Voa Brasil e a realidade dos aposentados: por que viajar ainda está fora do alcance de milhões de idosos no país?

Especialista em turismo analisa os entraves da mobilidade na terceira idade e aponta que programas de incentivo, como o Voa Brasil, ignoram os custos reais de uma viagem

TINTEIRO ASSESSORIA DE IMPRENSA
04/08/2025 07h29 - Atualizado há 3 horas

Voa Brasil e a realidade dos aposentados: por que viajar ainda está fora do alcance de milhões de idosos no
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Lançado com a promessa de democratizar o acesso às viagens aéreas para aposentados, o programa Voa Brasil completa um ano com adesão de 1,5% da meta. Segundo dados do próprio Ministério de Portos e Aeroportos, apenas uma parcela mínima dos brasileiros elegíveis utilizou as passagens com valor promocional, o que levanta um alerta sobre a efetividade da proposta diante da realidade do público-alvo.

Para a especialista em turismo Santuza Macedo, CEO da Diamond Viagens, o problema vai além do preço da passagem. “A grande falha dos programas como o Voa Brasil é ignorar que o transporte não é o único custo de uma viagem. Quando olhamos para a população idosa, precisamos considerar hospedagem, alimentação, deslocamentos locais, remédios, acessibilidade, acompanhamento, e até mesmo o medo de viajar sozinhos”, afirma.

Entre o direito e a prática: o que o Estatuto do Idoso garante

A legislação brasileira já prevê benefícios para pessoas com 60 anos ou mais no transporte rodoviário interestadual: são ao menos duas vagas gratuitas por veículo e, caso esgotadas, desconto de 50% no valor da passagem. Mas, segundo levantamento do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), muitos idosos sequer conseguem fazer valer esse direito, seja pela limitação no número de assentos, falta de informação ou pela baixa frequência de ônibus nas rotas.

No caso do transporte aéreo, que o Voa Brasil tenta popularizar, a desigualdade fica ainda mais evidente. “Mesmo pagando R$ 200 em uma passagem aérea, como o programa propõe, um idoso de baixa renda precisa arcar com hospedagem, alimentação fora de casa, táxis, seguros de viagem e, muitas vezes, acompanhante. A matemática simplesmente não fecha para boa parte da população aposentada”, reforça Santuza.

Um retrato da realidade: 7 em cada 10 aposentados não conseguem viajar

Segundo dados da Pnad Contínua (IBGE, 2024), mais de 70% dos aposentados brasileiros recebem até dois salários mínimos. Isso significa que viagens continuam sendo um luxo distante para a maioria. 

A pesquisa aponta que a renda domiciliar média per capita alcançou R$ 2.020, o valor mais alto desde 2012, com alta de 4,7% em relação a 2023. Ao olhar para as aposentadorias e pensões o valor é de aproximadamente R$ 2.528 por mês, um pouco acima mais ainda assim muito distante de uma parcela considerável que tem rendimento proveniente de programas sociais (como BPC e Bolsa Família) onde a média atingiu R$ 836, maior marca da série histórica.

Em 2024 havia 29,2 milhões de aposentados e pensionistas no país. Combinados a esses dados, fica claro que a maioria dos aposentados vive com renda limitada a margem para arcar com os custos totais de uma viagem, mesmo gratuita ou com desconto no transporte, é apertada.

Embora a Pnad não detalhe individualmente só os aposentados com renda até dois salários mínimos, os dados confirmam que a renda média do aposentado é de cerca de R$ 2.528, inferior à média nacional (R$ 3.057)

“Muita gente confunde o envelhecer com uma fase de descanso e liberdade, mas, na prática, são milhões de idosos lidando com limitações financeiras, de saúde e mobilidade. A frustração é real quando se cria um programa que acende o desejo, mas não oferece suporte para o resto da jornada”, pontua a especialista.

Turismo para idosos precisa de política pública real

Santuza Macedo defende que o Brasil precisa avançar na construção de um turismo acessível e estruturado para a terceira idade, com incentivo a roteiros regionais, subsídios a pacotes completos e parcerias com o SUS e prefeituras locais para viagens supervisionadas e com foco em saúde, cultura e socialização. “Enquanto outros países já investem em caravanas, circuitos adaptados e políticas de bem-estar, o Brasil ainda pensa em turismo para idosos com a mesma lógica de quem planeja férias para jovens adultos”, critica.

A especialista aponta que, hoje, os roteiros de excursão com transporte, alimentação e guias credenciados continuam sendo a forma mais segura e viável para esse público. Mas sem incentivos públicos, o alcance permanece restrito. “Existe demanda. O que falta é visão estratégica para entender que o turismo da terceira idade também é uma política de saúde, inclusão e cidadania”, conclui.

 

Sobre Santuza Macedo:
Santuza Macedo é empreendedora e especialista em turismo e cruzeiros. CEO da Diamond Viagens, possui vasta experiência internacional e atuou em Orlando (EUA), com foco em experiências personalizadas para turistas brasileiros. Hoje, promove roteiros e excursões no Brasil, com destaque para o Sul Fluminense, além de oferecer consultoria para quem deseja ir para Orlando.

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PAULO NOVAIS PACHECO
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