O turismo de aventura deixou de ser um segmento técnico e restrito a profissionais preparados para se transformar em um mercado de massa em rápida expansão. Trilhas desafiadoras, voos livres, escaladas e atividades radicais viraram tendência entre viajantes em busca de vivências marcantes ou, em muitos casos, de conteúdos de impacto para redes sociais. O problema é que essa demanda crescente não foi acompanhada por estrutura, fiscalização e regulamentação adequadas.
Para a especialista em turismo Santuza Macedo, CEO da Diamond Viagens, o Brasil vive um momento de alerta: “A adrenalina virou conteúdo. E o que deveria ser uma experiência técnica, segura e planejada virou mais uma mercadoria visual. Estamos comercializando riscos como se fossem cenários de cinema, sem critério, sem preparo e sem respaldo técnico”, afirma.
De acordo com a Adventure Travel Trade Association (ATTA), o turismo de aventura cresce em média 20% ao ano na América Latina. No Brasil, destinos como a Pedra da Gávea (RJ), a Chapada dos Veadeiros (GO) e a Serra do Cipó (MG) recebem milhares de visitantes em busca do “extraordinário”. O problema? Boa parte dessas experiências é oferecida por empresas não regulamentadas, conduzidas por profissionais despreparados ou executadas sem protocolos de segurança mínimos.
“A sociedade mudou. As pessoas querem viver algo fora da rotina, se superar, registrar o momento perfeito. Mas essa busca por intensidade exige preparo técnico, planejamento e consciência de risco. Vender uma trilha ou um salto radical como se fosse uma selfie em frente ao mar é uma irresponsabilidade”, alerta Santuza.
Atualmente, o Brasil não conta com uma legislação federal específica para regulamentar atividades de risco no turismo. O Cadastur, sistema do Ministério do Turismo, exige o registro de agências e condutores, mas na prática, a falta de fiscalização facilita a atuação de empresas improvisadas. A formação técnica dos guias também é descentralizada e, muitas vezes, inexistente.
Para a especialista, é urgente criar um marco legal para o turismo de aventura e alto risco. “O setor cresce sem limites e opera em uma espécie de zona cinzenta. Não há padronização, não há protocolos nacionais e a responsabilidade se dissolve entre prestadores, consumidores e poder público. Precisamos agir antes que tragédias se tornem rotina”, ressalta.
Segundo Santuza, a cultura da performance digital distorce o turismo de aventura. “O turista precisa deixar de buscar adrenalina para mostrar nas redes e passar a buscar experiências com propósito. Segurança não pode ser um detalhe. A viagem só é inesquecível quando termina bem”, pontua.
Ela alerta que o encantamento digital tem levado pessoas despreparadas a se colocarem em situações de extremo risco. “É comum ver trilhas difíceis sendo divulgadas como passeios simples. Isso induz ao erro. O consumidor precisa desconfiar de promessas fáceis e imagens esteticamente perfeitas”, explica.
Santuza Macedo encerra com um apelo à corresponsabilidade. “Se queremos consolidar o Brasil como potência do turismo de experiência e natureza, precisamos garantir que o extraordinário também seja seguro. Isso exige maturidade do mercado, seriedade do poder público e consciência do turista. Viver o intenso é possível — desde que seja com segurança e responsabilidade”.
Sobre Santuza Macedo:
Santuza Macedo é empreendedora e especialista em turismo e cruzeiros. CEO da Diamond Viagens, possui vasta experiência internacional e atuou em Orlando (EUA), com foco em experiências personalizadas para turistas brasileiros. Hoje, promove roteiros e excursões no Brasil, com destaque para o Sul Fluminense, além de oferecer consultoria para quem deseja ir para Orlando.
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PAULO NOVAIS PACHECO
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