O médico-veterinário Dr. Marcelo Müller, especializado em bem-estar animal e atendimento domiciliar, afirma que a vergonha impede diagnósticos e soluções:
“É um dos comportamentos que mais causam constrangimento aos tutores. Muitos se sentem enojados ou culpados, mas antes de julgar o pet, é preciso entender a causa. Em alguns casos, é doença; em outros, comportamento aprendido que se torna vício.”
Coprofagia é o ato de ingerir fezes, seja as próprias, de outros pets ou até de humanos. Embora pareça estranho do ponto de vista humano, para animais pode ser multifatorial, com raízes evolutivas, nutricionais, médicas ou comportamentais.
Instinto e comportamento natural
Fêmeas ingerem fezes dos filhotes para manter o ninho limpo. Alguns cães retêm esse comportamento por aprendizado.
Deficiências nutricionais
Dietas pobres em nutrientes ou absorção intestinal inadequada podem induzir o pet a buscar compostos não digeridos nas fezes.
Problemas digestivos ou metabólicos
Insuficiência pancreática exócrina (IPE), parasitoses, diabetes mellitus ou síndromes de má absorção podem causar coprofagia compulsiva.
Busca de atenção ou tédio
Animais sozinhos por longos períodos ou sem estímulo mental podem comer fezes como comportamento exploratório ou para chamar atenção.
Ambiente sujo ou restrito
Locais com fezes acumuladas podem induzir ingestão por hábito de limpeza instintiva.
Coprofagia alopática
Animais que comem fezes de outros pets ou humanos, elevando riscos de transmissão de doenças.
Hábito que vira vício (compulsão)
Quando repetida frequentemente sem correção, a coprofagia pode se tornar compulsiva, tornando o comportamento mais difícil de modificar.
Estudos indicam que algumas raças têm maior predisposição à coprofagia, como:
✔ Labrador Retriever
✔ Golden Retriever
✔ Beagle
✔ Pastor Alemão
✔ Poodle
Segundo Dr. Müller, isso pode estar relacionado a maior motivação alimentar ou histórico de seleção para comportamentos de limpeza.
✔ Parasitas intestinais: giardíase, coccidiose, verminoses
✔ Bactérias: Salmonella, E. coli
✔ Doenças zoonóticas: riscos aumentados ao tutor em contato com lambidas ou beijos após o ato
✔ Alterações comportamentais: ansiedade, compulsão e estresse podem intensificar o comportamento
“Além do risco físico, há impacto no vínculo afetivo. Muitos tutores se sentem tão constrangidos que punem o pet ou evitam interações, o que piora o quadro emocional do animal,” destaca Marcelo Müller.
O atendimento domiciliar é ideal para investigar causas reais, avalia Dr. Müller:
“Em casa, observo alimentação, rotina de passeios, frequência de limpeza e comportamento em tempo real. Muitas vezes o tutor nem percebe que o pet come fezes porque faz isso no quintal enquanto está sozinho.”
✅ Avaliação veterinária completa
Exames de fezes, sangue, função pancreática e avaliação nutricional são o primeiro passo para excluir causas clínicas.
✅ Correção alimentar
Mudanças na dieta, ajuste de ração ou suplementação podem ser necessários.
✅ Enriquecimento ambiental
Aumentar brincadeiras, estímulos mentais (como brinquedos recheáveis ou comedouros lentos) e passeios diários.
✅ Retirada imediata das fezes
Limpeza frequente do local para eliminar acesso.
✅ Treinamento positivo
Ensinar comandos como “deixa” ou “não” sem punição física ou agressiva.
✅ Produtos aversivos (quando indicados)
Em casos persistentes, existem produtos prescritos pelo veterinário que alteram o sabor das fezes, desestimulando o ato.
❌ Punições agressivas ou esfregar o focinho nas fezes (gera medo, ansiedade e reforça o comportamento)
❌ Restringir alimentação sem avaliação veterinária
❌ Ignorar o problema esperando que “passe sozinho”
A coprofagia é um comportamento constrangedor para os tutores, mas extremamente comum em cães e que merece abordagem veterinária cuidadosa, sem julgamentos.
“Quando o tutor entende que não é questão de ‘nojo’ ou má criação, mas sim de saúde, aprendizado e bem-estar, fica mais fácil buscar ajuda e melhorar a qualidade de vida do pet,” finaliza Dr. Müller.
Dr. Marcelo Müller é médico-veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, e especializado em bem-estar animal. Atua em atendimento domiciliar, promovendo cuidados seguros, prevenção de doenças e orientações comportamentais individualizadas, sempre com foco na saúde integral e no vínculo entre tutores e pets.
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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