Estudo mostra como acesso a armas impacta a saúde mental
Presença de arma em uma residência aumenta de três a cinco vezes o risco de suicídio, aponta pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP
SHEILA GRECCO
19/09/2025 18h42 - Atualizado há 3 horas
Segundo o estudo, ter armas em casa aumenta de três a cinco vezes o risco de suicídio e também acentua comportamentos abusivos. Crédito da foto: Freepik
Acesso a armas de fogo. Um debate que vai além de segurança pública, é um caso, sobretudo, de saúde mental. É o que mostra estudo global liderado por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo e publicado, nesta semana, na revista científica americana Harvard Review of Psychiatry. A análise explorou as ligações entre posse e acesso a armas de fogo, comportamento agressivo, uso e abuso de substâncias, violência social e doméstica. A análise consistiu na revisão de 467 estudos de diversos países. A maior parte dos EUA (81%), 6% da Europa, 4% da Austrália, 3% do Canadá e o restante de outras regiões. Os resultados são claros: uma maior disponibilidade de armas de fogo está associada a um aumento do número de suicídios, agravamento dos sintomas de ansiedade, medo e trauma, além de ampliar algumas dinâmicas de violência, como a violência doméstica. O maior impacto é no número de suicídios, um problema que já é uma questão de saúde pública global. A pesquisa ressaltou que a presença de arma em uma residência aumenta de três a cinco vezes o risco de suicídio, independentemente do estado de saúde mental anterior do indivíduo. Quando há um armazenamento seguro dessa arma, o risco diminui, mas permanece em um patamar considerado alto. “Este é o primeiro levantamento global a reunir evidências sobre os efeitos da posse e do acesso a armas de fogo na saúde mental. Mostramos que as consequências vão muito além da exposição direta à violência, alcançando camadas psicológicas e sociais que até então não eram sistematicamente documentadas. Nossos achados indicam que o debate sobre armas não pode ser restrito à segurança pública. É também uma questão de saúde mental coletiva. Reconhecer os mecanismos psicológicos envolvidos é fundamental para formular políticas mais eficazes e humanas”, destaca um dos autores do estudo, o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, pesquisador e professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP, onde coordena o ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade. Os números são ainda mais alarmantes no Brasil. O país está na contramão das estatísticas globais, com um aumento de 57% na taxa de suicídios entre 2000 e 2019. Segundo o Ministério da Saúde, o país tem a maior prevalência de depressão na América Latina, atingindo cerca de 15,5% da população. Indivíduos com depressão apresentam oito vezes mais chances de cometer suicídio. São cerca de 14 mil brasileiros que tiram a própria vida a cada ano, uma média devastadora de 38 mortes por dia. O estudo também ressalta que países e Estados que introduzem leis menos restritivas para a posse e o porte de arma de fogo têm um crescimento no número de suicídios nos anos subsequentes à aprovação da lei. Fato que deveria preocupar outros países onde este debate continua aquecido, como no Brasil. Licenças para armas aumentaram quase sete vezes no governo Bolsonaro. Entre 2019 e 2022, mais de um milhão de armas entraram em circulação no país. Em 2023, logo no dia 1º de janeiro, houve um decreto do presidente Lula suspendendo novos registros para CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores). Apesar dos avanços na regulamentação, ainda é preciso melhorar a fiscalização e a educação para as pessoas que já têm armas de fogo. Isso também se aplica aos profissionais de segurança pública, que apresentam taxas elevadas de suicídio e exigem educação contínua sobre armazenamento seguro e cuidados com a saúde mental. “Experiências de outros países mostram que políticas mais restritivas podem reduzir tanto mortes quanto sofrimento mental. Ao contrário do que se imagina, a restrição de acesso aos meios letais não aumenta imediatamente o suicídio por outros métodos, tendo um impacto direto na redução global no número de suicídios. Estudos demonstram que quando há uma restrição de acesso a um método altamente letal, há chances concretas de que a pessoa sobreviva, receba apoio e tenha uma nova oportunidade. Por isso as políticas públicas precisam investir em ações preventivas concretas e não em campanhas sazonais”, defende Rodolfo Damiano, autor de obras fundamentais sobre o assunto, como Compreendendo o Suicídio e Cansei de Viver, e Agora?. Há uma diferença nos dados entre tentativas de suicídio e taxas de mortalidade quando se trata de gênero. No mundo, são cerca de 700 mil mortes por ano e aproximadamente 14 milhões de tentativas. A maioria dos suicídios – cerca de 78% dos casos – é de homens. As mulheres têm mais tentativas de suicídio não letais, enquanto os homens morrem mais por suicídio. E, não por acaso, a maioria com armas de fogo. Clique aqui para ver o estudo: https://journals.lww.com/hrpjournal/abstract/2025/09000/the_impact_of_firearm_ownership,_violence,_and.1.aspx Sobre o médico psiquiatra Rodolfo Damiano (CRM-SP 190.747 | RQE 95.585): O cuidado pelo outro com excelência. Essa é a missão do médico paulista Rodolfo Damiano, psiquiatra, palestrante, escritor, professor e pesquisador. Com 32 anos e 6 livros publicados, aliando ciência e humanidade, teoria e prática, diálogo franco e tecnologia, Rodolfo já é referência, no Brasil e no exterior, em pesquisas nas áreas de ansiedade, depressão, TDAH, Covid-19 e prevenção ao suicídio. Médico psiquiatra e doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pós-doutorando em Psiquiatria pela USP, em parceria com Yale University e Ohio State University (EUA). É professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP, onde também coordena o ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade. Editor associado do Brazilian Journal of Psychiatry. CEO da Soul Clinic, no Rio de Janeiro, centro de medicina integrativa, e cofundador da Imensamente, plataforma de cursos em psiquiatria e saúde mental. Autor de Você Pode Amar e Ser Feliz (DISRUPTalks, 2024) e Cansei de Viver, e Agora? (Manole, 2024), e editor de Compreendendo o Suicídio (Editora Manole, 2021), Spirituality, Religiousness and Health (Springer, 2020), dentre outros. Voluntário da ONG Fraternidade sem Fronteiras, tendo participado de missões em Manaus (AM) e Madagascar e Malaui, na África. O amor transformando vidas, histórias e trajetórias. E a felicidade, tema central de seus estudos, a vitamina do corpo e da alma. rodolfodamiano.com Instagram: @dr.rodolfodamiano Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Sheila Grecco de Oliveira Neves
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