Do escracho à censura: vídeo da TV Biribinha some do TIK TOK após furar bolha no 7 de Setembro

Tik TOK derruba vpideo viralizado sem dar explicações

LIA SIMÕES.
19/09/2025 17h15 - Atualizado há 2 horas

Do escracho à censura: vídeo da TV Biribinha some do TIK TOK após furar bolha no 7 de Setembro
divulgação
Vivendo em tempos em que o surreal virou cotidiano, surge a TV Biribinha, um coletivo audiovisual que mistura teatro, cinema e crítica social com muito humor, irreverência e coragem. Idealizado por Rodrigo Mello, o projeto nasceu da faísca criativa de um grupo de atores e estudantes de cinema que acreditam no poder redentor da arte.
O grupo começou em 2024 com a proposta de fazer uma novela vertical para o Instagram. A narrativa gira em torno da TV Biribinha, uma emissora decadente que já teve seus dias de glória, mas hoje é perseguida por agiotas e os seus funcionários precisam fazer a emissora se adequar às redes sociais para manterem o emprego. Os integrantes do grupo afirmam que sabiam desde o início que enfrentariam uma grande dificuldade para consolidar a ideia, pois o Instagram não favorece o formato seriado e começaram com praticamente nenhum investimento. A trama principal da TV Biribinha se passa em Biribuaçu, um bairro fictício carioca que une a informalidade de Madureira com a sofisticação do Leblon. Lá, essa emissora falida tenta se manter viva enquanto enfrenta um cenário tragicômico, onde os limites entre ficção e realidade são propositalmente borrados. “Quando soubemos que a Globo vai produzir uma novela vertical para o TikTok, pensamos estar no caminho certo, mas ainda no espírito do Cinema Novo, pois temos apenas "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", diz Rodrigo.
Com muitas influências e um projeto único, a TV Biribinha bebe da leveza dos quadrinhos do Zé Carioca, do espírito combativo do Cinema Marginal, e do humor popular de sitcons consagradas como Sai de Baixo e Toma Lá Dá Cá, dos nonsenses Hermes e Renato e O Último Programa do Mundo, da extinta MTV Brasil, além da reverência ao atemporal Chaves.

Mas o diferencial está na metalinguagem: tudo que a TV Biribinha produz, da novela a entrevistas faz parte de um mesmo universo narrativo. Quando vemos Ângela Molinari como "Alessandra" ou Rodrigo Mello como "Ricardinho" entrevistando pessoas nas ruas, não é só um quadro: são os personagens da novela estendendo a história para o mundo real. Uma espécie de realidade paralela carioca, onde o absurdo e a crítica caminham juntos.
Usando a arte com posição, a TV Biribinha não se pretende neutra, e nem quer ser. O grupo assume sua inspiração brechtiana, tratando arte e política como linguagens inseparáveis. A proposta, porém, não é panfletária: é provocar reflexão, tencionar limites e colocar o público diante de suas próprias contradições. Como explica Ângela: "Não acredito em arte dissociada da política, especialmente em tempos atuais."
E esse posicionamento tem consequências.
No último 7 de Setembro, a TV Biribinha esteve presente em um ato bolsonarista, onde seus personagens-repórteres interagiram com o público de forma provocadora, mas sempre cômica. O vídeo da ação furou a bolha, viralizou no TIK TOK e alcançou mais de 1,7 milhão de visualizações em menos de 24 horas, um feito raro para produções independentes e politizadas.
A experiência nas ruas foi intensa e por vezes, perturbadora.
“O que presenciei em Copacabana, no dia 7, foi um misto de medo e desesperança. Nunca tinha estado em uma manifestação bolsonarista de perto, só via na televisão, e pude sentir na pele toda aquela tensão no ar” relata Ângela. “O que mais me chamou a atenção foi a fala de um menino, que devia ter uns 18 anos no máximo. Ele disse que estava muito emocionado de estar na manifestação porque admira muito ‘aquele cara’, em referência ao Bolsonaro... Essa realmente me abalou, até pela idade dele.”
Rodrigo também relata uma cena que parece saída diretamente do roteiro da novela: “Conversamos com um senhor que me chamou a atenção — no mínimo, uma situação curiosa,” comenta. “Ele mesmo não era um apoiador de Bolsonaro, embora estivesse vestido como um, mas estava lá acompanhando a esposa, que era. Mesmo diante daquele cenário fiquei entusiasmado por testemunhar uma história de amor que resiste aos confrontos ideológicos”. Isso fortaleceu a sua crença na arte como “construtora de pontes, e não de muros”, afirma.
Pouco depois, o vídeo foi excluído da plataforma, comprometendo a divulgação do trabalho e restringindo o diálogo com o público, um gesto que levanta sérias questões sobre liberdade de expressão, visibilidade e censura algorítmica nas redes sociais.
“A exclusão do vídeo representa uma restrição grave ao direito de divulgação de nossos trabalhos. Afeta diretamente nossa visibilidade, nossa atividade profissional e o diálogo com a audiência”, afirma Rodrigo que já contratou um escritório de advocacia para representá-los em uma ação contra a plataforma.
Segundo o advogado, Dr. André Matheus, do escritório Flora, Matheus & Mangabeira Sociedade de Advogados, além do evidente prejuízo material e comunicativo, a remoção do vídeo, sem justificativa clara e sem previsão de recurso eficaz, viola parâmetros recentemente reafirmados pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que determinou que as plataformas digitais devem adotar critérios transparentes, oferecer mecanismos de revisão e garantir o devido processo aos usuários.
Ao recusar essas garantias, a plataforma incorre em censura indevida, atingindo diretamente a liberdade de expressão artística e comunicacional e, na ausência de instância recursal efetiva no âmbito privado, resta apenas a via judicial para assegurar os direitos violados e proteger a atividade profissional impactada.
Quem esteve no 7 de setembro
Rodrigo Mello
Filósofo de formação, com mestrado e doutorando em estética e filosofia da arte pela UERJ, atualmente cursa cinema e audiovisual na UFF. Roteirista, diretor e ator, fez sua estreia nos palcos foi no lendário Tablado, em 2009. Tem o teatro como raiz, mas o audiovisual como principal campo de atuação hoje.

Ângela Molinari
Atriz formada em Artes Cênicas pela PUC-Rio, com sólida trajetória no cinema de guerrilha. Também é advogada e ganhou o prêmio de melhor atriz internacional no Seoul Webfest (2022). Atua no teatro, no audiovisual e é sócia de uma produtora independente. Para ela, a arte é — e sempre foi — uma forma de transformação.


TV Biribinha é muito mais que um coletivo. É uma novela, uma performance, um delírio crítico — e, acima de tudo, uma tentativa honesta de comunicar com quem pensa diferente, rir de si mesmo e resistir com criatividade.
Porque, em tempos sombrios, rir (com política) ainda é um ato revolucionário.




 

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ALESSANDRA GARCINDO DAYRELL
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