Como psicóloga, eu enxergo as estações do ano não apenas como mudanças no clima, mas também como reflexo de ciclos internos que vivemos ao longo da vida. O inverno, por exemplo, representa um momento de pausa, recolhimento e silêncio. Ele nos convida a desacelerar e a olhar para dentro, algo que muitas vezes evitamos na correria do dia a dia.
Esse período mais escuro e frio pode despertar sensações como tristeza, cansaço e até uma certa perda de propósito. Nesse momento muitas pessoas procuram meu consultório. Mas será que isso é algo negativo? Nem sempre. Pode ser apenas o corpo e a alma pedindo descanso, pedindo uma pausa para se reorganizar. Assim como a natureza parece “parar” no inverno para florescer na primavera, nós também precisamos desses momentos de quietude para nos renovar.
No entanto, é importante diferenciar o recolhimento saudável do isolamento que faz mal. Ficar mais introspectivo é natural nessa época, mas quando isso se transforma em um distanciamento profundo, falta de energia para viver ou uma tristeza constante que não passa, pode ser um sinal de que algo precisa de mais atenção. A chamada “depressão sazonal” é real e pode surgir justamente pela falta de luz solar e pelo impacto que isso tem no nosso humor. Nesse momento é importante procurar ajuda de um psicólogo.
Ainda assim, nem toda melancolia precisa ser tratada como doença. Às vezes, estamos apenas atravessando um inverno interno, um momento mais sensível e reflexivo. E tudo bem.
Para passar por esse tempo com mais consciência e cuidado, algumas práticas simples podem ajudar: permitir-se momentos de silêncio, escrever sobre o que se sente, acolher o que surge sem julgamento, criar pequenos rituais de aconchego — como tomar um chá quente, acender uma vela, ler algo que nutra o coração. Também é importante lembrar que tudo é ciclo. O inverno não dura para sempre, e ele prepara o terreno para a primavera florescer.
Habitar essa estação com presença e sensibilidade pode ser uma forma bonita de cuidar da alma. Em vez de lutar contra o frio, podemos aprender a escutá-lo. Às vezes, o que parece estagnação é só um tempo necessário de preparação.
*Dra Andrea Beltran é psicóloga analítica junguiana, formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Atua no acompanhamento de processos individuais com foco em autoconhecimento, vínculo e desenvolvimento emocional. Seu trabalho valoriza narrativas pessoais e vínculos profundos, buscando acolhimento genuíno em cada jornada.
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GIOVANNA REBELO ALVES
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