O desafio era antigo: como monitorar grandes áreas de restauração florestal com eficiência, precisão e segurança, sem depender exclusivamente de inspeções manuais em campo? A resposta veio da união entre ciência aplicada, sensoriamento remoto e inteligência artificial no projeto VigIA — uma plataforma desenvolvida para acompanhar, com alto nível de detalhamento, a regeneração da vegetação em áreas de reservatórios hidrelétricos.
O VigIA, fruto do programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) (PD 11484-0013-2023), otimiza o trabalho de campo, reduz custos e permite decisões mais ágeis e seguras, reforçando a sustentabilidade na geração hidrelétrica.Idealizada pelo Lactec em parceria com a SPIC Brasil, a solução se insere no programa de reflorestamento ciliar da Usina Hidrelétrica São Simão (localizada no rio Paranaíba, entre os estados de Minas Gerais e Goiás), que busca restaurar, até o fim da concessão, cerca de 1.450 hectares de mata nativa ao longo das margens do reservatório.
Para isso, a plataforma VigIA emprega drones equipados com sensores LiDAR e câmeras multiespectrais, coletando dados tridimensionais e espectrais da vegetação em tempo real.Essas informações são processadas por algoritmos de inteligência artificial — como Yolact e Awesome Semantic Segmentation — capazes de gerar diagnósticos automáticos sobre a saúde da vegetação, a densidade das copas, falhas no plantio e demais indicadores florestais. Com isso, gestores ambientais, engenheiros e tomadores de decisão ganham acesso a painéis interativos com métricas precisas, alertas personalizados e sugestões de manejo em uma interface web intuitiva.
Antes da adoção do sistema, o trabalho de inventário florestal era demorado, custoso e expunha equipes a condições operacionais adversas. Agora, com o apoio do VigIA, esse processo se tornou mais rápido, seguro e eficiente — reduzindo custos operacionais, otimizando recursos humanos e garantindo maior aderência às exigências ambientais da ANEEL e de órgãos fiscalizadores.“O que antes era uma obrigação regulatória passou a ser uma ferramenta estratégica de gestão”, afirma Marco Antonio Rucinski, gerente de Meio Ambiente. “Foi esse o ponto de virada: perceber que, com dados confiáveis e análises automatizadas, poderíamos transformar o monitoramento em valor para toda a organização”.
A plataforma também promove transferência de tecnologia e capacitação técnica, estimulando a autonomia das equipes da concessionária e fomentando o uso prático de geotecnologias avançadas por pesquisadores, estudantes e profissionais do setor. Além disso, contribui diretamente para metas globais de sustentabilidade, como a conservação da biodiversidade e a redução de emissões de carbono — alinhando a solução aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 7, 15 e 17) e às diretrizes ESG, que significa Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança, em português).
O impacto é amplo e multidimensional: concessionárias ganham em eficiência e compliance; órgãos reguladores contam com dados rastreáveis e auditáveis; e a sociedade se beneficia com ecossistemas mais saudáveis e ações concretas de descarbonização. Pelo pioneirismo e impacto positivo gerado, o projeto VigIA ficou entre as 5 empresas vencedoras, do Campeãs da Inovação 2025, na categoria “Estatais, Filantrópicas e Organizações sem Fins Lucrativos”.
A premiação, baseada na metodologia do Global Innovation Management Institute e aplicada pelo IXL-Center, destaca organizações que transformam ideias em resultados tangíveis. “Esse reconhecimento reforça o papel do Lactec como um dos protagonistas nacionais na convergência entre inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental”, destaca Marco Antonio Rucinski.