5/9, Dia do Irmão: pedagogas analisam a importância do vínculo afetivo e dão dicas para os pais

Entre brigas, afeto, favoritismo e frustrações, especialistas orientam sobre como transformar conflitos em aprendizados

VAGNER LIMA
01/09/2025 13h32 - Atualizado há 11 horas

5/9, Dia do Irmão: pedagogas analisam a importância do vínculo afetivo e dão dicas para os pais
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Celebrado em 5 de setembro, o “Dia do Irmão” tem origem associada à memória de Madre Teresa de Calcutá, cuja morte em 1997 passou a ser lembrada como um dia de homenagem e reflexão sobre vínculos de fraternidade. Mas, além das homenagens e posts dedicados aos irmãos que costumam inundar as redes na data, qual é o simbolismo desse laço sanguíneo e afetivo?

Essa dinâmica é complexa: mistura afeto, competição, cumplicidade e disputa por atenção — dinâmicas que mudam ao longo do desenvolvimento e podem influenciar o comportamento social e emocional desde a infância até a vida adulta. Segundo educadores é importante que famílias e profissionais entendam quando a competição é saudável e quando sinaliza demanda por intervenção dos adultos.


A relação entre irmãos

Ter irmãos significa aprender, desde cedo, a conviver com diferenças: dividir espaços e brinquedos, negociar regras de brincadeira e lidar com pequenas frustrações do dia a dia. Na prática pedagógica, isso se traduz em ganhos importantes para o desenvolvimento socioemocional, já que crianças que crescem com irmãos têm mais oportunidades de assumir papéis, resolver conflitos e exercitar a empatia. Esses aprendizados acontecem tanto nos momentos de afeto quanto nas disputas rotineiras.

“Muitas vezes o irmão é o primeiro indivíduo com quem a criança testa limites e aprende a considerar o ponto de vista do outro”, explica Beatriz Martins, coordenadora pedagógica do Brazilian International School – BIS (São Paulo/SP). Ela acrescenta que, no caso de irmãos gêmeos, é fundamental que a escola também reflita sobre como favorecer a identidade individual de cada um. “Há situações em que sugerimos que gêmeos estudem em turmas diferentes. Essa experiência ajuda cada criança a desenvolver sua autonomia, especialmente quando percebemos que um deles tende a ser mais passivo diante do outro.”

Além disso, a convivência fraterna favorece habilidades comunicativas e estratégias de cooperação que se transferem para a sala de aula. Professores costumam observar que crianças habituadas a negociar entre si apresentam maior facilidade em trabalhos em grupo. Mas, como ressalta Beatriz, os benefícios não são automáticos: “O contexto familiar, com suas regras, modelos parentais e oportunidades de reparação após os conflitos, é o que determina se a relação entre irmãos será fonte de aprendizagem ou de tensão persistente”.

Brigas: até quando a competição é comum e saudável?

Conflitos entre irmãos são parte do repertório normal do desenvolvimento e, muitas vezes, funcionam como um laboratório para aprender sobre limites e autonomia. “A disputa pode estimular a criança a se esforçar, a negociar e a testar capacidades, representando um espaço seguro para treinar emoções”, afirma Jacqueline de Freitas Cappellano, coordenadora pedagógica da Escola Internacional de Alphaville (Barueri/SP). Essa competição se mostra saudável quando permite que os irmãos experimentem vencer e perder, contornar impasses e reconstruir vínculos após o atrito.

O alerta vem quando as brigas se repetem em padrões agressivos ou quando um dos irmãos passa a sofrer constrangimento ou isolamento. Nesses casos, a frequência, a intensidade e o tipo de agressão (se física ou verbal) são sinais de que a família precisa intervir de forma estruturada. Jacqueline orienta: “observe se há escalada para violência, se há recuo emocional de uma das crianças ou se o conflito serve para mascarar outras questões, como excesso de tensão em casa, ciúmes persistentes ou mudanças na rotina”.

Nessas situações, é essencial que os adultos ajustem limites, promovam momentos de diálogo e cooperação, fortaleçam rotinas seguras e, quando necessário, busquem apoio de profissionais especializados. Afinal, os conflitos entre irmãos podem ser oportunidades de crescimento — desde que acompanhados e mediados com sensibilidade.

Como tratar os filhos com equilíbrio: dicas práticas para pais

Tratar os filhos com equidade não significa tratá-los exatamente igual — significa oferecer atenção e cuidados de acordo com suas necessidades, sem criar comparações de valor entre eles. Pequenas ações ajudam nessa construção: dedicar um tempo individual com cada filho, explicar razões por trás de decisões (por exemplo, por que um pode sair mais tarde por estar em idade diferente) e evitar comparações diretas que possam gerar competições desnecessárias. “Transparência e consistência são chaves: quando a criança entende o porquê das escolhas, a sensação de desigualdade diminui”, explica Renata Alonso, coordenadora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick (São Paulo/SP).

