Durante a gestação, a placenta é a estrutura responsável por nutrir o feto e garantir o seu desenvolvimento. Mas, no Hospital e Maternidade Octaviano Neves, da Hapvida, em Belo Horizonte, ela ganha um novo significado após o nascimento. Nas mãos da técnica de enfermagem Bruna Veloso, transforma-se em uma lembrança afetiva, que eterniza, de forma delicada, o momento da chegada de um novo bebê.
A ideia surgiu de forma espontânea durante um parto normal, quando uma paciente solicitou o chamado “print de placenta” ou “árvore da vida”, uma prática ainda pouco conhecida, mas já praticada em alguns hospitais da rede em outros estados. “A partir dali, comecei a me encantar”, conta a profissional.
Desde então, a prática passou a fazer parte da sua rotina nos plantões. Com sensibilidade e agilidade, ela realiza a impressão artística em papel especial. O processo leva de três a cinco minutos e pode ser feito com o próprio sangue da placenta ou com tintas coloridas, dependendo da escolha da mãe. “Quando a paciente quer algo mais elaborado, como um print do bebê arco-íris, por exemplo, eu capricho ainda mais nos detalhes finais, nas cores, nas escritas”, explica.
Bruna tem o cuidado de limpar a placenta e realçar seus traços naturais antes de aplicar a tinta, para preservar os detalhes. A folha é posicionada cuidadosamente sobre o órgão e pressionada com as mãos, revelando uma imagem que remete à forma de uma árvore, símbolo da vida e da conexão.
A técnica de enfermagem explica que é uma forma de manter viva a memória do nascimento. “É um momento único. Quando entrego o print finalizado, com os detalhes, as mães ficam emocionadas. Já teve paciente que até transformou a arte em tatuagem.” Outras, segundo ela, emolduram a lembrança e, anos depois, enviam fotos com os filhos já crescidos ao lado do quadro.
Desde que começou a produzir os prints, Bruna já presentou inúmeras mães, sendo realizada em praticamente todos os partos em que atua. Quando não está diretamente envolvida, colegas e médicos a chamam para garantir que nenhuma paciente fique sem a lembrança.
A prática ganhou apoio de toda a equipe do hospital, que, inclusive, contribuiu com doações das primeiras tintas e materiais. “O mais bonito é ver que não só as mães se encantam, mas também os acadêmicos, os novos profissionais que chegam e aprendem. Eu sempre ensino como fazer, para que outras pessoas possam dar continuidade mesmo quando eu não estiver no plantão”, relata emocionada.
Além do caráter artístico e afetivo, a enfermeira segue todos os protocolos de segurança no manuseio da placenta, respeitando as orientações hospitalares e utilizando equipamentos de proteção individual.
A fotógrafa Johara Ferreira de Souza Rates, mãe do pequeno Oliver de Souza Rates, nascido em 3 de maio de 2025, foi uma das muitas mulheres que se emocionaram com o gesto. Após nove horas tentando o parto normal e precisando recorrer à cesariana, ela se viu acolhida por uma equipe sensível e atenciosa. “Eu estava com medo da cirurgia, cheia de dores. A enfermeira Bruna começou a conversar conosco, perguntando sobre o tema do quartinho, as cores... achei que fosse apenas para nos distrair. Mas, depois, ela nos surpreendeu com a arte da placenta. Ficamos profundamente tocados”, relata.
Para Johara, a lembrança representa mais do que uma imagem bonita: é um símbolo de fé, acolhimento e afeto. “Foi o cuidado de Deus em nossa vida traduzido num gesto. Transformou um momento de dor e apreensão em algo leve, colorido e cheio de significado. Eu, que sempre tive afinidade e história com a arte, fui marcada por ela no momento mais importante da minha vida.” O quadro, segundo ela, será emoldurado e já faz parte do quartinho do bebê. “Nunca vamos esquecer esse carinho.”
De acordo com Larissa Carvalho, gerente de enfermagem do Hospital Maternidade Octaviano Neves, as ações de acolhimento — como o carimbo da placenta — têm um papel essencial tanto para os pacientes quanto para a equipe assistencial. “Essas práticas contribuem para tornar o momento do nascimento ainda mais especial, fortalecendo o vínculo entre a família e a equipe de saúde, além de promover um cuidado mais acolhedor e humanizado”, destaca.
Nesse cenário, o tripé da gestão local exerce um papel decisivo ao incentivar e apoiar iniciativas como essa dentro da instituição. “Ao reconhecer e valorizar essas ações, a gestão promove um ambiente de trabalho mais engajado e inspirador, no qual os profissionais percebem que suas atitudes diárias impactam positivamente a experiência dos pacientes — e também favorecem seu próprio bem-estar e satisfação no trabalho”, conclui.
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LORRAINE GABRIELLE SILVEIRA SOUZA
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