Nas últimas quatro décadas, tivemos um impacto significativo na redução das mortes cardiovasculares em homens e mulheres. No entanto, na última década, a trajetória das mortes por doenças cardiovasculares seguiu na direção contrária, mostrando um aumento de 2010 até agora. “Isso é especialmente evidente entre mulheres jovens e para todas as mulheres em geral. Enquanto isso, a conscientização de que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre o sexo feminino diminuiu. Devemos unir forças e continuar educando tanto o público quanto a comunidade médica sobre essa estatística crucial. O momento de agir é agora”, afirmou a professora de Medicina e diretora de Pesquisa Cardiovascular Intervencionista e Ensaios Clínicos do Mount Sinai School of Medicine, em Nova York, Roxana Mehran. Ela concedeu uma entrevista exclusiva para a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo por conta da sua participação na conferência de abertura do 45º Congresso da SOCESP, que será realizado nos dias 19, 20 e 21 de junho, no Transamérica Expo Center, em São Paulo/SP.
Segundo o Posicionamento sobre Doença Isquêmica do Coração do Brasil, os infartos aumentaram 23,2% e principalmente entre mulheres jovens (de 15 a 49 anos). “Estamos observando essa tendência em todo o mundo, inclusive nos EUA e no Canadá. Existem várias razões, incluindo melhores ferramentas de diagnóstico e uma mudança nos padrões de tabagismo: os homens estão fumando menos, enquanto as mulheres (especialmente as muito jovens) estão fumando e vaporizando mais”, explicou Roxana Mehran.
No Brasil, as mortes por infartos ainda liberam as doenças cardiovasculares entre os homens. Já para as mulheres o AVC segue em primeiro lugar. Questionada sobre qual hipótese a professora traçaria para essa diferença entre gêneros, ele respondeu que ainda há pouco conhecimento sobre os mecanismos e a biologia do AVC em mulheres, pois elas têm sido historicamente sub-representadas em ensaios clínicos, com apenas 25% de participação feminina, em média. “Os estudos pré-clínicos com medicamentos e dispositivos costumam ser feitos apenas em animais machos. Precisamos considerar o sexo como uma variável biológica, indo além dos hormônios sexuais, e entender seu impacto na biologia das doenças. Não me surpreende ver essa diferença nos dados. Vale lembrar que há uma grande relutância em prescrever anticoagulantes para mulheres por medo de sangramentos, além de um subdiagnóstico da fibrilação atrial nelas, entre muitos outros fatores”, contextualizou.
Atualmente existem muitos remédios para o controle de fatores de risco para o coração e conhecimento sobre a importância da prevenção, mas as doenças cardiovasculares seguem liderando o número de mortes no mundo todo. Para a professor do Mount Sinai School of Medicine, ainda estamos atrasados em alcançar os objetivos de controle dos principais fatores de risco e de garantir o acesso a medicamentos para todas as pessoas. “Nossos objetivos no controle da pressão arterial, cessação do tabagismo, manejo dos lipídios, controle do diabetes/glicose, gerenciamento do peso, exercícios, cuidados com a saúde mental, não foram totalmente atingidos e continuam aquém do ideal”, alertou. Para Roxana Mehran é preciso alcançar todas as comunidades se quisermos impactar globalmente as doenças cardiovasculares.
Sobre o Congresso da SOCESP, a professora disse ser uma participante fiel há duas décadas. “O evento desempenha um papel central ao reunir especialistas de todo o mundo para compartilhar conhecimento e experiência em uma abordagem multidisciplinar para melhorar a saúde cardiovascular globalmente. Além disso, é um Congresso onde importantes conexões profissionais resultam em colaborações significativas, levando a estudos, pesquisas e avanços clínicos inovadores”, completou.
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JOSE ROBERTO LUCHETTI
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