Mais um Abril Azul chega ao fim, mas o debate sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda precisa avançar muito além do mês de conscientização. Apesar da crescente visibilidade e dos avanços terapêuticos, a realidade das famílias brasileiras continua marcada por entraves e negações. Um dado alarmante revela o abismo entre o discurso e a prática: 81% das ações judiciais movidas por famílias para obter tratamento com canabidiol (CBD) para crianças e adolescentes com autismo são negadas pelos planos de saúde no estado de São Paulo, segundo levantamento do portal Sechat.
O TEA afeta cerca de 600 mil famílias no Brasil, de acordo com um estudo da Universidade de Passo Fundo (UPF) em parceria com a APAE. Para muitas delas, lidar com crises severas, dificuldades de comunicação e os efeitos colaterais de medicamentos tradicionais é um desafio constante. Nesse contexto, o CBD tem surgido como uma alternativa terapêutica promissora e com menos efeitos adversos — mas ainda inacessível para a maioria.
Empresas como a True Wellness, especializada em terapias com cannabis medicinal, vêm atuando para facilitar o acesso ao tratamento, especialmente por meio da assistência no processo de importação autorizado pela Anvisa.
"Atualmente, estima-se que menos de 10% das crianças no Brasil tenham acesso ao tratamento com CBD. Aos poucos estamos avançando nesse processo, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Nosso objetivo na True Wellness é ampliar esse acesso e, nos próximos anos, impactar um número cada vez maior de famílias, oferecendo uma alternativa segura e eficaz para crianças e adolescentes com TEA", aponta Bruno Nakano, sócio da empresa.
Base científica sólida, mas acesso restrito
Pesquisas recentes reforçam a eficácia do canabidiol. Um estudo conduzido no Hospital Universitário de Brasília (HUB) identificou melhorias em 70% das crianças tratadas com CBD, incluindo maior interação social, redução da agressividade e melhora no sono.
O psiquiatra Dr. Rodolfo Fischer Morelli (CRM-SC 34.921), especializado no uso medicinal da cannabis, explica que o CBD atua modulando o sistema endocanabinoide, que regula funções como humor, sono e resposta imune. “O CBD não se liga diretamente aos receptores, mas modula a liberação de neurotransmissores e impede a degradação da anandamida, uma molécula essencial para o bem-estar”, detalha.
Isso pode resultar em redução da ansiedade, melhora da comunicação e maior controle motor — efeitos extremamente importantes para crianças no espectro. No entanto, ele alerta que o uso precisa ser rigorosamente acompanhado por profissionais. “Doses erradas podem ser ineficazes ou causar efeitos adversos, e o CBD pode interagir com outros medicamentos”, reforça.
O médico também alerta para contraindicações, como em casos de doenças hepáticas graves, e destaca que apenas produtos certificados devem ser utilizados, evitando riscos à saúde.
Transformações reais, apesar dos obstáculos
O caso do pequeno Isaac Gabriel Pedroso José, de seis anos, reforça os benefícios do tratamento. Diagnosticado com TEA, Isaac enfrentava crises severas e pouca interação social. A risperidona, medicamento comumente prescrito, não trouxe resultados positivos.
"Ele ficava agitado e não dormia. Foi um período muito difícil", relata Thaís Pedroso José, mãe de Isaac. Após dois meses de tratamento com CBD, com acompanhamento médico e apoio da True Wellness, a família notou mudanças significativas. "Ele está mais calmo, conseguimos manter conversas e sair de casa sem crises. O apetite dele também melhorou muito", conta.
O futuro do acesso ao CBD no Brasil
Apesar da autorização da Anvisa para comercialização de produtos à base de cannabis desde 2015, o processo ainda é burocrático e o acesso permanece limitado. A maioria das famílias precisa recorrer à Justiça, e muitas vezes sai derrotada como apontam os dados recentes.
A campanha Abril Azul termina, mas o apelo das famílias continua. O mês pode até acabar, mas o direito à saúde e à dignidade de crianças com TEA precisa seguir no centro do debate.
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SANDRO FRAGA LUIZ
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