Em Pau dos Ferros, no interior do Rio Grande do Norte, os estudantes da Escola Estadual em Tempo Integral Dr. José Fernandes de Melo estão redescobrindo o prazer da leitura de uma forma diferente: com cardápios, bandejas e porções de crônicas e poesia. O projeto Suchá Literário transforma a biblioteca da escola em um verdadeiro restaurante literário, onde o prato principal são obras de autores clássicos, como Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, servidas de maneira lúdica e criativa.
A iniciativa vem na contramão de um cenário preocupante: segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2024, mais da metade dos brasileiros (53%) não leram nenhum livro nos três meses anteriores ao levantamento, e o desinteresse cresce entre os jovens. Na escola potiguar, a resistência inicial deu lugar à curiosidade, e hoje os próprios alunos assumem a liderança desse movimento, criando poesias, apresentações teatrais e músicas a partir das obras lidas. O projeto também aproxima as famílias, contribui para o desenvolvimento do projeto de vida dos estudantes e transforma a leitura em uma experiência viva e significativa — um reflexo dos pilares do ensino em tempo integral.
“Ver os estudantes descobrindo o prazer da leitura e se envolvendo em cada detalhe do projeto foi emocionante. Aos poucos, eles superaram a resistência inicial e passaram a se expressar por meio de poemas, apresentações e músicas, mostrando que a literatura pode ser acessível e encantadora. O Suchá Literário transformou nossa biblioteca em um espaço dinâmico de criação e expressão,” destaca Silvana Sampaio, professora regente do laboratório de informática da escola e uma das responsáveis pela iniciativa.
Para a estudante Thauany de Aquino Moreira, de 15 anos, a mudança foi marcante: “Antes de entrar na escola, eu não gostava de ler. Mas com os Suchás, tudo mudou. Descobri o prazer da leitura e comecei a mergulhar em livros que jamais imaginei. O projeto tornou a escola um lugar mais acolhedor, onde nos sentimos ouvidos e valorizados.”
Literatura servida em doses de criatividade
Na biblioteca, o ambiente se transforma para receber o Suchá Literário. Mesas e estantes decoradas, cardápios personalizados que convidam os estudantes a “degustar” poemas, contos, crônicas e biografias de autores escolhidos para o projeto. Durante esse momento especial, os estudantes participam de rodas de leitura, debates e pesquisas sobre a vida e a obra dos escritores.
A estudante Flávia Gabrielly Dias da Costa, de 16 anos, conta que o contato com a literatura ganhou novos sentidos: “conhecer a vida e a trajetória de autores que admiro despertou meu interesse logo de cara. O Suchá me ajudou a perder a timidez e a encontrar minha voz. Hoje, falar sobre livros com os colegas amplia meu olhar sobre o mundo e me ajuda a pensar no futuro que quero construir.”
Cada série do Ensino Médio é responsável por criar uma apresentação de encerramento, que pode ser uma poesia autoral, uma peça teatral, uma música ou até desenhos inspirados nas leituras. O processo estimula a criatividade, o trabalho em equipe e a liderança estudantil, elementos centrais da metodologia do ensino em tempo integral.
O impacto já pode ser sentido na procura crescente por livros na biblioteca e na participação dos jovens em atividades culturais. Para 2025, houve a ampliação do projeto, incluindo um autor novo a cada bimestre e incentivando a produção autoral dos estudantes como parte do seu projeto de vida.
A transformação promovida pelo projeto aparece também nos relatos de quem viveu essa mudança de perto. Para outra estudante, Lívia Iargles da Silva Regis, de 16 anos, o Suchá foi uma porta de entrada para um universo totalmente novo: “Antes, eu detestava ler. Mas o projeto me mostrou um outro lado da literatura: não só os livros, mas a história por trás de cada autor. Passei a me identificar com suas trajetórias e a refletir sobre a minha própria. Foi como abrir uma nova janela para entender quem eu sou e o que quero ser.”
Segundo o diretor da Escola, Daniel Joca, por meio dos componentes que integram os itinerários formativos do Ensino Médio Integral, a escola mostra que ciência, cultura e tecnologia são caminhos poderosos para formar jovens líderes, com projetos que ultrapassam a escola e ganham visibilidade em feiras científicas e exposições nacionais.
“Ver os alunos assumindo o papel de protagonistas, criando e compartilhando conhecimento, confirma que a educação transforma realidades. O Suchá Literário é um exemplo de como é possível aproximar a literatura do cotidiano, envolver as famílias e fortalecer a construção do projeto de vida de cada estudante,” ressalta o diretor.
Sobre o Ensino Médio Integral
O Ensino Médio Integral é uma proposta pedagógica de educação interdimensional, moderna, nacional, pública e gratuita. A partir de uma modalidade de ensino que se conecta à realidade dos jovens e ao desenvolvimento de suas competências cognitivas e socioemocionais, propõe a formação integral dos estudantes. Trabalha pilares como projeto de vida, aprendizado na prática, tutoria estudantil, protagonismo juvenil, acolhimento, orientação de estudos e eletivas, que promovem a formação completa do estudante, junto aos componentes curriculares já previstos na BNCC. Está presente em cerca de 6 mil escolas em todo o país, beneficiando mais de 1 milhão de estudantes.
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
VANESSA MIRANDA MENEZES
[email protected]