A transformação digital nas empresas brasileiras e globais está ganhando um novo formato: as chamadas "fábricas digitais". Diferentemente da terceirização tradicional de projetos tecnológicos, esse modelo centraliza o desenvolvimento de soluções digitais em estruturas próprias, com equipes multidisciplinares dedicadas exclusivamente à inovação tecnológica.
Segundo dados da consultoria IDC, os investimentos globais em transformação digital devem atingir US$2,8 trilhões até o final de 2025, com crescimento anual de 16,4%. No Brasil e no mundo, o movimento ganhou impulso durante a pandemia, quando 85% das empresas aceleraram seus processos de digitalização, conforme levantamento da Harvard Business Review.
No cenário nacional, grandes corporações já experimentam variações do modelo. O setor bancário tem sido pioneiro, com instituições criando equipes internas especializadas em automação de processos como onboarding digital e sistema antifraude. No varejo, redes desenvolvem internamente aplicativos e sistemas de recomendação de produtos.
"Estamos vendo uma mudança de paradigma. As empresas querem ter controle total sobre suas soluções digitais, desde a concepção até a manutenção. Um exemplo é a multinacional Nestlé, que inaugurou uma unidade digitalizada em Caçapava, São Paulo, integrando tecnologia 5G com automação industrial, resultando em aumento de produtividade superior a 10%. A siderúrgica Gerdau implementou inteligência artificial e redes 5G privativas em sua planta de Ouro Branco (MG) para monitoramento logístico”, exemplifica o Diretor de Portfólio da Keyrus, Allan de Aveiro.
Casos internacionais incluem experimentos da Bayer com "gêmeos digitais" em fábricas de sementes e projetos de automação da Adidas - embora a empresa tenha encerrado sua Speedfactory alemã em 2019, citando desafios de escala e custos operacionais.
Fábricas digitais e o papel das plataformas na transformação
A consolidação das fábricas digitais está diretamente ligada à adoção de plataformas digitais. Essas plataformas são responsáveis por conectar produtos, serviços e dados em um ecossistema integrado, potencializando os ganhos da digitalização.
"Uma fábrica digital eficaz opera não apenas desenvolvendo soluções, mas também integrando essas soluções em plataformas robustas que permitem escalar e personalizar ofertas com rapidez e segurança", observa Allan.
Empresas que conseguem alinhar suas fábricas digitais com plataformas de dados, serviços e canais digitais criam vantagens competitivas mais duradouras, especialmente em setores com alta exigência de inovação contínua e experiência digital.
O especialista alerta para obstáculos significativos na implementação do modelo. "Não é apenas sobre tecnologia. Ela requer uma mudança cultural profunda e investimento substancial em capital humano", pondera o diretor da Keyrus.
Para ele, entre os principais desafios estão:
Um estudo da Deloitte indica que 70% das grandes empresas globais já operam algum tipo de estrutura digital interna, com retorno sobre investimento médio de 2,5 a 4 vezes em até 18 meses, números que variam significativamente conforme o setor e porte da empresa. "O modelo funciona bem para empresas com volume suficiente de demandas digitais. Para outras, a terceirização estratégica ainda pode ser mais eficiente", avalia Allan.
A consolidação das fábricas digitais está redefinindo o perfil profissional demandado pelo mercado. Além de competências técnicas, cresce a procura por profissionais que combinem conhecimento tecnológico com visão de negócios.
Segundo projeções do Fórum Econômico Mundial, as tendências mundiais em transformação, como tecnologia, economia, demografia e a transição verde, devem gerar 170 milhões de novos empregos até 2030.
Para o especialista, o sucesso das fábricas digitais dependerá da capacidade das empresas de equilibrar inovação tecnológica com sustentabilidade financeira. O modelo não é adequado para todas as organizações, mas tende a se consolidar entre grandes corporações com alta demanda por soluções digitais customizadas.
"A questão não é se as fábricas digitais vão se expandir, mas quais empresas conseguirão implementá-las de forma eficiente e sustentável. A tendência aponta para um mercado mais segmentado, onde fábricas digitais internas coexistirão com modelos híbridos e terceirização especializada, cada um atendendo diferentes perfis empresariais e necessidades de transformação digital”, finaliza Allan de Aveiro.
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
STEFANI PEREIRA SOARES
[email protected]