Quando a dívida adoece: o drama silencioso dos superendividados no Brasil
Advogado Alexandre Sandim alerta: “As pessoas não estão devendo só dinheiro. Estão perdendo saúde, família e dignidade”
PRISCILA GONZALEZ
27/05/2025 12h38 - Atualizado há 1 dia
Alexandre Sandim
Por trás dos boletos acumulados e dos juros que parecem não ter fim, há uma realidade que poucos enxergam: o sofrimento silencioso de milhões de brasileiros que veem suas vidas serem devastadas pelo superendividamento. Não é apenas uma questão financeira — é uma questão de saúde mental, de dignidade e, muitas vezes, de sobrevivência.
“A maioria das pessoas que me procura não quer só resolver a dívida. Elas querem voltar a viver. Chegam emocionalmente destruídas, no limite, afirma o advogado especializado em Direito Bancário, Alexandre Sandim, que há anos acompanha de perto esse drama social.
O cenário que criou a tempestade perfeita
A combinação de pandemia, desemprego elevado, inflação persistente e juros que ultrapassaram os 13% ao ano criou um ambiente perfeito para que milhões caíssem na armadilha do crédito fácil e caro.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), em abril de 2025, 77,6% das famílias brasileiras estão endividadas — um dos maiores índices da série histórica. Já o levantamento mais recente do Serasa, de março de 2025, mostra que 75,7 milhões de brasileiros estão inadimplentes, o que representa cerca de 46,6% da população adulta do país.
Superendividamento: a face invisível da saúde mental
Embora ainda faltem levantamentos oficiais específicos do governo, diversas pesquisas acadêmicas e relatos de profissionais de saúde mental apontam uma forte correlação entre endividamento e adoecimento emocional. Ansiedade, depressão, insônia, síndrome do pânico e, em casos extremos, ideação suicida são cada vez mais relatados em consultórios de psicólogos e psiquiatras.
“Atendi uma senhora que me disse: ‘Doutor, não é a dívida. É a vergonha. Eu não aguento mais não atender o telefone, mentir para minha família e fingir que está tudo bem’”, conta Sandim.
O advogado relata que não são raros os casos em que clientes chegam aos prantos, completamente fragilizados emocionalmente. “Muitos desenvolvem gastrite, insônia, tomam ansiolíticos, antidepressivos. Outros começam a se isolar da família, dos amigos, perdem o emprego e a autoestima. A dívida se torna uma doença que corrói a pessoa por dentro.”
O ciclo cruel do superendividamento
Na tentativa de se livrar da bola de neve, muitas pessoas fazem novos empréstimos — geralmente com juros ainda mais altos —, acreditando que isso resolverá o problema. Na prática, só aprofundam o buraco.
“O sistema financeiro é desenhado para isso. Não é só falta de educação financeira, é uma estrutura que empurra o consumidor para o crédito fácil, com juros abusivos e contratos pouco claros”, alerta Sandim.
A Justiça como caminho para o recomeço
Desde 2021, a Lei do Superendividamento (Lei nº 14.181/2021) oferece um caminho legal para quem está afundado em dívidas, desde que seja um consumidor de boa-fé.
“É muito comum que as pessoas se culpem, se sintam fracassadas. Mas a verdade é que o sistema é cruel e, muitas vezes, empurra o consumidor para uma situação que ele não sabe mais sair sozinho”, explica.
A lei permite que a pessoa endividada ingresse na Justiça para renegociar todas as suas dívidas de consumo de uma só vez, preservando um valor mínimo para despesas básicas, como moradia, alimentação, transporte e saúde.
“Não se trata de perdão da dívida. É um recomeço. A pessoa paga aquilo que pode, de forma digna e sem abrir mão do essencial para viver”, esclarece o advogado.
Vergonha, silêncio e isolamento: o outro lado da dívida
Para Sandim, a vergonha é um dos maiores obstáculos no caminho de quem quer sair do endividamento. “Eles não falam nem dentro de casa. O marido não sabe que a esposa está devendo, os filhos não sabem que os pais estão sem dinheiro nem para o mercado. E essa vergonha paralisa. A pessoa começa a achar que não merece ajuda, que está sozinha, que a vida acabou”, relata.
Ele faz um alerta: “Dívida não é crime. Dívida não é motivo de vergonha. É uma circunstância — e toda circunstância tem solução, desde que a pessoa tenha informação e orientação correta.”
Como saber se você precisa de ajuda?
Sinais de alerta da saúde mental ligada às dívidas: - Insônia constante pensando em dinheiro
- Crises de ansiedade ao receber ligações de cobrança
- Isolamento social por vergonha ou medo de gastar
- Discussões frequentes na família por conta de dinheiro
- Uso excessivo de ansiolíticos ou antidepressivos
- Desânimo constante, falta de motivação
- Pensamentos de desistência da vida por não enxergar saída
Se você se identificou com três ou mais desses sinais, é fundamental buscar ajuda — tanto jurídica quanto psicológica.
O que a Lei do Superendividamento garante? - Direito de renegociar todas as dívidas de consumo em uma única audiência judicial
- Preservação de um valor mínimo para despesas básicas
- Suspensão de cobranças abusivas e de juros excessivos
- Proibição de assédio de cobrança
- Condições de pagamento justas, proporcionais à sua capacidade
Dívidas que não entram na lei: - Pensão alimentícia
- Tributos e impostos
- Multas e dívidas contraídas de má-fé
Você não está sozinho. Sua saúde mental vale mais do que qualquer dívida.
Se este conteúdo falou diretamente com você, saiba que há saída. A depressão financeira e a ansiedade por dívidas têm tratamento e solução legal. Procure apoio.
Lembre-se: dívida não define quem você é. Com informação, apoio e a lei a seu favor, é possível recuperar sua dignidade financeira e sua saúde mental. O primeiro passo é romper o silêncio e pedir ajuda.
Instagram: @alexandre.sandim.adv
Site: www.sandimadvogados.com.br Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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