Rolagem sem fim: o impacto do “brain rot” na saúde mental
Psicóloga cognitivo-comportamental, Karine Brock, comenta o fenômeno do consumo excessivo de vídeos curtos, que está afetando a concentração, o humor e até as relações familiares
AS
13/06/2025 11h20 - Atualizado há 16 horas
Comunicação Karine Brock
Você se pega rolando o feed do Instagram, TikTok ou YouTube Shorts, sem perceber o tempo passar? Se sim, talvez esteja vivendo os efeitos do chamado brain rot — termo em inglês que, em tradução livre, significa “apodrecimento cerebral”. Longe de ser uma expressão exagerada, esse conceito descreve o desgaste mental causado pelo consumo frequente e desenfreado de conteúdos curtos, rápidos e superficiais. Segundo a psicóloga cognitivo-comportamental (TCC), Karine Brock, o brain rot é uma forma moderna de esgotamento cognitivo. “É um desgaste mental causado pelo uso excessivo de conteúdos digitais rápidos. São vídeos curtos, com rolagem infinita, que oferecem estímulos constantes, mas vazios”, explica. Essa prática alimenta um ciclo viciante: o cérebro se acostuma com recompensas imediatas e começa a rejeitar qualquer atividade que exija esforço mental, como ler, estudar ou simplesmente ficar em silêncio. Dentro da TCC, o brain rot é entendido como resultado de padrões disfuncionais de pensamento e comportamento. “Esse hábito enfraquece a atenção, o planejamento, a autorregulação emocional e reforça a impulsividade. O cérebro entra em um ciclo vicioso de estímulo e gratificação imediata”, afirma a psicóloga. Karine alerta que essa repetição prejudica habilidades cognitivas essenciais, como foco e criatividade, afetando diretamente o rendimento em tarefas escolares, profissionais e até em momentos de lazer. O problema não está restrito a uma faixa etária. Crianças, adolescentes, adultos e idosos estão expostos ao fenômeno. Porém, os mais jovens são os mais vulneráveis. “Crianças ainda estão desenvolvendo suas habilidades de autorregulação emocional. Estímulos digitais intensos afetam diretamente essa construção. E o exemplo dos pais é fundamental — não adianta limitar o uso de telas dos filhos se os adultos estão o tempo todo no celular”, aponta Karine. Ela relata, inclusive, que muitos adolescentes chegam ao consultório com dificuldades de cumprir uma jornada de trabalho ou estudar por tempo prolongado, devido à dependência do celular. A conexão com transtornos como ansiedade, TDAH e depressão é clara. “O consumo desenfreado de conteúdo rápido pode tanto desencadear quanto intensificar esses quadros. Pessoas com predisposição a esses transtornos são ainda mais vulneráveis”, alerta ela. O que parece ser um momento de descanso na verdade pode esconder um cérebro em exaustão. A boa notícia é que há saída. A TCC oferece ferramentas como o registro de atividades, reestruturação cognitiva e o treino de atenção plena (mindfulness) para reverter esse padrão. Voltar a hábitos como a leitura profunda e o silêncio também reprograma o cérebro. “É difícil no início, mas fortalece áreas como memória, empatia, autoreflexão e promove uma sensação de bem-estar muito mais estável”, diz. Para a psicóloga, a chave está no uso consciente da tecnologia. “O problema não é o celular ou a internet, mas o uso automático e desregulado. É possível usar com intenção: planejar horários para postar, responder, pesquisar e definir pausas intencionais para se desconectar”, explica a profissional. Entre as dicas práticas, a especialista recomenda: estabelecer limite de tempo de tela; planejar o uso da internet com objetivos definidos; fazer trocas saudáveis; estimular atividades offline - brincadeiras, leituras, esportes e conversas em família; utilizar aplicativos de controle parental - e também de autorregulação para adultos. Num mundo hiperconectado, desacelerar virou um ato de resistência. E, como afirma Karine, estamos todos vulneráveis ao brain rot. Desconectar um pouco pode ser o passo mais urgente para reconectar com o que realmente importa. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
AMANDA MARIA SILVEIRA
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