Fim de programas de diversidade: recolocação de pessoas trans no mercado de trabalho enfrenta mais um desafio  

Comunidade LGBTQIAPN+ aposta na qualificação e em programas voltados para a diversidade, como principal forma de enfrentar o preconceito

LETíCIA ALMEIDA
04/03/2025 16h53 - Atualizado há 6 horas
Fim de programas de diversidade: recolocação de pessoas trans no mercado de trabalho enfrenta mais um desafio  
Foto Rafapress
 

Fim de programas de diversidade: recolocação de pessoas trans no mercado de trabalho enfrenta mais um desafio  

 

Comunidade LGBTQIAPN+ aposta na qualificação e em programas voltados para a diversidade, como principal forma de enfrentar o preconceito

Google, Meta, Walmart, Amazon e McDonald's. Essas são apenas algumas das empresas que, com a recente movimentação do governo americano, optaram por encerrar seus programas de Diversidade, Equidade e Inclusão nos Estados Unidos. O modelo ainda não foi seguido pelas filiais brasileiras, mas já preocupa aqueles que, como Luana Maria, fundadora da Pajubá Tech, encontraram nesses programas uma recolocação profissional e o desenvolvimento de carreira.

Travesti, negra, nordestina e periférica, Luana Maria fundou a Pajubá Tech com o objetivo de proporcionar oportunidades para a comunidade LGBTQIAPN+ em Pernambuco. Moradora de um dos estados que mais matam travestis, Luana concluiu o ensino médio sem perspectivas e buscava formas de começar sua vida profissional. Aos 19 anos, foi a primeira pessoa trans a ingressar no departamento de Saneamento Ambiental no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), após concluir seu primeiro curso técnico.

“Quando completei 22 anos, minha paixão por tecnologia encontrou um novo caminho. Descobri o curso de desenvolvedora Java Full Stack da Generation Br, focado em mulheres e na comunidade LGBTQIAPN+. Foi aí que enxerguei, mais uma vez, a importância de políticas que garantam o direito e o lugar dessas pessoas no mercado de trabalho”, comenta Luana. Após a formação na instituição, a programadora criou a Pajubá Tech, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao empoderamento econômico por meio da tecnologia e inovação. Atua também com advocacy e oferece consultoria em diversidade, equidade e inclusão.

“Este é o objetivo da Generation: mostrar para as populações vulnerabilizadas que eles têm voz e que podem chegar muito mais longe do que acreditam. Nossos cursos são pensados e direcionados para qualificar grandes profissionais, capacitar e oferecer apoios que vão além do ensino. Programas de contratação voltados para a diversidade e inclusão de grandes empresas são uma importante porta de entrada para ingressar em uma grande carreira. Estamos aqui para mostrar que talento e diversidade não são excludentes.”, comenta Andrea Matsui, CEO da Generation Brasil.

Depois de uma breve evolução, esses programas foram grandes responsáveis por recolocar o público LGBTQIAP+, pessoas pretas e mulheres em lugares com pouca ou nenhuma representatividade, abrindo portas e quebrando preconceitos, servindo de inspiração para muitos outros que não se viam nessas profissões ou setores. 

Segundo um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), cerca de 90% das pessoas trans no Brasil recorrem ao trabalho informal por falta de oportunidades no mercado formal. Além disso, a expectativa de vida dessa população gira em torno de apenas 35 anos, reflexo da marginalização social e da violência estrutural. Para reverter esse quadro, iniciativas voltadas à inclusão são essenciais para garantir não apenas emprego, mas também segurança e qualidade de vida para essas pessoas.

“Antes da Generation, eu estava no começo da minha transição de gênero. Trabalhava com telemarketing e, numa luta diária para ser respeitado, estava bem insatisfeito com minha vida profissional e com a transfobia sofrida. Entrei em depressão e, sem apoio da empresa, tive que fazer bicos e pedir muito dinheiro emprestado para pagar as contas. Eu estava cada vez mais afundado, sem perspectiva”, comenta Kadu Furtado, que, após a realização do curso e da recolocação profissional, assumiu a função de Analista de T.I. no Itaú.

Empresas que adotam programas de diversidade e inclusão têm a oportunidade de construir ambientes de trabalho mais inovadores, diversos e produtivos. A implementação dessas iniciativas pode envolver treinamentos para equipes, revisão de políticas de contratação e a criação de redes de apoio e mentoria dentro da empresa. 

Casos de sucesso mostram que empresas que investem na inclusão colhem benefícios tanto internos quanto externos. Segundo um estudo divulgado pela McKinsey & Company, em 2023, empresas avançadas em diversidade de gênero nas equipes executivas têm 39% mais probabilidade de obter desempenho financeiro acima da média em comparação com aquelas no quartil inferior. Para a diversidade étnica, essa probabilidade também é de 39%. Além disso, consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às políticas de responsabilidade social das empresas, tornando a inclusão um diferencial competitivo.

Para que a recolocação de pessoas trans no mercado de trabalho seja efetiva, é fundamental que empresas, governos e sociedade trabalhem juntos para eliminar barreiras e garantir acesso igualitário a oportunidades. Criar um ambiente onde todos possam desenvolver seu potencial de forma plena e digna não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também de inovação e crescimento sustentável para o mundo corporativo.



 

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LETICIA DE ALMEIDA MIRANDA
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