Escuta, acolhimento e intervenção precoce transformam vidas de crianças com autismo

No Dia do Orgulho Autista, histórias de Guilherme, João Victor e Benjamin reforçam a importância de uma rede de apoio e de profissionais que enxergam além do diagnóstico

JúLIA BOZZETTO
18/06/2025 11h08 - Atualizado há 10 horas

Escuta, acolhimento e intervenção precoce transformam vidas de crianças com autismo
Divulgação/Potência

Mais de 2,4 milhões de brasileiros estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o Censo TEA 2022, realizado pelo IBGE. Apesar da crescente conscientização, muitas famílias ainda enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico precoce e acessar um acompanhamento sensível e integrado. As consequências podem se estender por toda a infância — e impactar diretamente a vida adulta.

As histórias de Guilherme, João Victor e Benjamin mostram como o olhar atento da família e o envolvimento de uma rede de apoio comprometida podem mudar completamente uma trajetória.

Quando alguém finalmente enxerga você

A professora Maiara de Oliveira Pereira começou a perceber, ainda nos primeiros meses de vida do filho Guilherme, que algo não ia bem. “Ele dormia pouco, tinha refluxos constantes, não reagia ao nome e apresentava comportamentos repetitivos”, conta. Mesmo buscando ajuda profissional, sentia que o atendimento era mecânico e impessoal. A confirmação do diagnóstico de TEA, além de TDAH e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), veio por volta dos 3 anos, após a observação cuidadosa de uma professora na escola pública.

A transformação começou quando ela encontrou uma equipe acolhedora e integrada. “Pela primeira vez, alguém viu a mim e ao Guilherme. Isso me deu forças. Fiz uma pós em Análise do Comportamento e passei a entender melhor o que ele precisava. Hoje, somos parceiros nessa jornada.” Atualmente, Guilherme tem 6 anos, lê, escreve, participa das aulas e é uma criança feliz. “Só conseguimos isso porque alguém nos acolheu com escuta, conhecimento e respeito”, diz Maiara.

Respeitar o tempo de cada criança

A pedagoga Cristina Oliveira Mazzei enfrentou um longo caminho até garantir o suporte adequado ao filho João Victor, hoje com 9 anos. “O acolhimento que recebemos foi fundamental. Meu filho pôde se desenvolver com segurança e sem pressões. A diferença está em quem entende que cada criança tem seu tempo, sua forma de aprender, de expressar e de se relacionar”, relata. Assim como Maiara, Cristina também se especializou em Análise do Comportamento para compreender melhor o universo do filho. “Nenhuma família deveria passar por isso sozinha. Quando nos sentimos acompanhados, tudo se torna mais possível.”

Escuta que transforma

Aos 4 anos, Benjamin também carrega uma história marcada pela atenção precoce. Desde os primeiros meses, sua mãe, Monique Priscila da Fonseca Oliveira, notou comportamentos diferentes: ele não sentava, quase não engatinhava e não respondia ao nome. Junto ao pai, Lincon Reis Oliveira, procurou ajuda e, mesmo antes de um diagnóstico fechado, iniciou terapias com uma equipe multidisciplinar.

Hoje, Benjamin frequenta o ensino regular, está desfraldado, reconhece cores, números e letras, tem boa coordenação motora e se comunica de forma funcional. “Nosso maior objetivo é que ele seja feliz e tenha as mesmas oportunidades que qualquer outra criança. A gente luta por isso todos os dias”, afirmam Monique e Lincon.

Muito além da técnica

A neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, que acompanha Benjamin desde o início, reforça que o vínculo e a escuta ativa são tão importantes quanto o conhecimento técnico. “A identificação precoce pode mudar o rumo da vida de uma criança. Mas, para isso, precisamos de profissionais comprometidos em enxergar para além do laudo e da estatística.” Silvia também é mãe atípica e defende a atuação em rede como essencial. “Família, escola e profissionais precisam caminhar juntos. A construção do desenvolvimento passa pelo cotidiano”.

Orgulho que inspira

O Dia do Orgulho Autista, celebrado em 18 de junho, é um convite à reflexão sobre inclusão, respeito e pertencimento. Mais do que uma data simbólica, é uma oportunidade de dar visibilidade às potências únicas de cada criança e à importância de políticas públicas e serviços de qualidade para a infância neurodivergente.

“Cada história como a do Guilherme, do João Victor ou do Benjamin mostra que, quando há escuta, cuidado e uma rede que apoia, o desenvolvimento acontece. E com ele, a esperança”, conclui Silvia.


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