Inteligência artificial pressiona empresas a reconfigurar processos em meio à reforma tributária

Avanço da IA generativa e, especialmente, dos chamados agentes autônomos, exige um novo tipo de preparação organizacional

CAROLINA MONTEIRO
15/07/2025 14h36 - Atualizado há 1 dia

Inteligência artificial pressiona empresas a reconfigurar processos em meio à reforma tributária
Imagem: Divulgação

A convergência entre inteligência artificial (IA) e reforma tributária está impondo uma transformação sem precedentes no ambiente de negócios brasileiro. Não se trata apenas da adoção de novas ferramentas tecnológicas ou da reestruturação do sistema fiscal. O movimento atual exige que empresas repensem profundamente suas estruturas operacionais, processos de tomada de decisão e modelos de gestão. Com a reforma promovendo uma reconfiguração das obrigações fiscais e a IA avançando em velocidade exponencial, o ponto de interseção entre essas duas forças já redefine a forma como organizações se posicionam estrategicamente. Essa nova realidade foi o eixo central de debates na edição 2025 do Conexão WK, que ocorreu na última semana em Blumenau/SC e reuniu mais de 1000 pessoas.

As discussões no evento foram norteadas por um senso de urgência: a adaptação não pode ser mais gradual. O avanço da IA generativa e, especialmente, dos chamados agentes autônomos, exige um novo tipo de preparação organizacional. Ao mesmo tempo, a transição para o modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) com split payment e apuração assistida demanda precisão fiscal e controle sistêmico como nunca antes. “A convergência entre essas duas agendas representa talvez a maior reconfiguração do sistema empresarial brasileiro em todos os tempos”, afirmou Márcio Tomelin, diretor de Produto e Mercado da WK, durante sua palestra de abertura. Segundo ele, empresas que não sincronizarem seus dados e processos com essa nova ordem correm o risco de perder competitividade ou se tornarem obsoletas.

Para Tomelin, a pressão causada por esse novo cenário vai além da conformidade. “A IA deixou de ser vantagem competitiva. Ela virou pré-requisito. Mas ela exige algo que a maioria das empresas ainda não tem: dados limpos, integrados, em tempo real. É aí que a reforma tributária pode ajudar”, destacou. Ele também alertou para o risco da chamada “ortodoxia empresarial”, termo que usou para definir a resistência a mudanças. “A adoção de IA só entrega valor quando se repensam processos. Seguir operando do mesmo jeito é o que expõe o negócio ao maior risco”, completou.

Tecnologia e IA remodelam a gestão dos negócios

O evento mostrou que a inteligência artificial está se consolidando como um fator de disrupção transversal. Na gestão financeira, a consultoria McKinsey estima que até 38% das tarefas podem ser automatizadas, enquanto áreas como negócios e funções jurídicas podem ver até 55% de seu tempo técnico ser absorvido por sistemas autônomos. Além disso, segundo dados do Gartner apresentados por Tomelin, apenas 1% das empresas usam IA sobre domínio específico — proporção que deve saltar para 50% até 2028, com a proliferação das chamadas DSLMs (Domain-Specific Language Models). Isso muda radicalmente o papel dos sistemas de ERP: de meros repositórios de informação, passam a ser plataformas cognitivas, capazes de gerar decisões em tempo real.

Esse potencial, no entanto, só se materializa com sistemas organizacionais que não estejam fragmentados. Durante a apresentação, Tomelin destacou o alerta feito por dois dos maiores players de ERP no país: empresas que possuem sistemas excessivamente customizados ou integrados de forma manual correm risco elevado de falha ao implementar IA. “Customizações quebram padrões. E sem padrões, a IA não funciona”, afirmou.

O neurocientista Álvaro Machado Dias reforçou esse olhar estratégico. Para ele, a IA precisa ser vista menos como ferramenta e mais como novo paradigma. “Estamos diante da primeira tecnologia que, de fato, altera a forma como a subjetividade e a racionalidade operam juntas”, disse, durante sua palestra. Ele chamou atenção para o impacto nos modelos de decisão e no papel dos gestores. “A IA permite decisões que são mais rápidas, baseadas em dados e menos enviesadas. Mas isso exige novos protocolos éticos, de governança e de responsabilidade”, afirmou. Em sua análise, a maturidade digital das empresas será o principal fator de diferenciação competitiva da próxima década.

Reforma tributária exige redesenho operacional e tecnológico

Se por um lado a IA oferece alavancagem de produtividade e automação de decisões, por outro, a reforma tributária impõe uma nova lógica de funcionamento que obriga as empresas a reorganizarem profundamente sua operação. O fim da guerra fiscal entre estados, a padronização dos tributos e o mecanismo de split payment criam um ambiente de exigência por dados sincronizados, sistemas conectados em tempo real e capacidade analítica sobre fluxo de caixa, precificação e crédito tributário.

Tomelin apresentou um panorama dos impactos nos departamentos de finanças, vendas, compras, controladoria e TI, mostrando que nenhuma área fica imune. “A reforma não é sobre mudar alíquotas. É sobre mudar processos”, sintetizou. Ele lembrou que decisões erradas de precificação, baseadas em estruturas antigas, podem comprometer margens e competitividade. Já o novo modelo de crédito tributário, que exige manifestação eletrônica em tempo real, requer automações ainda pouco presentes na maioria das empresas.

Nesse ponto, a convergência entre IA e reforma tributária passa a ser vista como oportunidade. Com dados mais precisos, estruturados e padronizados — uma demanda trazida pela reforma — as empresas estarão aptas a adotar soluções de IA com maior segurança. “É justamente essa padronização que cria o ambiente ideal para a inteligência artificial ser aplicada com profundidade. Estamos falando de uma janela de transformação rara”, pontuou Tomelin.

Soluções e estratégias ganham protagonismo no Conexão WK

Durante o Conexão WK, a empresa anfitriã apresentou um conjunto de soluções que dialogam diretamente com essas demandas emergentes. Uma delas foi a Mik, uma IA especialista em finanças integrada ao ERP da WK, que permite interações conversacionais e análises em tempo real sobre fluxo de caixa, inadimplência e desempenho de vendas. Outra novidade foi o pacote WK Compliance Express, voltado para ajudar empresas a se anteciparem às exigências da reforma tributária, com implantação ágil e integração nativa ao novo modelo fiscal brasileiro.

Embora a WK tenha apresentado essas soluções, o tom do evento foi mais de provocação do que promoção. “Nosso papel aqui é provocar o mercado, mostrar que não se trata de se adaptar às regras, mas de transformar o jogo”, resumiu Tomelin. A mensagem final foi clara: as empresas que se moverem agora, com visão sistêmica e ação coordenada, terão vantagem competitiva no novo ciclo que se inaugura. A hesitação, neste contexto, pode ser o custo mais alto a pagar.


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Carolina Venciguerra Monteiro
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