A relação mãe e filho - atravessada por momentos trágicos como a Doença de Alzheimer e episódios de homofobia - é contada neste solo autoficcional Primavera Cega, com dramaturgia e atuação de Igor Iatcekiw e direção de Alejandra Sampaio e Malú Bazán. O espetáculo estreia no dia 26 de abril na Associação Cultural Zona Franca, onde segue em cartaz até 12 de maio, com apresentações aos sábados e às segundas-feiras, às 20h, e aos domingos, às 18h.
Construído a partir das lembranças pessoais de Iatcekiw, esta história sobre amor, memória e resistência mergulha na relação entre mãe e filho ao longo de três décadas, acompanhando laços de afeto, silêncios impostos e rupturas que ecoam no tempo. Neste percurso, a narrativa atravessa temas como a homofobia, o machismo e a Doença de Alzheimer – que se manifestam de diferentes formas, moldando personalidades, apagando histórias e deixando marcas.
A partir do olhar desse filho, a peça investiga como os padrões herdados da família – e reforçados pela sociedade – se enraízam na identidade pessoal. Histórias não contadas, medos silenciados e afetos interrompidos tornam-se heranças invisíveis. O que não é falado se infiltra nos gestos, nas ausências, nos ciclos que se repetem. O que foi vivido pela mãe ressoa no filho, e suas experiências se entrelaçam como um espelho que reflete não apenas um vínculo familiar, mas a permanência estrutural de diversos tipos de violência.
Ao transitar entre lembranças reais e inventadas, Primavera Cega é um convite à reflexão sobre a força dos laços afetivos e os impactos do preconceito e da intolerância, que atravessam o tempo. Mais do que um resgate de memórias, é uma viagem interior que confronta o protagonista – e o público – com os fantasmas do passado e os limites que ele impõe ao presente.
Sobre a importância de abordar todas essas questões, o autor Igor Iatcekiw diz: “Precisamos falar de amor em tempos de tanto ódio, tanto extremismo. A peça é um ato de coragem e um grito contra a violência e o preconceito, na busca de narrativas que deem novos sentidos a conceitos ultrapassados que ainda se perpetuam na nossa sociedade. O machismo estrutural, que amplifica a violência em diversas frentes, afeta tanto mulheres quanto a comunidade LGBTQIAPN+. Nesse contexto, a homofobia pode ser considerada um produto direto do machismo, que desvaloriza toda e qualquer característica associada ao feminino”.
Processo de Criação
A pesquisa e o desenvolvimento deste trabalho passaram por diferentes momentos de experimentação, desde a escrita inicial até a materialização no palco. Um trabalho quase artesanal. O espetáculo foi moldado por encontros e colaborações fundamentais, que emprestaram seus olhares e sensibilidades para dar corpo à obra. Oficinas, assessorias dramatúrgicas e imersões artísticas fizeram parte desse processo, tornando evidente que o fazer teatral é sempre coletivo, mesmo quando o palco é ocupado por um único ator.
Primavera Cega nasceu em 2016 como um poema, escrito pelo próprio autor, e foi se transformando ao longo dos anos. O projeto teatral começou a ganhar corpo em 2018, quando o autor se encontrou com a atriz e diretora Alejandra Sampaio na Associação Cultural Zona Franca, em São Paulo. A partir desse momento, os primeiros textos foram investigados para experimentação cênica, já com a provocação dramatúrgica do ator, diretor e dramaturgo Kiko Marques.
Em 2019, a participação na oficina Da Ideia à Cena, orientada pela atriz e diretora Malú Bazán, possibilitou novas experimentações compartilhadas com outros artistas. Nos anos seguintes, o processo seguiu em constante transformação. Durante a pandemia (2020/2021), fragmentos do trabalho foram apresentados virtualmente em um projeto coletivo contemplado pela Lei Emergencial Aldir Blanc. Em 2022, a dramaturgia ganhou novas camadas com a colaboração do escritor, jornalista e dramaturgo Denio Maués. No ano seguinte, o autor explorou ainda mais as questões do “feminino” em sua obra, ao lado de dez artistas-criadoras. Em 2024, já com a direção conjunta de Alejandra Sampaio e Malú Bazán, o ator fez um novo mergulho em sala de ensaio que resultou numa abertura de processo reunindo os novos colaboradores que completam a equipe artística do espetáculo.
Agora, em 2025, Primavera Cega chega ao palco como resultado de um processo de anos de pesquisa, muitos encontros, atravessamentos e transformações. Feito com recursos próprios, sem nenhum incentivo público ou edital, o espetáculo carrega não apenas um esforço individual, mas de toda uma rede de afetos que acredita na potência da arte.
Ficha Técnica
Concepção, atuação e dramaturgia: Igor Iatcekiw
Direção: Alejandra Sampaio e Malú Bazán
Provocação dramatúrgica: Denio Maués e Kiko Marques
Design de luz: Adriana Dham
Trilha sonora: Bruno Menegatti
Figurino: Marcelo Leão
Identidade visual: Cristina Cavalcanti / Jiboia Estúdio
Fotografia: Nelson Kao
Parceria: Associação Cultural Zona Franca
Sinopse
A partir de lembranças pessoais autoficcionadas, o solo mergulha na relação entre uma mãe e um filho ao longo do tempo. A história navega por lugares como homofobia, machismo e Doença de Alzheimer, acabando por falar de amor, memória e resistência.
Serviço
Primavera Cega, de Igor Iatcekiw
Temporada: 26 de abril a 12 de maio, aos sábados e às segundas, às 20h, e aos domingos, às 18h
Associação Cultural Zona Franca - Rua Almirante Marques Leão, 378, Bela Vista
São Paulo – SP
Ingressos: R$50 (inteira) e R$25 (meia entrada)
Vendas online em Sympla
Site: www.primaveracega.com
Duração: 65 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Capacidade: 40 lugares
Acessibilidade: sala acessível para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
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DOUGLAS DE PAULA PICCHETTI
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