Quando se fala em transtornos do neurodesenvolvimento, o debate costuma se concentrar no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e no Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que nos últimos anos ganharam maior visibilidade na mídia, nas escolas e nas famílias. No entanto, há outras condições que impactam igualmente o desenvolvimento de milhares de crianças e adolescentes, mas que permanecem invisíveis ou cercadas de estigmas: a dislexia, a discalculia, o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e a dispraxia.
A dislexia, por exemplo, atinge entre 5% e 10% da população mundial e se manifesta como uma dificuldade específica na leitura, afetando a fluência e o reconhecimento das palavras. Já a discalculia, que compromete a compreensão de conceitos matemáticos básicos, afeta entre 3% e 8% das crianças, segundo estudos internacionais, com índices semelhantes encontrados em pesquisas no Brasil.
O TOD, por sua vez, está presente em torno de 3% a 5% das crianças, caracterizado por comportamentos de oposição, desafio e hostilidade em relação a figuras de autoridade — muitas vezes interpretados equivocadamente apenas como “birra” ou “má educação”. A dispraxia, menos conhecida e ainda pouco diagnosticada, envolve dificuldades na coordenação motora e no planejamento de movimentos, o que interfere não apenas em atividades escolares, mas também no cotidiano da criança.
Para Silvia Kelly Bosi, neuropsicopedagoga, cientista, especialista em desenvolvimento infantil e análise do comportamento, e fundadora da Potência – Clínica de Desenvolvimento Infantil no Rio de Janeiro, que hoje possui três unidades, o desconhecimento sobre esses transtornos contribui para diagnósticos tardios e para que muitas crianças sofram com rótulos injustos.
“É muito comum que pais e educadores associem dificuldades em ler, escrever ou compreender matemática à preguiça ou à falta de interesse. O mesmo acontece com o TOD, em que comportamentos de oposição são vistos apenas como má-criação. Já a dispraxia, por ser menos falada, passa despercebida até mesmo por profissionais da educação. Mas estamos falando de condições reais, que exigem avaliação e intervenção adequadas. Quanto antes a família busca ajuda, maiores são as chances de favorecer o aprendizado, a autonomia e a autoestima da criança”, explica a especialista.
Silvia ressalta ainda que a sociedade precisa ampliar o olhar sobre os transtornos do neurodesenvolvimento e ir além do que já se tornou mais conhecido. “O grande desafio é romper com os rótulos e com a invisibilidade. Precisamos falar sobre esses transtornos com a mesma frequência com que falamos de TEA e TDAH. Só assim vamos reduzir o estigma, aumentar a compreensão e garantir que cada criança receba o suporte necessário para se desenvolver plenamente”, finaliza.
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JÚLIA KLAUS BOZZETTO
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