Professora tem mal súbito e morre durante reunião em colégio. Professora é agredida por aluno após repreensão por uso de celular. Professora morre após passar mal em colégio estadual. Essas foram notícias que preencheram as páginas de jornais on-line e as redes sociais nas últimas semanas e que marejaram meus olhos de professora. Não conhecia as docentes, mas conheço o que é ser professor no Brasil.
Gostaria de que a pauta trazida aqui fosse a educação libertadora freireana que promove o diálogo, a reflexão, a autonomia e o protagonismo do educando. Ou a escola como espaço de emancipação e, ainda, o professor como agente de transformação. Mas, diante das notícias que se fizeram presentes, precisamos refletir sobre o ser professor hoje em nossa sociedade.
Há muito tempo, a profissão professor não tem status e reconhecimento ou causa admiração na sociedade. Há muito tempo também o professor exerce jornadas exaustivas de 40h ou 60h, enfrenta salas de aula abarrotadas, escolas sem estrutura, falta de recursos, prepara suas aulas e faz correções de tarefas e avaliações em casa, sem ser remunerado ou receber hora-extra por isso. E, se tratando de professoras mulheres, a jornada ainda é mais extenuante, pois há o cuidado com a casa, filhos, família.
Sem reconhecimento, formados em licenciaturas pouco valorizadas, recebendo salários baixos, e tendo cada vez mais tarefas para cumprir, o professor tem pouco tempo para pesquisas, estudos, planejamento. Pouco tempo resta para reflexões sobre a escola, estudantes, ensinar, aprender, comunidade escolar, sociedade. Não há tempo para estabelecer laços de afeto e aprendizagem com o aluno.
Observando o que significa ser professor no Brasil, não causa nenhum estranhamento as pesquisas e notícias que trazem o apagão de professores como uma realidade que enfrentaremos em breve: 58% dos alunos de licenciaturas abandonaram a universidade antes de concluir o curso, segundo o Censo da Educação Superior de 2022. Se esse índice se mantiver, em 15 anos não teremos professores suficientes para lecionar na educação básica. E não há pé-de-meia que dê jeito nisso: o problema exige solução muito mais complexa diante de uma sociedade que não valoriza o conhecimento, a escola, o professor.
A escola, que deveria propor uma educação libertária e a contestação das ideologias, preconceitos, abismos sociais, estereótipos, acaba reproduzindo e reforçando todas as mazelas e problemas que imprimem marca na nossa sociedade. A escola se cala diante do seu papel transformador. E, junto com a sociedade, cala o professor, que passa a ser fazedor de tarefas, cumpridor de prazos, preenchedor de sistemas e plataformas.
A escola, assim como a sociedade, está adoecida. A escola, assim como a sociedade, está adoecendo os seus professores. Não podemos banalizar agressões, jornadas exaustivas e mortes no trabalho. Não podemos nos calar enquanto sociedade diante da precarização e sabotagem da educação e da profissão professor. Silvaneide, presente. Rosane, presente. Professor, presente. Ainda estamos aqui.
*Deisily de Quadros é doutora em Estudos Literários pela UFPR e professora do Setor de Estágio do Centro Universitário Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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