Rampas quebradas, ausência de intérpretes de Libras, falta de treinamento para lidar com visitantes autistas ou com limitações motoras. A realidade do turismo brasileiro ainda está longe de ser inclusiva. Mesmo com leis que garantem o direito de ir e vir, mais da metade dos turistas com deficiência deixam de viajar por falta de acessibilidade, segundo estudo do Ministério do Turismo, e expõe as barreiras reais existentes — físicas, tecnológicas e, principalmente, de atitudes.
Para Santuza Macedo, especialista em turismo inclusivo e CEO da Diamond Viagens, é urgente enxergar a acessibilidade como um ponto de inclusão social, cidadania e fomento econômico. “O turismo acessível só se concretiza quando percebemos que não se trata apenas de construir rampas, mas de capacitar pessoas, informar com empatia e adaptar todo sistema para atender com dignidade, Incluir pessoas com deficiência, neurodivergência ou restrições de mobilidade em roteiros turísticos é um passo civilizatório. É garantir pertencimento, autonomia e bem-estar”, declara.
O estudo do MTur mostra que 53,5% dos brasileiros com deficiência afirmam ter deixado de viajar por falta de estrutura. Ainda que a Lei Brasileira de Inclusão (nº 13.146/2015) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência estabeleçam o turismo como um direito, na prática faltam adaptações nos atrativos, formação dos profissionais e campanhas informativas.
Os desafios se multiplicam para quem vive com transtornos do espectro autista, deficiência auditiva, visual ou mobilidade reduzida. Além da acessibilidade física, muitos enfrentam barreiras comunicacionais e atitudinais, desde a ausência de informações adaptadas até o despreparo de quem atua nos pontos turísticos.
“Quando falamos em turismo acessível, não basta pensar em rampas e banheiros adaptados. É preciso oferecer sinalização adequada, linguagem simples, pisos táteis, audioguias, intérpretes, além de capacitação para lidar com as diferentes realidades. A inclusão começa na escuta e na empatia”, afirma Santuza.
Em meio às dificuldades, algumas iniciativas vêm se destacando. A cidade de Socorro (SP) virou referência nacional ao criar circuitos de turismo de aventura acessível, capacitar equipes, adaptar ruas e incluir sete modalidades esportivas inclusivas. Já em São Paulo, o Centro de Memória Dorina Nowill recebeu reconhecimento internacional por sua estrutura inclusiva com painéis em braille, audiodescrição e acessibilidade arquitetônica.
No Sul Fluminense, onde Santuza atua com excursões da terceira idade, ainda são poucas as iniciativas focadas em acessibilidade total, mas há avanços em roteiros de natureza com trilhas adaptadas, sinalização visual e oferta de transporte com embarque facilitado.
“Ainda há um longo caminho no interior do Rio. Falta vontade política e investimento. Mas temos observado, com otimismo, pequenos empresários e agentes de turismo buscando formação e parcerias para tornar seus roteiros mais acessíveis e acolhedores”, comenta Santuza.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de deficiência. Apenas no Brasil, são mais de 18,6 milhões com deficiência, segundo o IBGE (2022). Além disso, há mais de 32 milhões de idosos no país. Ignorar esse público é, segundo a especialista, desperdiçar oportunidades de inclusão e de geração de renda.
“O turismo acessível precisa ser pensado como política pública permanente, com incentivos fiscais, editais para adaptação de atrativos e formação contínua. É mais do que inclusão: é desenvolvimento com responsabilidade social”, conclui.
Sobre Santuza Macedo:
Santuza Macedo é empreendedora e especialista em turismo e cruzeiros. CEO da Diamond Viagens, possui vasta experiência internacional e atuou em Orlando (EUA), com foco em experiências personalizadas para turistas brasileiros. Hoje, promove roteiros e excursões no Brasil, com destaque para o Sul Fluminense, além de oferecer consultoria para quem deseja ir para Orlando.
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PAULO NOVAIS PACHECO
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