Criar ambientes seguros, com acolhimento e escuta ativa, é uma das partes mais importantes do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Quando as meninas têm acesso a espaços onde podem ser quem são, expressar suas opiniões e construir vínculos de confiança, crescem mais fortalecidas, pessoal e coletivamente. É com essa missão que atua a Mempodera, organização sem fins lucrativos que oferece atividades de wrestling e inglês introdutório ao esporte de forma gratuita para crianças e adolescentes, entre de 6 e 17 anos. Mais do que ensinar, a proposta é criar vivências significativas, em um ambiente lúdico, educativo e transformador.
Com as atividades realizadas em um espaço seguro e com oportunidades para serem quem são, as alunas treinam wrestling e participam de oficinas com os mais diversos temas. “Cada aula é uma novidade. A equipe é bastante conversadora e respeitosa, e eu acho muito bacana que ela chega em casa contando sobre as rodas de conversa, que sentam e falam sobre o respeito, como se comportar com o outro e até como agir. Nós, como pais, estamos incentivando elas a cada dia mais respeitarem o próximo, e quando você vê um projeto que incentiva seu filho a isso, é muito importante”, destaca Deise Santos Albuquerque, mãe de Mayarah Albuquerque, que há quatro meses participa das atividades da Mempodera.
Mayarah tem 10 anos e é aluna na Escola Municipal José Pereira Soares, uma unidade em que a Mempodera atua em Pedro de Toledo (SP). Apesar do pouco tempo, a mãe já relata o grande passo de desenvolvimento da filha. “Ela anda mais falante e ativa, além de gostar muito de participar das aulas. No dia a dia, percebo o quanto é comunicativa, mas volta de lá radiante. Além da luta, elas acabam aprendendo inglês. A gente fica com receio quando ouve falar em luta, mas como ela estava tão empolgada, eu deixei. Quando voltou, contou que gostou e que queria continuar”, afirma.
Quem também percebeu mudanças foi Elizangela Pinto Saraiva, mãe de Sara Vitória, também de 10 anos. A menina participa das atividades há cerca de seis meses na Escola Negro Cosme, no bairro Liberdade, em São Luís (MA), o maior quilombo urbano do país. “Ela mudou muito no comportamento, disciplina, educação, empoderamento e nos estudos. Toda terça-feira participa das aulas e volta contando sobre o inglês, as rodas de conversa e sobre a luta”, conta. Elizangela também reforça que não teve receio ao saber que a filha praticaria wrestling. “Confio no projeto. São profissionais capacitadas e de grande importância para o esporte e para o cuidado com as crianças”.
Histórias impactam professores
Renata Rodrigues Diniz é professora de Educação Física e dá aulas de wrestling na Mempodera. Segundo ela, um dos impactos da organização é a construção da autoconfiança das alunas. “Não no sentido da arrogância, pois não ensinamos isso, mas no sentido delas olharem para si mesmas e perceberem que são capazes de executar atividades, das mais simples às mais complexas”, explica. Para a educadora, esse reconhecimento interno faz com que as meninas se desafiem mais, ganhem autonomia e fortaleçam sua independência. “Elas também se apoiam muito entre si, incentivam umas às outras nas aulas. É bonito de ver".
Entre os muitos casos que vivenciou, Renata lembra de uma aluna que chegou a Mempodera retraída e insegura, após ter sofrido abusos na infância. “Ela não saía de casa, a não ser para ir à escola. Foi levada por uma amiga ao projeto. Com o tempo, vimos a transformação acontecer: ela começou a sonhar alto, a se sentir mais bonita, mais alegre e motivada. Esse é só um exemplo de como a organização está alcançando seus objetivos — e indo além”, afirma.
Ainda de acordo com Renata, o vínculo entre educadoras e famílias é o que fortalece a continuidade do impacto. “As mães compartilham conosco as mudanças que percebem nas filhas. A confiança se constrói junto. Conheci muitas delas nas reuniões, e esse envolvimento faz toda a diferença”, comenta. Ela também destaca que a transformação não atinge apenas as alunas: “O impacto chega até nós, professoras, à equipe escolar e a todos que fazem parte do projeto”.
Lugares seguros fazem parte de metodologia própria
Para que os espaços seguros e os ensinos de empoderamento sejam um sucesso, ter uma equipe capacitada para replicar o método é fundamental. Na Mempodera, todos atuam com base na metodologia criada dentro da organização por uma equipe multidisciplinar. Um dos princípios dela é entender que o empoderamento feminino, racial e social nem sempre começa na infância, mas pode ser construído ao longo da vida quando há pessoas e lugares que favoreçam esse desenvolvimento.
O método é sustentado por seis pilares: ambiente seguro; postura acolhedora da equipe; inclusão e diversidade; intencionalidade; cooperação; e uso de jogos e brincadeiras como ferramenta de aprendizagem. Com isso, mais do que ensinar a luta e o inglês, a Mempodera cria um espaço onde meninas podem se reconhecer, se fortalecer e projetar futuros com mais oportunidades. Todas as atividades são planejadas com propósito. A escuta ativa, o acolhimento, a valorização da diversidade e o uso do lúdico são meios que ajudam a construir relações de confiança, estimular o senso de coletividade e garantir segurança emocional e física para todas.
Sobre a Mempodera
A Mempodera é uma organização que oferece atividades de wrestling e inglês introdutório ao esporte para crianças e adolescentes de seis a 17 anos, de forma gratuita, desde 2018 com apoio do Ministério do Esporte, por meio da Lei de Incentivo Federal. A organização conta com o patrocínio da Neoenergia, Redecard Itaú, Unipar, Vivara, B3, CMOC Brasil e Transpetro. O projeto promove a igualdade de gênero por meio do esporte, da educação e do fortalecimento de vínculos. Atuando em Cubatão, Itariri e Pedro de Toledo (SP) e São Luís (MA), mais de 750 jovens já passaram pela organização e tiveram suas vidas transformadas. Mais informações em www.mempodera.com
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SABRINA FERNANDES DANTAS DE SANTANA
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