Parceria entre governos e sociedade civil em programas inovadores mostra caminhos para reduzir analfabetismo no Brasil

No Dia Mundial da Alfabetização, boas práticas revelam possibilidades no avanço da educação do país

DENIS DANA
08/09/2025 11h07 - Atualizado há 13 horas

Parceria entre governos e sociedade civil em programas inovadores mostra caminhos para reduzir analfabetismo
Divulgação
8 de setembro – Dia Mundial da Alfabetização
Parceria entre governos e sociedade civil em programas inovadores mostra caminhos para reduzir analfabetismo no Brasil
Nesta segunda, 8, é celebrado o Dia Mundial da Alfabetização. A data, estabelecida pela Unesco em 1967, busca conscientizar e promover a importância da alfabetização para o desenvolvimento social e econômico mundial. No Brasil, a ocasião reforça a necessidade de políticas públicas que combatam o analfabetismo, especialmente com a constatação do último Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), de que 3 a cada 10 brasileiros, ou seja, quase 30% da população adulta não sabem ler e escrever ou sabem muito pouco a ponto de não conseguir compreender pequenas frases, os chamados analfabetos funcionais.

A realidade dos números nos mostra o tamanho do desafio a ser enfrentado no país. Por outro lado, também vem daqui do país boas práticas concretas e muito bem-sucedidas do que pode ser feito para transformar o cenário atual, num esforço unificado entre iniciativa pública e iniciativa privada.
Bertioga e Itaquaquecetuba superam metas de alfabetização
Bertioga, localizada na Baixa Santista, no litoral de São Paulo, e Itaquaquecetuba, na região metropolitana da capital paulista, são duas cidades que estão conseguindo subir com êxito a escada da alfabetização. Os municípios participam do Programa de Apoio a Redes Municipais, promovido pela Parceiros da Educação, Organização da Sociedade Civil (OSCIP) que atua no segmento educacional, em conjunto com as secretarias municipais de educação. Os resultados evidenciam bons modelos dessa integração.
Bertioga teve um importante avanço no Índice de Criança Alfabetizadora (ICA), de 55% de alunos alfabetizados, em 2023, para 70%, em 2024, já tendo alcançado as metas inclusive colocadas para 2025 e 2026. Itaquaquecetuba também teve um avanço de 15%, passando de 43%, em 2023, para 57%, em 2024, meta que seria alcançada somente neste ano. Ambos os municípios receberam Selo Ouro no Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização 2024, reconhecimento do Ministério da Educação a esforços e iniciativas exitosas das secretarias de educação na formulação e implementação de políticas, programas e estratégias que assegurem o direito à alfabetização das crianças.
A estratégia do projeto é contemplar quatro grandes objetivos: alfabetização plena de todos os alunos na idade certa, ou seja, até os 8 anos, aprendizado dos alunos na idade/série adequada; alunos frequentes, que não evadem e não abandonam; e rede com equidade entre alunos e escolas.
“O programa tem duração de cinco anos. Nesse período, as escolas públicas que fazem parte precisam se comprometer em uma série de iniciativas, como a garantia da formação contínua e o suporte pedagógico aos docentes e gestores das escolas municipais, o estabelecimento de redes de colaboração entre as instituições de ensino, de modo a promover troca de boas práticas, e o envolvimento das famílias e da comunidade local no processo educacional, com ações que valorizem a educação como um esforço coletivo”, explica Lucas Pereira Sperandio, da Parceiros da Educação.
Também é parte integrante dessas iniciativas a garantia da qualidade do ambiente escolar e da infraestrutura, com salas de aula bem equipadas, ambientes de aprendizagem saudáveis e recursos pedagógicos modernos, bem como o desenvolvimento de sistema de avaliações periódicas para acompanhar o progresso dos alunos.
“Essas avaliações contínuas constituem uma parte muito sensível do programa, já que elas fornecem os dados de aprendizagem necessários para ajustar as práticas pedagógicas e identificar áreas de melhoria, potencializando a aprendizagem em sala de aula”, ressalta Sperandio.
“O projeto tem dado certo porque traz um modelo baseado em evidências e dados, que coloca o protagonismo nos profissionais da rede pública, o que dará ao município a oportunidade de alcançar melhorias significativas e duradouras nos resultados educacionais. Assim, eles conseguem realizar as adaptações necessárias e buscar as respostas rápidas às necessidades emergentes, assegurando que as mudanças não sejam temporárias, mas parte de um movimento contínuo de transformação da educação”, destaca o diretor da Parceiros, Rafael Machiaverni.
Novos materiais didáticos combatem defasagens
Superar as defasagens na aprendizagem, especialmente quando se trata de alfabetização, representa um desafio ainda maior e mais complexo quando se observa a heterogeneidade dentro de sala de aula. Ali, não é raro encontrar nove níveis diferentes de aprendizagem, sem que o professor consiga dar conta de tamanha variedade.
Somente no estado de São Paulo, atualmente há 2,8 milhões de alunos de escolas públicas no nível básico e abaixo do básico. Enfrentar esse cenário exige mudanças estratégicas, inclusive nos materiais didáticos. Para isso, novamente em conjunto iniciativa privada e iniciativa pública, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo com a Parceiros da Educação lançaram, em agosto deste ano, a Coleção Horizonte, um material pedagógico voltado ao apoio de adolescentes dos Anos Finais que ainda não consolidaram alfabetização e letramento matemático.
“O material foi produzido após avaliação adaptativa que permitiu mapear os diferentes níveis de defasagens dos alunos. Assim, combina habilidades essenciais dos Anos Iniciais com uma linguagem própria para os jovens, utilizando histórias em quadrinhos e personagens que conduzem o aprendizado de forma lúdica e engajadora. A inovação já está em uso em três projetos da rede e deve alcançar mais de 250 mil estudantes em todo o Estado ainda neste ano”, explica Sperandio.
Alfabetiza Juntos SP: colaboração histórica entre municípios
Outro exemplo de ação conjunta que merece lembrança neste Dia da Alfabetização é o programa Alfabetiza Juntos SP, lançado em 2024, com uma política pública que reúne mais de 620 municípios e 91 diretorias de ensino da rede estadual paulista, e que tem como objetivo alcançar, até 2026, 90% das crianças com até sete anos alfabetizadas.
A iniciativa também é realizada em regime de colaboração, com o apoio de diversas entidades, como a União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (Undime-SP), a Aliança, coalizão formada pela Fundação Lemann, Instituto Natura e Associação Bem Comum, e a Parceiros da Educação.
Juntas, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc-SP) e essas organizações oferecem material didático aos municípios, capacitam professores e implementam a Avaliação da Fluência de Leitura, ações que ampliam o programa estadual para mais estudantes e para mais professores, alcançando 40 mil docentes alfabetizadores da rede estadual e municipal. Os avanços já são visíveis, com um crescimento de 57% no número de alunos que sabem ler adequadamente, passando de 48% de leitores no início de 2024 para 77% no fim do mesmo ano letivo.
“Os avanços em cidades e estados mostram que a alfabetização é possível quando há colaboração, avaliação constante e compromisso coletivo. O Dia Mundial da Alfabetização reforça que este caminho precisa ser expandido em todo o país”, conclui Machiaverni.


 

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Denis Victor Dana
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