Falta de acessibilidade em cartórios pode comprometer segurança jurídica de pessoas surdas

KEYLA ASSUNçãO
07/08/2025 18h03 - Atualizado há 18 horas

Falta de acessibilidade em cartórios pode comprometer segurança jurídica de pessoas surdas
Divulgação
Em um país com mais de 10 milhões de pessoas com algum grau de surdez, a acessibilidade comunicacional em serviços essenciais, como os cartórios, ainda é uma barreira significativa. Disponibilizar intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) — presencialmente ou por meio de plataformas acessíveis — durante os atendimentos cartorários não é apenas uma exigência legal: é uma ação fundamental para garantir respeito, segurança e prevenir situações de fraude ou má interpretação.
A falta de acessibilidade nos cartórios pode comprometer tanto a validade quanto a transparência de documentos importantes, como registros, procurações, testamentos e reconhecimentos de firma. Sem a presença de um intérprete de Libras, pessoas surdas correm o risco de assinar documentos que não entenderam completamente. Além disso, um atendimento que não respeita as necessidades linguísticas pode gerar situações constrangedoras ou até discriminatórias.
A legislação brasileira é clara quanto ao direito à comunicação acessível. A Lei 10.436/2002, regulamentada pelo Decreto 5.626/2005, reconhece Libras como meio legal de comunicação e exige que órgãos públicos, como os cartórios, assegurem atendimento adequado. O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) reforça o compromisso com a acessibilidade universal, incluindo serviços notariais e registrais.

“Quando uma pessoa surda comparece a um cartório, ela precisa ter garantido seu direito à informação e à compreensão de tudo o que está sendo feito. Isso não é um diferencial, é um direito previsto em lei. Mais do que isso: é uma forma de garantir a segurança jurídica do ato”, diz Cleber Santos, CEO da Helpvox, empresa especializada em tecnologia para pessoas surdas.
Embora alguns cartórios no país já estejam implementando medidas inclusivas — como intérpretes presenciais ou por videoconferência, além da capacitação de funcionários em Libras —, essas iniciativas ainda são pontuais e geralmente dependem da vontade de cada gestor.
Para Luciana Teixeira de Araujo, oficial e tabeliã substituta do Cartório do Jaraguá, em São Paulo (SP), é essencial que esses serviços sejam mais divulgados, para que as pessoas surdas se sintam seguras e bem-vindas nos cartórios. É importante que, desde o primeiro contato, elas saibam que podem solicitar o apoio de um intérprete sem constrangimento. Libras é a segunda língua oficial do Brasil, mas ainda é pouco conhecida — e muitas vezes ignorada. Falar a língua da pessoa surda faz toda a diferença. Esse gesto transmite acolhimento, respeito e verdadeira inclusão”, destaca Luciana.
“Com o apoio da Associação dos Notários e Registradores (Anoreg), contamos com o serviço de intérpretes de Libras e garantimos um atendimento acessível, respeitoso e sem barreiras para a comunidade surda. Esses profissionais nos ajudam a levar nossos serviços com mais empatia, clareza e cuidado, fazendo com que todos se sintam verdadeiramente acolhidos nas serventias”, diz Luciana. 
Adotar protocolos padronizados de acessibilidade nos cartórios vai muito além de cumprir uma exigência legal. É uma demonstração de compromisso com a equidade, a justiça e a inclusão de todos os cidadãos — surdos ou ouvintes.
"É inegável que as pessoas surdas, infelizmente, estão mais vulneráveis quando se trata de tentativas de fraude. A barreira na comunicação pode ser explorada de maneira injusta por quem age de má-fé, e por isso nosso papel como profissionais é garantir segurança, clareza e respeito em cada atendimento”, completa a tabeliã.
 
 

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KEYLA RAMOS ASSUNCAO
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