Durante muito tempo, pedir demissão era sinônimo de fechar as portas definitivamente em uma empresa. Mas, nos últimos anos, um fenômeno silencioso tem ganhado força no mercado de trabalho: o efeito boomerang. Profissionais que saíram e retornam meses ou até anos depois para assumir novas posições no mesmo local de trabalho – e, muitas vezes, em cargos mais elevados.
Nos Estados Unidos, um estudo da Visier realizado com 7 milhões de contratações em grandes companhias identificou que 28% das novas contratações eram boomerang employees, como são chamados os ex-colaboradores que retornam à companhia.
De acordo com Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, o retorno não é só comum, mas também estratégico para a carreira. "É uma mudança de comportamento. Antes, retornar para uma empresa era considerado um sinal de arrependimento. Hoje, muitas vezes, é visto com maturidade: o profissional sabe o que quer, se identifica com o propósito e se sente preparado para os novos desafios, no mesmo lugar", afirma.
O que motiva o retorno
O fenômeno tem várias raízes. Uma das principais delas, diz Ana Paula, é a segurança de retornar para um ambiente conhecido. "Com a alta rotatividade do mercado e transformações dentro das organizações, muitos profissionais enxergam que, apesar dos motivos da saída, a empresa anterior ainda tem aspectos atraentes, às vezes até mais do que antes, o que ajuda a reavivar o sentimento de pertencimento e vontade de retornar. É mais seguro muitas vezes e já experimentado, a oferta de uma nova oportunidade nem sempre entrega o prometido e voltar pode ser estratégico para o profissional.", explica.
Outro ponto é o protagonismo da gestão de pessoas nas empresas hoje. "Há mais possibilidades de acolhimento e desenvolvimento nas empresas, além da revisão de políticas internas, atraindo e ‘reatraindo’ bons talentos com quem tiveram uma boa experiência. É um movimento estratégico para os dois lados."
Além disso, o amadurecimento profissional pesa a favor do fenômeno. No caso dos boomerangs brasileiros, por exemplo, de acordo com a CEO do Infojobs "Para a recontratação ambos os lados devem estar abertos a conversar e com um bom relacionamento profissional. Esse caminho pode ser uma maneira eficiente de trazer alguém que já conhece a cultura da empresa, o que reduz o tempo de adaptação e acelera resultados", comenta Ana Prado.
O boom no Brasil
Manter as portas abertas e um bom relacionamento entre profissional e empresa é o sinal de "volte, você será bem-vindo" necessário para aproveitar futuramente, analisa a CEO.
"É comum que um profissional que saiu para um desafio em outra empresa retorne com mais experiência e habilidades, inclusive de mercado, e consiga contribuir em um novo patamar. Por isso é fundamental encerrar os ciclos profissionais com inteligência emocional e cortesia."
Ana aponta ainda que, em uma época de valorização da experiência do colaborador, a recontratação pode funcionar como um tipo de termômetro sobre a reputação interna da empresa. "Se a pessoa tem a intenção de voltar, isso diz muito sobre como foi tratada lá atrás", acredita ela.
Ana afirma ainda que, na verdade, o que estamos vivendo é a era do trabalho fluido. O crescimento do fenômeno está associado a uma visão da carreira muito mais flexível e aberta a recomeçar. "Vemos cada vez mais esse movimento: carreiras que nascem em ciclos, não em escadas. Você pode sair, aprender, errar, voltar, e isso ser valorizado", analisa Ana.
Por fim, a CEO do Infojobs deixa um conselho para os profissionais e empresas que ainda resistem a essa tendência. "Deixar o ego de lado e olhar para os lugares que você já passou, pode ajudar a enxergar novas oportunidades interessantes de crescimento. Enquanto para as empresas, o talento que procuram lá fora também já pode ter passado pela equipe. Contratar alguém que saiu, mas que ainda tem coisas a contribuir, pode ser um bom investimento — é um sinal de que ambos estão preparados para o futuro das relações de trabalho. Vale sempre se recordar do "Deixe as portas abertas", a relação pode ser retomada."
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PEDRO GABRIEL SENGER BRAGA
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