“Ele vai falar quando quiser.” “Cada criança tem seu tempo.” “É só preguiça de falar.” Essas frases, embora muito comuns entre familiares e até alguns profissionais, podem esconder um problema sério: o atraso no desenvolvimento da fala. Ignorar os sinais pode levar a um diagnóstico tardio e dificultar o progresso da criança em áreas como aprendizagem, socialização e comportamento.
A fonoaudióloga Angelika dos Santos Scheifer, especialista em atraso de fala infantil, conhece essa realidade de forma íntima. Mesmo já tendo como foco de estudo e atuação clínica o atraso na fala infantil, ela passou pela experiência pessoal com o filho mais velho, Arthur.
“Ele demorou para imitar, dar tchau, se comunicar de forma organizada para falar. Foi aí que comprovei na prática que as estratégias de consultório não funcionam na relação entre mãe e filho. Demorei para entender que eu não poderia ser a fono dele. Aquilo me acendeu um alerta e, ao buscar respostas, acabei me apaixonando pelo preparo dos pais para lidar com o atraso na fala dos filhos e me dedicando a ajudar outras famílias que passam pelo mesmo desafio”, conta.
Segundo Angelika, inclusive a forma como os marcos são observados, muda de pais para profissionais, afinal, ao se falar de família falta o olhar técnico para perceber nuances desse desenvolvimento. Um bom guia para os pais é:
Quando esses marcos não são atingidos, o ideal é procurar uma avaliação fonoaudiológica. “A fala não surge do nada. Ela depende de uma sequência de evoluções de base linguística, cognitiva, motora, auditiva e social. O atraso no desenvolvimento de uma habilidade ocasionará o atraso de todas as seguintes, por isso ignorar os sinais atrasa não só a comunicação, mas todo o desenvolvimento global da criança”, explica a especialista.
Muitos pais acreditam que o atraso de fala se resume à ausência de palavras, mas Angelika aponta que os primeiros sinais geralmente aparecem bem antes disso — e muitas vezes são sutis. Veja alguns deles:
“Esses comportamentos não devem ser encarados como ‘frescuras’ ou características de personalidade. São sinais de que a linguagem e a comunicação não estão se desenvolvendo como deveriam”, afirma Angelika.
A especialista reforça que quanto mais cedo ocorre a intervenção, melhores são os resultados. “Além da janela de desenvolvimento neurobiológico na infância que precisa ser bem aproveitada, precisamos evitar o acúmulo de habilidades atrasadas, quanto antes começarmos o estímulo adequado antes essa criança passa a acompanhar o desenvolvimento esperado para a idade. Crianças atendidas antes dos 3 anos tendem a ter ganhos muito mais significativos e a permanecer menos tempo em suporte fonoaudiológico”, explica.
Por isso, Angelika usa também suas redes sociais, onde reúne mais de 45 mil seguidores, como ferramenta de educação e acolhimento. “Minha missão é informar e empoderar famílias para promover o melhor desenvolvimento de fala nas crianças. Nenhuma mãe precisa se sentir culpada ou sozinha. Mas é essencial que elas tenham acesso às informações corretas para agir da forma e no tempo certo.”
A orientação da fonoaudióloga é clara: quando há dúvida, é melhor investigar do que esperar. “Não existe prejuízo em avaliar uma criança que está se desenvolvendo normalmente. Mas esperar demais por um ‘milagre da fala’ pode atrasar a intervenção e comprometer habilidades fundamentais”, finaliza.
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JÚLIA KLAUS BOZZETTO
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