De acordo com professora da FEI, perda da biodiversidade pode afetar futuro da medicina

Extinção de espécies pode significar a perda definitiva de compostos que ainda salvariam vidas

GABRIEL BACCI
15/05/2025 10h13 - Atualizado há 1 dia

De acordo com professora da FEI, perda da biodiversidade pode afetar futuro da medicina
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Além de um patrimônio natural, a biodiversidade é uma aliada estratégica da ciência e a perda contínua dessa diversidade compromete diretamente o desenvolvimento de novos medicamentos. Segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 50% dos medicamentos modernos têm origem em compostos naturais. A aspirina, por exemplo, foi desenvolvida a partir da casca do salgueiro (Salix alba), enquanto o taxol, usado no tratamento de câncer, veio da árvore Taxus brevifolia. Já o captopril, eficaz contra hipertensão, foi inspirado em componentes do veneno da jararaca. São exemplos de como cada uma dessas espécies, que ainda não estão em extinção, mas em estado de vulnerabilidade, carrega um potencial terapêutico único, que pode desaparecer antes mesmo de ser descoberto.

Andreia Giannetti, professora de Engenharia Química da FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros), destaca que a natureza é um verdadeiro laboratório vivo, onde evoluções químicas e biológicas ocorrem há milhões de anos. “A extinção de uma espécie antes que seja estudada é como queimar um livro inédito: perdemos moléculas, enzimas e genes que poderiam originar medicamentos, vacinas ou biotecnologias inovadoras”, afirma.

Segundo a professora, além das plantas e animais, microrganismos também são peças-chave para a medicina e a indústria. Bactérias do gênero Streptomyces são responsáveis por mais de dois terços dos antibióticos em uso clínico. Fungos endofíticos são capazes de produzir substâncias com ação anticâncer, e enzimas de microrganismos são usadas em tratamentos, testes laboratoriais e terapias genéticas. No entanto, apenas uma fração dos microrganismos existentes foi estudada — e muitos estão desaparecendo junto com seus habitats.

Por abrigar parte dos biomas mais ricos do planeta como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, o Brasil está no centro desse debate. No entanto, essa biodiversidade vem sendo perdida em ritmo acelerado. Segundo dados do MapBiomas, o país perdeu cerca de 20% da vegetação nativa desde 1985, e mais de 1.300 espécies estão ameaçadas de extinção, de acordo com o ICMBio. “Essas regiões têm um potencial gigantesco para gerar inovação, mas enfrentam sérios desafios: escassez de investimentos em pesquisa, dificuldades de acesso e entraves legais relacionados ao uso do patrimônio genético”, explica Andreia.

A professora ressalta que a relação entre biodiversidade e medicina mostra que a natureza ainda guarda respostas para muitos dos desafios da ciência. “A medicina poderá enfrentar um futuro com menos opções terapêuticas, menor capacidade de resposta a doenças emergentes e maior vulnerabilidade à resistência microbiana. Preservar e estudar os ecossistemas brasileiros, portanto, representa uma oportunidade concreta de ampliar o conhecimento científico e desenvolver novas tecnologias voltadas à saúde e à qualidade de vida”, finaliza a professora da FEI.


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GABRIEL LUZZI BACCI
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