Ansiedade nas férias: quando o tempo livre pesa mais do que alivia
ProImprensa Comunicação
16/07/2025 18h12 - Atualizado há 3 horas
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As férias escolares chegaram e, com elas, aquele velho ideal escorregadio de descanso absoluto. A promessa de alegria e leveza ocupa vitrines e propagandas, mas, no cotidiano de muitas famílias, a realidade aparece com outra textura: mais densa e mais inquieta. Há quem sinta, nesse intervalo, uma ansiedade que não se nomeia facilmente, mas se sente no corpo, nas horas que arrastam, nas exigências invisíveis de estar bem. Não é defeito. Talvez só estejamos tentando respirar dentro de uma ideia sufocante de "tempo livre". A avaliação é da psicóloga Lua Helena Moon Martins Cardoso, da Hapvida. Ela recorda que, para as crianças, "a escola não é apenas lugar de aprender; é também eixo. Um espaço previsível, onde os dias têm mapa e os encontros seguem roteiro. Quando isso some de repente, o mundo interno pode ficar descompassado. O tédio dói e o excesso de estímulo digital entorpece". A psicóloga avalia que, nesse cenário, os pais tentam "manter tudo em pé, mas também se veem à deriva, sem a âncora da rotina. Férias, então, viram um tempo sem contorno, que mais exige do que alivia. Há uma espécie de vácuo identitário que se abre: quem somos quando nada nos estrutura?" A especialista diz que, entre as crianças, essa ansiedade raramente aparece com palavras, mas se mostra em irritação, no apetite que some e no sono quebrado. Aqui ela faz um alerta: "Isso não é birra. É só o corpo tentando organizar o caos por dentro. O problema é que, quase sempre, a resposta vem em forma de tela. E não é por mal, mas por desespero". Os efeitos em casa da proibição do celular nas escolas Os efeitos da lei nacional que vetou o uso de celulares nas escolas ainda não foram medidos quando se avalia o comportamento, em casa, dos estudantes atingidos pela mudança. Porém, Lua alerta que a tela "silencia o grito – não o escuta". E aponta ainda uma armadilha silenciosa nesse período. "Há a obrigação de aproveitar tudo, de extrair felicidade de cada dia e criar memórias lindas para postar. Como se descansar fosse performar prazer. Mas talvez descansar seja só isso: existir, em silêncio, sem culpa, com alguém ao lado dizendo baixinho: 'tá tudo bem, não precisa correr'", explica. Uma das alternativas é criar momentos vivos, e não moldes, reforça Lua, que aponta novas visões da questão. "Reduzir o tempo de tela pode ser mais eficaz quando o foco muda: ao invés de cortar, que tal redirecionar? Propor, por exemplo, um desafio criativo em casa: montar uma playlist colaborativa das férias, fazer vídeos estilo 'vlog' juntos ou recriar uma cena de filme com figurino improvisado". A psicóloga recorda que há adolescentes que passam horas construindo mundos no Minecraft, mas os pais nunca perguntaram o que existe neles. "Por que não entrar e explorar esse universo com curiosidade real? Ou transformar o fim de tarde num 'café sem pressa', no qual cada um traz algo para compartilhar, que pode ser um meme, uma lembrança, uma indignação". São ações transformadoras que podem ser adotadas além do período de férias. Nesse contexto, Lua defende reinventar o encontro familiar. "Quando os adultos param de tentar salvar os filhos do mundo deles e começam a habitá-lo com presença, surgem vínculos que não se apagam na próxima notificação". Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
ROGERIO TADEU RUEDA JUNIOR
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