Na rotina prática, ferramentas simples fazem a diferença: estabelecer regras claras que valham para todos, criar rituais de atenção individual (um café da manhã, uma leitura por semana) e usar linguagem que separa comportamento de identidade, como por exemplo, comentar sobre uma ação específica em vez de rotular a criança. Renata também recomenda momentos de conversa em família para definir combinados e permitir que os filhos expressem incômodos — isso reforça a mensagem de que cada voz tem espaço, atenuando uma possível sensação de favoritismo.

E o filho único?

Ser filho único traz características próprias: maior disponibilidade de atenção e recursos parentais, o que pode favorecer autonomia e investimento em atividades individuais; ao mesmo tempo, a criança pode ter menos oportunidades cotidianas de negociar conflitos fraternos e aprender a dividir no contexto mais íntimo do lar. “É comum que se rotule o filho único como uma criança mimada, mas essa é uma ideia errônea. A criança pode ter um desenvolvimento perfeitamente normal, tudo depende de como os pais ensinam limites, frustrações e responsabilidades”, afirma Luciane Moura, diretora do colégio Progresso Bilíngue (Vinhedo/SP).

Para equilibrar as vantagens e minimizar lacunas, Luciane sugere ampliar a rede social da criança: incentivar convívios com primos, amigos, clubes e oficinas; promover atividades em grupo e ensinar explicitamente habilidades como espera, troca e negociação. “Introduzir responsabilidades adequadas à idade e oferecer situações controladas de frustração ajudam a preparar o filho único para contextos sociais mais amplos”. A diretora do colégio Progresso Bilíngue lembra ainda que a qualidade das relações — mais do que o número de irmãos — é o fator que mais influencia o desenvolvimento socioemocional.

Quando a decisão de não ter outro filho é tomada pelo casal — seja por escolha consciente, seja por limitações de saúde, financeiras ou profissionais — é importante explicá-la ao filho com clareza, sensibilidade e respeito à sua faixa etária, sem transferir culpa ou insegurança.

“É preciso explicar que se trata de uma decisão da família, que o casal decidiu construir ou manter o núcleo familiar daquela forma, por tais motivos, e que a criança não tem nada a ver com você a decisão”. A especialista do Progresso Bilíngue também recomenda convidar a criança a fazer perguntas e dizer como ela se sente. “Validar emoções como a tristeza, curiosidade e ciúmes é tão necessário quanto oferecer informações. Mantenha o diálogo aberto ao longo do tempo, pois os sentimentos mudam com a idade. Posteriormente, revisitar a conversa mostra que a família respeita e acompanha as necessidades emocionais da criança”, finaliza Luciane.

Os especialistas:

Beatriz Martins é educadora inquieta, apaixonada por gente e por transformação. Atua há mais de 30 anos de atuação na educação, sendo 18 deles na liderança pedagógica, formando times, projetos e, principalmente, pessoas. Possui licenciatura plena pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pós-graduação pelo Instituto Singularidades. Atualmente é coordenadora pedagógica no Brazilian International School (BIS).

Jacqueline Cappellano é pedagoga, pós-graduada em Bilinguismo e coordenadora da Educação Infantil da Escola Internacional de Alphaville. É uma grande entusiasta da Educação Bilíngue e fascinada pelo universo da educação infantil. Enxerga no intercâmbio entre ideias e culturas, um caminho para a paz entre os povos.

Luciane Moura possui graduação em Pedagogia e Psicopedagogia e MBA em Gestão Escolar. Acumula mais de 20 anos de experiência na educação, atuando como professora, coordenadora e, há mais de 11 anos, como diretora do Colégio Progresso Bilíngue Vinhedo/SP.

Renata Alonso é formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicomotricidade, com mais de 15 anos de experiência em educação bilíngue. Sua grande paixão são as crianças bem pequenas, e seus estudos são voltados à primeira infância, crianças de 0 a 3 anos. Com um olhar atento ao desenvolvimento integral dos pequenos, Renata acredita que essa fase da vida é crucial para a formação de indivíduos seguros, criativos e capazes de se expressar com confiança. Seu trabalho visa proporcionar um ambiente acolhedor e estimulante para o aprendizado, sempre com foco no cuidado e no afeto.

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VAGNER ADACIANO DE LIMA
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FONTE: FSB Comunicação
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