O uso de materiais avançados em tintas

Por Fernando Menegatti de Melo da Montana Química

PEDRO SENGER
09/09/2025 09h35 - Atualizado há 8 horas

O uso de materiais avançados em tintas
Divulgação

Poucos setores industriais dependem tanto da inovação em formulações quanto o de tintas e revestimentos. Presente em praticamente todos os segmentos da economia, abrangendo desde o varejo até aplicações industriais de alto desempenho em transporte, construção e energia, esse mercado busca constantemente materiais capazes de oferecer maior durabilidade, eficiência e sustentabilidade. Nesse contexto, os chamados materiais avançados vêm ganhando destaque por proporcionar funcionalidades antes consideradas inalcançáveis.

O termo "materiais avançados" abrange uma ampla gama de substâncias e estruturas, desde nanopartículas inorgânicas 0D, até polímeros de engenharia para autocura (do inglês, self-healing), baseados, por exemplo, em microcápsulas de monômeros reativos ou redes poliméricas dinâmicas, passando pelos materiais 1D e 2D a base de carbono, como grafeno e derivados, boro, molibdênio ou fósforo. Cada uma dessas classes pode trazer contribuições distintas. Nanopartículas cerâmicas, como óxido de alumínio (Al₂O₃, alumina) ou carbeto de silício (SiC), podem conferir maior resistência à abrasão e ao intemperismo; aditivos funcionais baseados em dióxido de silício (SiO₂, sílica) ou dióxido de titânio (TiO₂, titânia) podem ampliar a resistência química e a repelência à água; já os derivados de carbono, como nanotubos (estruturas cilíndricas de carbono sp²), nanofibras e grafeno, podem atuar na melhoria da resistência mecânica, condutividade e até em propriedades anticorrosivas. Além deles, os pontos quânticos (do inglês, quantum dots) à base de semicondutores livres de cádmio e chumbo, como fosfeto de índio (InP), sulfeto de cobre-índio (CuInS₂) ou ainda nanopartículas de carbono (do inglês, carbon dots), têm sido explorados em formulações aquosas, permitindo aplicações ópticas seguras e sustentáveis, com destaque para luminescência controlada, maior estabilidade de cor e absorção seletiva de luz em revestimentos funcionais. Outro exemplo relevante são as nanopartículas de cobre (Cu), que podem atuar como aditivos funcionais em tintas, agregando propriedades antimicrobianas, ação antifúngica e resistência adicional à corrosão, o que amplia sua aplicabilidade em revestimentos tanto de uso doméstico quanto industrial.

Essas melhorias, entretanto, não ocorrem de forma automática. Assim como no caso do grafeno, a eficácia de qualquer material avançado depende de fatores como dispersão adequada e compatibilidade química com a matriz polimérica. Uma dispersão incompleta pode resultar em sedimentação agressiva, perda de desempenho ou até no efeito oposto ao esperado. Por isso, a forma de incorporação e a qualidade do insumo são tão importantes quanto suas propriedades intrínsecas.

Do ponto de vista prático, a utilização desses materiais pode trazer benefícios diretos para diferentes mercados. No varejo, onde o consumidor busca produtos de fácil aplicação, de longa duração e com menor impacto ambiental, eles podem resultar em tintas de maior lavabilidade, resistentes e com formulações de menor teor de solventes. Já nas aplicações industriais e de especialidades, é possível projetar revestimentos com maior barreira anticorrosiva, estabilidade térmica, resistência ao desgaste ou até condutividade elétrica controlada, diferenciais relevantes em setores como automotivo, aeroespacial e eletroeletrônico.

Ainda assim, há desafios a serem superados. Além da questão técnica de dispersão e compatibilidade, o custo de produção e a escalabilidade de muitos desses materiais avançados ainda limitam seu uso em larga escala. Outro ponto importante é a necessidade de métodos de caracterização confiáveis, capazes de atestar se o desempenho esperado está de fato sendo transferido ao revestimento final. O cenário global, no entanto, indica uma tendência clara: a incorporação gradual e criteriosa desses insumos em tintas e revestimentos. Empresas e centros de pesquisa ao redor do mundo vêm dedicando esforços para tornar tais tecnologias não apenas viáveis, mas competitivas. No Brasil, a combinação entre sustentabilidade e a busca por diferenciação tecnológica pode acelerar esse movimento.

Materiais avançados, portanto, devem ser vistos como ferramentas de engenharia de formulação. Quando usados de forma consciente e tecnicamente fundamentada, eles ampliam o leque de possibilidades para desenvolver revestimentos mais duráveis, eficientes e alinhados às demandas contemporâneas.


 

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