, com foco no diagnóstico precoce, respeito à senciência animal e fortalecimento do vínculo entre pets e tutores. Autor do livro “Meu Pet… Meu Mundo…”
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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