2ª Bienal do Livro de Taboão da Serra investe em acessibilidade e inclusão

De 21 a 24 de agosto, a cidade de Taboão da Serra sedia a 2ª Bienal do Livro, o maior evento literário da sub-região sudoeste da Grande São Paulo. Além de reunir escritores de todas as regiões do país, a Bienal aposta na inclusão como eixo central, com uma programação voltada para a diversidade de corpos, vozes e experiências. A entrada é gratuita, mediante retirada de ingressos no site oficial: bienaldotaboao.com.br.

A Bienal foi cuidadosamente planejada para acolher pessoas com deficiência e neurodivergentes, tanto ao garantir infraestrutura acessível quanto ao dar visibilidade a autores que vivem essas experiências. Rampas, banheiros adaptados, intérpretes de Libras, sinalização em braille, cadeira de rodas, equipe de apoio treinada e uma sala multissensorial fazem parte da estrutura. Um espaço especial também foi criado para pessoas neurodivergentes que possam se sentir sobrecarregadas em ambientes com muitos estímulos.

 

Iracy Coutinho, curadora e idealizadora da Bienal, lança livro sobre a importância da imunização contra a poliomielite. Foto: Dejair Júnior.

A atenção à acessibilidade nasce da própria trajetória da Iracy Coutinho, idealizadora e curadora da Bienal. Mulher com deficiência física desde a infância, Iracy é ativista da causa e autora do livro A Princesa do Dandá, que será lançado durante o evento. Inspirada em sua própria história, a obra narra a trajetória de uma princesa que contrai poliomielite por não ter sido vacinada e se torna símbolo de luta pela inclusão e pelo direito universal à vacinação. Sua atuação na curadoria garante que o evento vá além do discurso e promova, de fato, um espaço de pertencimento.

 

A concepção do espaço e o projeto de acessibilidade contam com a assinatura da artista visual e designer Erilze Brito, mestre em Acessibilidade pela UFPE. Com passagens por iniciativas inclusivas como a Expofavela 2024, onde implantou a primeira sala multissensorial em um evento aberto ao público, Erilze propõe uma experiência que une arte, afeto e respeito à diversidade. “Acessibilidade é escuta, consciência e atitude. É garantir que todas as pessoas, independentemente de suas condições físicas, sensoriais ou cognitivas, possam vivenciar o evento de forma plena”, afirma.

A presença de autoras e autores com deficiência ou vivências periféricas reforça a proposta de uma literatura mais plural e inclusiva. É o caso da escritora taboanense Paula220v, educadora autista, que lança seu trabalho na antologia “Se Tens Um Dom, Seja!”, projeto idealizado por Bruno Black, com prefácio de Suzana Pires, posfácio de Zélia Duncan e orelhas assinadas por Leila Sterenberg, Tom Farias, Sandra de Sá e Jorge Ventura, além de uma carta motivacional de Rodrigo França.

Com cinco volumes e 210 coautores, a obra é um verdadeiro mosaico da literatura contemporânea. Paula220v  participa do volume 9 com poesias autorais e um dueto com Bruno Black que aborda inclusão com sensibilidade. Para ela, trazer a Bienal à periferia é fertilizar o solo da educação pública e ampliar o sentido de comunidade escolar: “Escola se faz com gente”, afirma. Sua escrita é visceral, política e sensível, transborda inclusão, consciência negra, humanidade e a beleza das marolas poéticas que nascem de seus tsunamis internos.

 

 

O escritor baiano Wilson Santos, sua esposa Viviane e sua filha Vanessa, todos surdos participam da Bienal. Foto: Divulgação.
 

Outro destaque é Wilson Santos (Dr. WilLibras), autor e educador surdo, que participa pela segunda vez da Bienal ao lado da esposa Viviane e da filha Vanessa, todos surdos. Criador da coleção WilLeitura Surda Fantástica, ele apresenta histórias como O Fone Surdo Tic-Tac, que narra a vida de um cavalo surdo que percebe o mundo por meio das vibrações. A coleção valoriza a cultura visual e inclui QR Codes com vídeos em Libras, ampliando a acessibilidade das obras para o público surdo. Para Wilson, a Bienal representa um espaço de visibilidade para a cultura surda e periférica: “É onde nossas vozes finalmente são ouvidas”. A coleção é realizada em parceria com sua esposa, Viviane Midori, e com a Editora Idealibras, reforçando o compromisso com a literatura surda e a representatividade.
 

 

 

 

Também estreia na Bienal a escritora Isabelle Ferreira, psicanalista, terapeuta integrativa e contadora. Em seu livro O Peso do Invisível, ela compartilha sua vivência com a Síndrome de Arnold-Chiari e Siringomielia, uma condição neurológica rara que a fez, por um tempo, perder os movimentos do corpo, mas da qual se reergueu com coragem. A obra propõe uma reflexão profunda sobre dores emocionais que não aparecem em exames, mas adoecem silenciosamente. “Venho de uma realidade onde nem sempre nossas vivências eram vistas como dignas de literatura. Estar numa Bienal que valoriza histórias reais é como afirmar: nossas experiências importam, nossa escrita tem voz, e nossa dor também merece palco. Ser uma autora independente nesta Bienal é a prova de que é possível transformar a dor em mensagem, e o invisível, em potência”, finaliza.

A 2ª Bienal do Livro de Taboão da Serra é realizada com incentivo do Proac – Edital Fomento CultSP PNAB nº 39/2024. Ministério da Cultura-Governo Federal. O evento conta ainda com apoio da Prefeitura Municipal de Taboão da Serra e da Secretaria de Educação .
 
Serviço:
2ª Bienal do Livro de Taboão da Serra
Entrada gratuita com ingresso no site: https://bienaldotaboao.com.br/
Data: 21 a 24 de agosto de 2025
Horário: das 10h às 20h (quinta a sábado) e das 8h às 14h (domingo)
Local: R. Pedro Mari, 80 - Parque Assunção, Taboão da Serra
Estacionamento gratuito
Praça de alimentação no local
Acessibilidade
Classificação etária:livre